Os estudos inéditos, que devem ser finalizados até o final do ano, vão gerar bases de dados anuais que permitirão, por exemplo, um planejamento muito mais integrado da relação entre o uso da terra para agropecuária e a conservação ambiental.
– Esse entendimento do uso da terra é fundamental para se ter uma visão estratégica e criar cenários para o futuro da agricultura brasileira e da conservação do Cerrado – explica o diretor do Departamento de Conservação da Biodiversidade do Ministério do Meio Ambiente (MMA) e coordenador do projeto, Carlos Alberto de Mattos Scaramuzza.
Agenda brasileira
O principal benefício é uma visão sobre como a agricultura está usando o Cerrado. Do ponto de vista da agenda brasileira de conservação da biodiversidade, é importante entender o uso da terra para conhecer onde estão acontecendo as maiores pressões para o desmatamento, onde devem ser criadas áreas protegidas, qual o impacto que podem ter sobre espécies ameaçadas, além da criação de corredores ecológicos entre as áreas protegidas existentes, afirma o diretor do MMA.
Entre as atividades a serem desenvolvidas estão o mapeamento das áreas de cobertura vegetal natural, cobertura vegetal antrópica, massas d´água, área natural não vegetada (afloramentos rochosos, dunas e praias fluviais) e áreas não-observadas (com cobertura de nuvens e queimadas). Nas áreas de cobertura vegetal antrópica, serão identificadas pastagens, culturas agrícolas anuais e perenes, silvicultura, espaços urbanos e mosaico de ocupações.
Além da geração de dados básicos para atender às demandas atuais relacionadas ao cálculo e modelagem de emissão e sequestro de gases de efeito estufa, pela dinâmica de uso da terra, os pesquisadores também querem entender o impacto que as políticas públicas de uso da terra promoveram no bioma Cerrado. Os estudos podem ajudar a compreender, por exemplo, qual a relação entre a legislação ambiental referente às reservas legais aplicada na Amazônia e a expansão de culturas temporárias e pastagem no Cerrado, de acordo com o pesquisador da Embrapa Informática Agropecuária (Campinas, SP), Alexandre Coutinho.
As pesquisas usam metodologia compatível com a adotada no TerraClass Amazônia, levantamento de informações de uso e cobertura da terra nas áreas desflorestadas da região para os anos de 2008 e 2010. O TerraClass Cerrado é uma ação desenvolvida no contexto do subprojeto Monitoramento do bioma Cerrado, realizado com o apoio da Iniciativa Cerrado Sustentável, implementada pelo Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF). Essa iniciativa busca promover o aumento da conservação da biodiversidade e melhorar o manejo dos recursos ambientais e naturais do bioma, por meio do apoio a políticas e práticas apropriadas.
O TerraClass Cerrado reúne cinco instituições e conta com apoio financeiro do Banco Mundial.
– É um esforço multi-institucional que mostra a importância de as organizações atuarem de forma integrada, aportando diferentes especialidades num esforço de buscar as complementaridades para gerar resultados importantes – diz Scaramuzza.
Coordenado pelo Ministério do Meio Ambiente, o projeto é realizado em parceria com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Unidades Amazônia Oriental, Cerrados, Informática Agropecuária e Monitoramento por Satélite; Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama); Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe); e Universidade Federal de Goiás (UFG).
Recursos hídricos
O Cerrado, segundo maior bioma da América do Sul, conta com 2.039.386 km² de extensão, ocupando 25% do território nacional. Sua área contínua incide sobre os estados de Goiás, Tocantins, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Bahia, Maranhão, Piauí, Rondônia, Paraná, São Paulo, além do Distrito Federal. Nesse espaço territorial, encontram-se as nascentes das quatro maiores bacias hidrográficas da América do Sul (Amazônica, Araguaia-Tocantins, São Francisco e Prata), o que resulta em considerável disponibilidade de recursos hídricos.
Com relação à diversidade biológica, o Cerrado brasileiro é reconhecido como a savana mais rica do mundo, abrigando, nos diversos ecossistemas, uma flora com mais de 10 mil espécies de plantas, das quais 4.400 são endêmicas, ou seja, exclusivas daquela região. O bioma também abriga 111 espécies de fauna ameaçadas de extinção. De acordo com estudos de monitoramento do Ibama, baseado em imagens de satélite, 49,16% da cobertura vegetal original já foi desmatada.