Estratégia ajuda a diminuir a incidência de casos de ferrugem asiática durante a safra
Sebastião Garcia | Londrina (PR)
Na segunda reportagem do Projeto Soja Brasil, vamos falar sobre o vazio sanitário e a fiscalização nos Estados produtores.
Faltando menos de três meses para o início de uma nova safra de soja no Brasil, as atenções estão voltadas para o cumprimento do vazio sanitário nos principais Estados produtores. Neste período, não pode existir nenhuma planta viva de soja nas áreas de plantio. A estratégia ajuda a diminuir a incidência de casos de ferrugem asiática durante a safra.
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O Mato Grosso é um exemplo, pois a fiscalização é rigorosa nesta época. Desde o dia 15 de junho, os fiscais estão procurando produtores que não estão cumprindo o vazio sanitário. Na primeira vistoria em uma propriedade, os fiscais apenas notificam os produtores. Após o aviso, eles tem três dias para limpar a área e eliminar as plantas vivas de soja. Se na próxima visita o trabalho não foi feito, haverá multa, que, no Estado, o mínimo é de R$3mil.
– A gente pede ao produtor que ele tenha cuidado. Ele precisa fazer a vistoria de campo e a destruição das tigueras. É necessário fazer o dever de casa, é isso que a gente gostaria – explica Roglaciano Arruda, fiscal estadual agropecuário.
As tigueras são as plantas que germinam dos grãos perdidos na colheita de soja. Nesta época antes da nova safra, elas podem se tornar um perigo para o sojicultor, pois servem de hospedeiro para pragas e doenças. O produtor Lucas Conagesk já teve problemas com a ferrugem asiática e, agora, o cuidado é redobrado. Na safra 2013/2014, ele perdeu de 10 a 15 sacas de soja por hectare.
– A gente fez uma dessecação pós-colheita, e, depois disso, deu uma chuva fora de época. Foi um ano muito chuvoso, tivemos que entrar mais duas vezes fazendo a dessecação. Na segunda vez, foi para manter limpo – diz Conagesk.
Em MT, o vazio sanitário foi instituído em 2006, depois de uma safra com muitos casos da doença. Depois, Goiás e Tocantins também adotaram a medida nesse mesmo ano. Em 2007, foi o Ministério da Agricultura que publicou uma instrução normativa criando o Programa Nacional de Controle da Ferrugem Asiática da Soja. Este documento prevê que os Estados devem estabelecer suas formas de controle, inclusive com a definição do período de vazio sanitário, variando entre 60 e 90 dias.
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Atualmente, 11 Estados mais o Distrito Federal tem a medida regulamentada. São eles: Tocantins, Maranhão, Pará, Bahia, Rondônia, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, São Paulo, Minas Gerais, Paraná e o Distrito Federal. A maioria adota o período de 90 dias para o vazio sanitário.
– Logo no primeiro ano de implementação do vazio sanitário, a gente viu um resultado muito claro no Mato Grosso. De um ano sem vazio sanitário para o ano seguinte com vazio sanitário, vimos que existiu um atraso em torno de 30 dias da ocorrência do primeiro foco de ferrugem asiática – afirma Claudine Seixa, pesquisadora da Embrapa.
A pesquisadora, especialista em doença de plantas, diz que o vazio sanitário não vai eliminar a ferrugem, mas é a forma mais eficiente de prevenir que a doença apareça. Caso a ferrugem apareça, pelo menos não vai ser no inicio do plantio, o que já é um ganho para o produtor.
– Quanto mais cedo chegar a doença, maior é o risco de perda na produtividade. Provavelmente, vai ter um aumento do numero de aplicações inseticida, e isso gera custos – comenta Claudine.
A ferrugem asiática, ou ferrugem da soja, é uma doença causada por um fungo. A planta perde as folhas e os grãos não se desenvolvem, e isso compromete a produtividade.
A forma de fazer o vazio sanitário pode variar nas diversas regiões. O que não pode ficar na lavoura são as plantas vivas de soja. De outra cultura até pode. A área não precisa ficar ociosa. É sempre bom o agricultor buscar orientações com um técnico, como lembra a pesquisadora da Embrapa.
– Dependendo da região, ele pode adotar um cultivo de inverno, que vai ajudar neste manejo, ou alguma planta de cobertura. A gente costuma dizer que o manejo da ferrugem na safra começa na entressafra, fazendo um período de vazio bem caprichado – completa Claudine Seixa.
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