Veículos e equipamentos podem ser movidos por milho, batata, arroz, sorgo e mandioca. Cada um desses alimentos ao serem processados, se transformam em combustível autossustentável. E o que sobra vira ração para os animais.
? Foi uma observação de que a onda dos bicombustíveis não estava sendo aproveitada pelos agricultores familiares e eles tinham uma enorme possibilidade de produzir etanol e agregar renda e melhorar a qualidade de vida utilizando matérias primas que já existem dentro da propriedade ? revela o professor de agronomia UFRGS, Harold Ospina.
O etanol produzido na biorefinaria está de acordo com o que diz a Constituição e o impacto ambiental é zero.
? É um produto que tem passado por vários testes da Agência Nacional de Combustíveis (ANP) e ele tem se enquadrado dentro da legislação. Eu utilizo este etanol direto no meu carro, sem problema nenhum. No processo de produção do etanol ele captura quatro vezes menos carbono do que um combustível fóssil ? conta Ospina.
A mini usina foi criada pensando no produtor rural, por isso o modo de operação é muito simples. Em uma semana de treinamento, ele poderá trabalhar sozinho. Um dos grandes diferenciais, é que a mini-destilaria pode processar mais de um tipo de matéria prima, ao mesmo tempo.
Em cada túnel, um tipo de alimento pode ser colocado. Depois de fermentar, eles se transformam em etanol. Podem ser feitos, em 24 horas, 500 litros de combustível.
E foi um homem simples que criou a usina social inteligente. O diretor industrial, Orci Ribeiro, sempre trabalhou como operário, mas a mente inquieta buscava algo que pudesse combater a pobreza na agricultura familiar. Durante 20 anos se dedicou a experimentos, e acabou desenvolvendo a usina. Ele conta que a técnica de transformar alimentos em combustível já era descrita nos livros antigos, faltava apenas o homem tomar coragem e colocar em prática.
? Tem um livro que diz que o resíduo de um litro de álcool de mandioca, se eu tratar da vaca, eu consigo produzir dois litros de leite. Esse livro foi escrito em 1942, em plena Segunda Guerra e eu carrego ele comigo. Naquela época já foi feito cinco milhões de litros de álcool de mandioca ? conta Ribeiro.
A biorefinaria pode ser adaptada a cada propriedade.
? O padrão mínimo nosso é uma USI 400, que é 400 litros por dia, e aí nos vamos de 400 até dez mil litros por dia, conforme o modelo. Então depende muito do processo, do material que tu vai se utilizar ? conta o diretor comercial, Francisco Mallmann.
Para montar uma produção de mil litros de etanol por dia, em média, são necessários R$ 200 mil. A intenção do grupo é criar parcerias para levar o sistema ao maior número de produtores.
? Nós estamos buscando arranjos comerciais em parceria com produtores. De repente fomentar com produtores onde a gente possa já garantir a compra do etanol e o produtor ficar focado no que ele sabe fazer, que é da porteira pra dentro. Então são inovações que temos certeza que vamos buscar em conjunto com o produtor o sucesso neste projeto ? aposta Mallmann.
A energia produzida através de alimentos pode ser a solução para problemas em vários lugares do mundo.
? Já estamos mandando usina pra África, Colômbia, Paraguai e também pro Norte e Nordeste do país. A idéia é uma inclusão social daqueles povoados onde não existe energia, onde eles vão ter condições de produzir o seu combustível.
De acordo com o grupo, até o ano que vem todos os automóveis da universidade deverão estar funcionando com etanol.