Pesquisadores da Embrapa Soja recomendam a rotação de grupos químicos para garantir o controle eficaz na lavoura
Sebastião Garcia | Londrina (PR)
O uso inadequado de produtos químicos aumenta a resistência de pragas, doenças e plantas daninhas nas lavouras brasileiras de soja ano após ano. Esta é a conclusão de estudos da Embrapa sobre o tema. É um problema que afeta o bolso do produtor e pode causar desequilíbrio ambiental.
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A ferrugem asiática é um exemplo do aumento desse aumento de resistência. Ela foi descoberta em 2001 e ainda hoje é uma ameaça, sendo um das principais doenças da cultura a cada safra.
– Alguns fungicidas controlavam muito bem a ferrugem asiática, usados isoladamente quando a ferrugem entrou no Brasil. A gente viu que, ao logo dos anos, esses produtos começaram a perder eficácia – explica a pesquisadora da Embrapa Claudia Godoy.
O motivo, diz Claudia, é que começou o que se chama de seleção de populações resistentes. O desafio da pesquisa hoje é evitar que essa resistência aumente.
– Como estratégia antirresistência, para gente não perder os fungicidas, o primeiro ponto que a gente tem que concentrar é que não adianta só manejar fungicida. A gente tem que seguir todas as recomendações que tem para ferrugem, iniciando pelo vazio sanitário, semeadura na época adequada, evitar a janela de plantio e também o que é importante para o produtor é seguir a recomendação do fabricante. O que a gente vê muito no campo é redução de dose. A redução de dose favorece muito a resistência – salienta a pesquisadora.
Os percevejos são outro temor nas lavouras. A Embrapa faz testes com as ninfas do inseto. O pesquisador Samuel Roggia afirma que os percevejos adultos estão mais resistentes também.
– O que acontece ao longo do tempo é que, com a utilização intensiva desses produtos, se acaba eliminando os percevejos suscetíveis e aumentando a frequência daqueles percevejos resistentes. Assim também acontece com outras pragas e com outras táticas de controle – comenta Roggia.
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Não é para menos que elas ficaram tão conhecidas nas últimas safras. O controle de lagartas e percevejos depende do que os pesquisadores chamam de rotação de produtos químicos e de princípios ativos. Isso quer dizer não usar sempre o mesmo produto.
– A ideia é de que em um ano ou em uma determinada aplicação você use um grupo químico e na aplicação seguinte você utilize outro grupo químico, para se houve algum escapa na primeira aplicação que você consiga controlar na segunda aplicação com esse grupo químico diferente. Assim você vai aumentado sua durabilidade ou reduzindo o surgimento de populações resistentes – completa Samuel Roggia.
A mesma orientação de pragas e doenças vale também para as plantas daninhas. Sendo a buva e o capim amargoso as duas mais preocupantes em termos de resistência. A recomendação é que o controle seja feito na entressafra, para que elas não apareçam quando a soja começa a crescer.
Caso apareçam, devem ser eliminadas assim que pequenas. Quanto mais tarde, pior. Porque aumentam os custos com aplicação de herbicidas, porque elas vão competir com a soja por água, luz e nutrientes. Com isso, vão comprometer a produtividade da lavoura.
– Manejar essas plantas daninhas resistentes não é tão fácil quanto possa parecer. Depende de uma série de ações, depende de uma série de combinações de produtos, depende de você planejar a área em termos de rotação, de manejo desta área, de plantas que serão cultivadas na entressafra. Enfim, eu acho que é preciso um planejamento todo especial para que você resolva seu problema. Ou que você faça sua prevenção. Não deixe essa planta entrar na sua área, porque, com certeza, isso vai significar muito problema para o agricultor – explica o pesquisador Dionísio Grazziero.