– Estamos organizando um programa de excelência em bioenergia, no qual os alunos terão oportunidade de estudar com os melhores especialistas nos diferentes aspectos do setor e poderão se conectar com os principais centros de pesquisa na área no mundo – disse o professor Carlos Alberto Labate, da Universidade de São Paulo (USP), coordenador-geral do Programa Integrado de Doutorado em Bioenergia. As aulas deverão ter início em março de 2014.
Com a proposta de ser um curso internacional, o programa contará com professores da USP, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e da Universidade Estadual Paulista (Unesp), além de especialistas estrangeiros. Terá boa parte de suas aulas em inglês e usará um sistema de videoconferência para a integração de alunos e professores situados em diferentes cidades.
– Os alunos farão pelo menos quatro meses de estágio no exterior, em universidade, empresa ou centro de pesquisa. E queremos atrair não só estudantes do Brasil, mas também do exterior – destacou Labate.
Justificativas para unir as forças nesse projeto não faltam. De acordo com Labate, a bioenergia é uma das áreas que mais crescem no mundo e o Brasil é uma liderança.
– Temos competência, um grande mercado, somos os principais produtores de matéria-prima para a área de bioenergia e falta pessoal qualificado, inclusive para fazer spin-off, porque uma das coisas que queremos é que nossos alunos sejam empreendedores na área de bioenergia – ressalta.
A aprovação da abertura do programa pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) ocorreu no final de março.
– A massa crítica das três universidades é muito grande. Em levantamento feito na FAPESP, constatou-se que cerca de 500 pesquisadores das três instituições trabalham com o assunto bioenergia direta ou indiretamente – ressaltou Luís Augusto Barbosa Cortez, professor na Faculdade de Engenharia Agrícola (Feagri) da Unicamp e coordenador adjunto de Programas Especiais da FAPESP.
Cortez citou o exemplo de pesquisa realizada por Fernando Ferreira Costa, professor na Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp, que estuda uma enzima produzida pelo cupim com capacidade de degradar celulose.
– Já existem muitos pesquisadores de faculdades diversas, como medicina, que trabalharam ou estão trabalhando com algo relacionado a biocombustíveis, bioenergia, produtos químicos, plásticos ou derivados de biomassa – disse Cortez.
O doutorado conjunto em bioenergia é um desdobramento de outra iniciativa, o Centro Paulista de Pesquisa em Bioenergia (CPPB), instituído em 2010, por meio de um convênio entre o Governo do Estado de São Paulo, FAPESP, USP, Unicamp e Unesp.
Criado como um desdobramento do Programa FAPESP de Pesquisa em Bioenergia (BIOEN), o CPPB aumenta a base científica de pesquisa em energia obtida a partir de biomassa. Enquanto as universidades contratam pesquisadores em diversas vertentes da bioenergia, a FAPESP selecionará e financiará os projetos vinculados ao CPPB.
– O curso é um dos importantes resultados do Centro Paulista de Pesquisa em Bioenergia, organizado pela FAPESP e pelas três universidades estaduais paulistas, com expressivo investimento do Governo do Estado de São Paulo. O caráter multi-institucional é uma excelente ideia das universidades e fará o curso muito competitivo mundialmente – ressaltou Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico da FAPESP.
No Programa Integrado de Doutorado em Bioenergia, as disciplinas serão organizadas em cinco áreas principais: agrícola, industrial, sustentabilidade, biorrefinarias e motores. Segundo Cortez, embora o Brasil seja líder em bioenergia, ainda faltam profissionais, principalmente em algumas vertentes, como a de motores. Outra área com carência de profissionais é a de gaseificação e combustão.
– Fomos muito para o lado da fermentação, muito pela linha bioquímica (quando se fala em etanol de segunda geração), mas pouco pela linha térmica – afirmou Cortez.
Um dos objetivos do curso é proporcionar ao aluno um panorama geral, uma formação ampla para que o profissional entenda os diversos fatores envolvidos na questão da bioenergia.
– Essa área é muito dinâmica; precisamos de um profissional que entenda de diferentes áreas e participe ativamente nas questões. Ele precisa falar bem inglês e ter uma noção boa inclusive de diplomacia ligada a esses assuntos – que são discutidos em fóruns internacionais, como a Organização Mundial do Comércio (OMC) e a Organização Internacional do Trabalho (OIT) – disse Cortez.
Algumas questões burocráticas sobre o curso, que será gratuito, ainda estão pendentes, mas a grade curricular, com número de disciplinas e equivalência de créditos, já foi definida. O aluno deverá fazer a matrícula em uma das três instituições e estará formalmente vinculado a ela. Cada uma das universidades fará a seleção de estudantes utilizando critérios próprios e escolherá o corpo docente que participará do programa. A coordenação geral do curso, atualmente sob responsabilidade da USP, mudará a cada três anos, em um rodízio entre as três universidades.
A ideia é que cada orientador tenha dois ou três orientandos e que o programa chegue, em dois ou três anos, a cem alunos.
– É um curso com a cara do século 21. O tema dos biocombustíveis ganhou importância fenomenal recentemente. Até os Estados Unidos entrarem nessa, achavam que o Brasil fazia apenas uma esquisitice, uma curiosidade exótica. Depois, o mundo inteiro começou a falar no assunto – disse Cortez.
De acordo com Labate, a ideia é, com o tempo, integrar outros grupos de excelência brasileiros no programa de doutorado, como os de algumas universidades federais.