O Brasil produz seis milhões de toneladas do cereal e precisa importar mais cinco milhões para suprir a demanda interna. Cerca de 90% do trigo importado vem da Argentina. No ano passado, o país vizinho colheu nove milhões de toneladas, bem abaixo das 15 milhões de 2007. Mas, para este ano, as confederações rurais argentinas estimam uma queda de mais de 30% na produção de grãos. No caso do trigo, não deve passar de 8,5 milhões de toneladas, que serviriam apenas para consumo interno.
Para o assessor técnico da Confederação de Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Matheus Zanella, é preciso estar preparado para uma provável suspensão das exportações de trigo argentino.
? É muito difícil passar por isso sem sofrer impactos. Com esse cenário, os preços do trigo devem subir e o governo brasileiro precisa estar preparado ? afirma.
No entanto, a queda na produção argentina não preocupa o governo brasileiro. De acordo com o Ministério Agricultura, o estoque de 2,5 milhões de toneladas é suficiente para suprir a demanda neste primeiro semestre e, além disso, a produção mundial de trigo aumentou em 70 milhões de toneladas. No segundo semestre, quando deve ser necessário importar o cereal, Estados Unidos, Canadá e Rússia são possíveis fornecedores.
Para o coordenador da Secretaria de Política Agrícola, Sílvio Farnese, no caso de outros produtos argentinos que devem ter a safra reduzida por causa da seca, como a soja e o milho, o Brasil pode ser até beneficiado ocupando o espaço do vizinho no mercado internacional, onde os dois países são concorrentes diretos.
? A situação brasileira é confortável. Podemos abrir caminho maior para o milho, que tem hoje 6,5 milhões de toneladas, já exportamos carne e somos o segundo maior exportador de soja ? argumenta.
A Argentina é líder mundial nas exportações de farinha e óleo de soja, segundo país fornecedor de milho e o quarto de trigo.