A instabilidade do tempo pode comprometer a qualidade e até a produtividade da safra de trigo brasileira deste ano. O excesso de chuva em meados de 2015 favoreceu o aumento de doenças como giberela e brusone. O Distrito Federal tem a maior produtividade de trigo do país. A região colheu 6 mil quilos por hectare na safra de 2014. Com o prolongamento do período de chuva em maio deste ano, a umidade do ar tem dificultado a rotina dos produtores.
O produtor de Alan Cenci, de Paranoá (DF), já teve que fazer quatro aplicações de agroquímicos para combater doenças que atacam o trigo.
– A brusone já é uma doença histórica na nossa região, há 10 anos ou mais que ocorre. Alguns anos com maior incidência, ligada ao ano que se estende mais as chuvas, e outros anos o contrário, não aparece com tanta severidade. O que a gente tem notado é que o controle dela está se tornando cada vez mais difícil. Pode ser ocasionado pela quebra de variedades, como elas são as mesmas plantadas há muitos anos, podem estar mais suscetíveis à doença. A gente nota também o controle químico. Alguns anos atrás ele era mais eficiente e hoje em dia está “patinando” bastante. Aumentamos o número de aplicações – pontua. Pelo histórico da cultura na região e a tecnologia aplicada, o produtor disse que almeja colher entre 100 e 110 sacas por hectare.
SÃO PAULO
Se no início da safra o problema era o excesso de chuva, agora é a falta dela que preocupa. Na região de Itapetininga, São Paulo, não chove há mais de 20 dias e o calor atípico para essa época do ano tem forçado o produtor a irrigar a plantação para garantir o enchimento dos grãos.
O produtor da região Hiroyuki Oi tem utilizado dois irrigadores para manter o trigo tardio úmido. Mesmo com o recurso, ele acredita que a safra, que deve ser colhida com um mês de atraso, em outubro, pode ser menos produtiva.
– Em relação ao trigo mais velho eu acho que até que não vai influenciar muito, agora a expectativa é em relação ao mais novo, eu acredito que aí a gente vamos um decréscimo de produtividade. Pelo menos uns 20% – afirmou o produtor.
Devido às dificuldades na atividade, Hiroyuki substituiu este ano metade da área plantada de trigo por milho. E ele não foi o único. A migração para outra cultura é uma realidade em outras propriedades brasileiras. Dados divulgados recentemente pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) apontam que a área total de trigo plantada no Brasil em 201, diminuiu 11% em relação a 2014 – redução que deve impactar na produtividade das próximas safras, segundo o secretário de Agricultura e Meio Ambiente de Itapetininga, Renato Vieira de Moraes.
– Aí o pessoal vai para a safrinha, para outra cultura, para fugir desses problemas e diminuir o custo – projeta.
RIO GRANDE DO SUL
Segundo a Emater/RS, o Rio Grande do Sul, que lidera a produção nacional junto ao Paraná, está com condições meteorológicas favoráveis nas últimas semanas, “com boa radiação solar”, e a aplicação d adubação nitrogenada em cobertura, realizada com mais frequência pelos produtores, também deve contribuir para a normalização geral da cultura no estado. “Atualmente, a cultura encontra-se em pleno perfilhamento, com 7% das lavouras em início de floração. Em termos de comparação, na safra passada esse percentual alcançava 2% nesta época”, diz a Emater.
Esta fase é beneficiada pelas temperaturas entre frias e amenas ocorridas no período. Porém, em algumas regiões – como nas Missões, por exemplo – houve grande amplitude térmica, passando de manhãs relativamente frias a tardes com temperaturas mais elevadas, “o que tende a predispor a planta à incidência de doenças fúngicas. Tal fato leva o produtor a intensificar o controle e o monitoramento das lavouras”.
PARANÁ
Algumas lavouras de trigo do Paraná já sentem a falta de umidade. Os impactos da baixa disponibilidade hídrica e das altas temperaturas ainda são pequenos, mas já há lavouras que apresentam reduções dos potenciais produtivos, principalmente as que estão em fase de enchimento de grãos. Essas condições meteorológicas resultam em grãos menores.
– De um modo geral, as lavouras de trigo estão excelentes e, mesmo com as intempéries, a perspectiva é de uma safra boa neste ano – diz o agrometeorologista da Somar Marco Antônio dos Santos.