Uma espécie vegetal chamada turfa, importada pelo Brasil como substrato para a Agricultura, oferece danos às lavouras do país. A Associação das Empresas de Insumos para a Agricultura Sustentável (Inpas) diz que amostras deveriam passar por análises de risco de pragas, o que não acontece hoje. Sem fiscalização adequada, é possível deixar entrar fungos capazes de prejudicar os cultivos. Um exemplo é a turfa sfagnun que serve tanto para a absorção de petróleo em desastres ambientais, quanto para substituir a terra para a produção de mudas. Na prática, essa distinção não tem sido feita quando o produto chega ao Brasil, graças a uma brecha na legislação.
– Quem importou de 1997 a 2005, ela não precisa fazer essa análise. O que a gente quer é que todos sigam a mesma regra. Justamente que é pra você diminuir a possibilidade de entrada de patogenos e pragas exóticas pro Brasil – afirmou Edson Tsuzuki, diretor presidente do Inpas.
A pedido da associação, o Ministério Público do Rio Grande do Sul instaurou inquéritos questionando o ministério da agricultura sobre a produção de substratos a base de turfa importada e reivindicou análise do material que chega ao Brasil para evitar risco fitossanitário.
– As empresas que tão importando, elas estão dentro da lei. Mas no nosso entender essa lei tem que ser mudada, essa instrução normativa tem que ser mudada, deixando todos os importadores na mesma situação – afirmou Tsuzuki.
Só em julho deste ano, desembarcaram cerca de mil toneladas do produto no Brasil. No ano passado, foram 17 mil ao todo. A turfa é muito usada na produção de mudas de hortaliças, citrus, plantas ornamentais, árvores e tabaco.
Estudos identificaram neste tipo de turfa o que é chamado de “patógeno exótico”. De acordo com a análise, o fungo encontrado pode causar problemas nas raízes de mais de 130 espécies, entre elas alface, tomate, feijão, e soja. O resultado do estudo da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq) por exemplo, foi enviado ao Ministério da Agricultura em dezembro de 2012.
De acordo com empresários do ramo, alguns importadores não especificam a aplicação da turfa para se livrarem de impostos. O resultado é um produto que chega ao mercado com preço menor, apesar de vir do outro lado do mundo. O substrato fabricado no Brasil é feito com outros produtos, como fibra de coco, por exemplo, ou casca de árvore. O metro cúbico é vendido por até R$ 300, dependendo da matéria-prima usada.
– Nossa produção é toda com grande número de funcionários, todos os impostos são pagos de forma correta, esse material entra sem base tarifária nenhuma e é uma concorrência que vem sendo feita muito desleal e tem atrapalhado, por causa do grande volume, a comercialização de todas as empresas que atuam no mercado – afirmou Ângelo Malvestiti, gerente de pesquisa e desenvolvimento TCR.
De acordo com o empresário da TCR, Leonardo Klabin, no ano passado entraram 17 milhões de quilos no Brasil, sem fiscalização nenhuma.
– Sem vistoria, sem pagar impostos, e isso está prejudicando toda a indústria brasileira de substrato. No último ano foram fechadas 19 fábricas, botando mais de 600 pessoas na rua – afirmou o empresário.