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Tristeza sem fim: soja estraga e produtores plantam milho em cima

As cenas e histórias que serão vistas a seguir são a materialização de um dos piores pesadelos de qualquer produtor rural

Pedro Silvestre, Brasnorte (MT)
A chuva não tem dado trégua em Mato Grosso. No norte do estado, agricultores estão abrindo mão de parte de suas lavouras de soja para começar o plantio do milho safrinha. O motivo é que os grãos e as plantas estão apodrecendo antes mesmo de serem colhidas.

Desde que as chuvas começaram em Mato Grosso, no fim do ano passado, muitos produtores temiam o que aconteceu, nesta semana, no município de Brasnorte. Devido ao excesso de precipitações e o fato de elas serem ininterruptas, as colheitadeiras não conseguiram entrar em campo e o resultado foi a morte de parte das lavouras. As cenas registradas pelos próprios agricultores são tristes até para que não é do setor. “É um sentimento dolorido. Em trinta anos que estou no Estado, esta é a primeira vez que estou plantando em cima de soja. Já perdi parte da produção antes, mas nunca tive que deixar no campo e passar por cima”, conta o produtor Alcidir da Cunha. “É difícil, perdi o sono até, é uma coisa cruel.”

Fórum Soja Brasil – Balanço da safra 2016/2017

A desolação de Cunha não é para menos, afinal dos 3,6 mil hectares com soja, que estavam prontos para a colheita, o produtor só conseguiu colher 500 hectares e com resultados decepcionantes em termos de produtividade. Diante de tamanha destruição não restou alternativa, as áreas com soja estragadas foram abandonadas e o agricultor já colocou as plantadeiras com milho para trabalhar. “Recebemos muita chuva, mais de 600 milímetros em 30 dias. Não conseguimos colher a soja, nem para ração ela servia nem, apodreceu tudo, virou palhada para o milho”, explica Cunha. “Não queria nem plantar milho, preferia colher a soja, pois o lucro do milho é pouco.”

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O prejuízo estimado pelo agricultor supera a casa dos R$ 2 milhões atualmente, que ele pretende minimizar com este plantio do milho. O produtor Valmor passa pelo mesmo problema, só que em uma área quase 3 vezes maior, ou seja 9,2 mil hectares. “Nós colhemos apenas mil hectares, em quinze dias. Sendo que colhemos, normalmente 500 por dia. Nunca perdi soja assim, mil hectares que já posso plantar em cima”, conta ele. O prejuízo, estimado pelo produtor até agora chega a 80 mil sacas e muito dinheiro.

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Produtor Osmar Mariussi, remexe a soja já estragada com uma pá

Já nos 3,6 mil hectares do produtor Osmar Mariussi, as colheitadeiras até entraram em campo, mas o resultado não foi menos pior que de seus vizinhos. Para se ter uma ideia após uma das máquinas voltarem do campo, foi preciso uma pá para ajudar a retirar a soja toda estragada. Um prejuízo bastante grande. “Se jogar esta soja na moega, vai danificar os elevadores e embuchar, piorando ainda mais a situação. Tentamos deixar ela exposta, na tentativa de secar, mas o sol não esquentou e apodreceu tudo”, conta Mariussi.

“É um sentimento dolorido. Em trinta anos que estou no Estado, esta é a primeira vez que estou plantando em cima de soja” – Alcidir da Cunha

A expectativa é que 450 hectares serão totalmente perdidos por lá, e outra parte terá problemas de produtividade. “O sentimento é de profunda tristeza, pois tudo que fizemos, que trabalhamos o ano todo, não trouxe resultado. Eu queria só mandar um recadinho ao pessoal da Conab, que estão estimando uma super safra. Venham a campo, saiam do ar condicionado para ver o que o produtor está passando para depois fazerem essas estimativa de safra erradas”, afirma Mariussi.

Segundo o Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea), um novo levantamento sobre o volume da safra já está sendo realizado, e em dez dias apontará a real situação do estado, que até então iria produzir 30 milhões de toneladas. “As chuvas realmente têm trazido muitos prejuízos para esta região que chamamos de oeste, mais especificamente, Campo Novo do Parecis, Brás Norte e por ai vai. Ainda não sabemos o impacto disso, além do atraso no plantio, mas em breve teremos”, conta o superintendente da entidade, Daniel Latorraca. “No estado tínhamos uma projeção de ter colhido, até a semana passada, 72% da safra de 9,4 milhões de hectares, porém chegamos a 52% apenas.”

E ao que tudo indica o clima deve continuar castigando a região, aponta a meteorologia. Pelo jeito as chuvas não darão trégua, já que as nuvens seguem estacionadas na metade do país, justamente sobre estas áreas do norte e oeste, que receberão pelo menos 80 milímetros acumulados, nos próximos dias. “Mesmo se tivéssemos apenas 20 milímetros de água, considerada uma chuva agrícola, em um solo encharcado, como está, isso representa riscos sérios”, afirma a apresentadora do tempo, Pryscilla Paiva.

A situação faz os produtores pedirem uma velha demanda, mais atenção do governo federal com relação ao seguro da safra. “Tem que ter um seguro. Acho que o seguro agrícola no Brasil precisa ajudar, tem ano que da seca, tem ano que dá chuva demais, então tem que ter um seguro agrícola para o produtor rural”, finaliza Valmor.

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