Trigo: moinhos vão repassar alta de preço e farinha deve subir 10%

Sem estoques, cotações do cereal dispararam no último mês; indústrias de carnes e fabricantes de ração demandaram trigo para substituir o milho

Fonte: Divulgação/Embrapa

O aumento do preço do trigo no mercado interno em maio fará a indústria reajustar em 10% o valor da farinha neste mês de junho, segundo o presidente do Sindicato da Indústria do Trigo no Estado de São Paulo (Sindustrigo), Christian Saigh.

“Em pouco mais de três semanas os preços aumentaram 20%, de R$ 750 a tonelada para R$ 900 (a tonelada). Com essa alta não será possível manter os preços atuais por mais de 30 dias”, afirmou. Saigh participou nesta quinta, dia 2, de seminário sobre o mercado de trigo e perspectivas econômicas para 2016 e 2017, promovido pela entidade.

As cotações do cereal dispararam no último mês porque, além de não haver grandes estoques do cereal colhido em 2015, indústrias de carnes e fabricantes de ração demandaram trigo para substituir o milho, cujos preços subiram ainda mais. Grandes empresas têm disputado com moinhos o pouco trigo com qualidade para panificação que resta neste período de entressafra no Brasil. “Há mais de 20 anos não víamos essa disputa entre granjeiros e moinhos”, afirmou Saigh.

A alta em tão curto espaço de tempo surpreendeu os moinhos, que não tinham estoques longos do produto nacional. Desde o ano passado, devido à queda do consumo interno dos derivados de farinha, a indústria tem evitado alongar os estoques. A falta de capital de giro e a menor disponibilidade do mercado financeiro em liberar recursos também explicam essa cautela, disse Saigh. Ele estima que o volume de trigo nos armazéns dos moinhos brasileiros seja 30% menor que em igual época do ano passado.

Plantio

Produtores devem manter a intenção de plantio em 2016, independentemente da alta recente dos preços do cereal, disse o agente de comercialização de cereais da Cooperativa Agroindustrial Castrolanda, José Reinaldo Oliveira. No caso específico da cooperativa, a estimativa é de que seus associados cultivem 14 mil hectares, área 10% menor que a semeada no ano passado. 

“A definição de plantio não pode ser repentina. Se o produtor decide plantar agora, de última hora, perde a janela de colheita e corre o risco de ter quebra de produtividade nas lavouras, causadas por geadas”, afirmou Oliveira. Alguns poucos produtores do Rio Grande do Sul estariam em busca de sementes para cultivar área maior, estimulados pelos bons preços pagos pelo cereal atualmente, de acordo com relatos ouvidos por Oliveira.

“Só vamos saber se o produtor conseguiu surfar essa onda de preços altos lá na frente”, disse. Oliveira lembrou que a programação da safra atual foi feita quando o dólar ainda era cotado a R$ 4,10. Se os preços se mantiverem entre R$ 700 a saca FOB no interior do Paraná e R$ 830 a saca no Porto de Santos (SP), e considerando ainda uma produtividade média de 3,5 mil quilos por hectare, os produtores poderiam garantir lucros entre 15% e 20% superiores aos obtidos em 2015, segundo o agente.