– Não creio que esse nível de crescimento se mantenha todo o ano, mas não é uma coisa ruim. Será um crescimento sustentado – disse Milton Rego, diretor de máquinas agrícolas da Anfavea. Ele projeta um aumento de 5% nas vendas em 2013.
A partir de julho, a taxa de juro do PSI sobe para 3,5%. Hoje é de 3%. De setembro a 31 de dezembro era de 2,5%, o que impulsionou as vendas no segundo semestre de 2012. Nestes dois meses e meio antes da alta do juro, a Massey Ferguson espera um bom desempenho para os produtos da marca. O gerente comercial Eduardo Nunes segue apostando em incremento de até 25% nas negociações do segmento no primeiro semestre, ante os primeiros seis meses de 2012, e encerramento do ano com avanço de 5% a 10%.
– As carteiras formadas no ano passado, o juro de 3% e mais a necessidade de tecnologia estão favorecendo – disse. Nunes lembra que, a partir de 2011, com o lançamento do programa Mais Alimentos, a agricultura familiar impulsionou as vendas do setor, com estímulo aos tratores de pequeno porte. Agora, diz, a agricultura empresarial volta a ganhar espaço devido à necessidade de empregar mais tecnologia no campo.
As condições para investimento em maquinário mais potente e sofisticado estão presentes. Produtores estão capitalizados após um ano-safra de preços remuneradores das commodities, sustentados pela quebra da safra norte-americana em 2012. O Valor Bruto da Produção (VBP) da soja, que no ano passado alcançou R$ 68,064 bilhões, deve chegar a R$ 82,870 bilhões neste ano, conforme projeção do Ministério da Agricultura. No caso do milho, o VBP do ano passado somou R$ 32,958 bilhões, com previsão de encerrar 2013 em R$ 37,161 bilhões.
Colheitadeiras em alta
O resultado disso é que, na busca por maior produtividade, os agricultores estão investindo pesado. O segmento de colheitadeiras mostra isso. Segundo dados da Anfavea, de janeiro a março, foram comercializadas 2.532 unidades, alta de 55,2% na comparação com igual trimestre de 2012. Milton Rego destaca que o Brasil tem colheitadeiras muito antigas, em alguns casos com até 20 anos de uso, o que dificulta a regulagem e a eficiência no trabalho no campo.
– No caso dos tratores até se pode adiar a troca; nas colheitadeiras é mais complicado. Acima de seis anos de uso, essas máquinas começam a ter dificuldades de regulagem. E regulagem mal feita significa perda líquida de grãos – enfatiza.
De acordo com ele, com 10 anos de uso, a perda de produção é de cerca de 6%.
– Em um equipamento novo, a perda tolerável é menos de 0,5%.
Milton Rego cita estudo da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) segundo o qual o uso de máquinas defasadas leva a uma perda de 4% no volume colhido.
Conforme o gerente comercial da Valtra, Roberto Patrocínio, a vida útil de uma máquina agrícola é de 10 mil horas, o que, nos grãos, equivaleria a até 10 anos de uso. O problema, segundo ele, é que as lavouras de milho e soja demandam mais tecnologia e pedem uma renovação mais rápida. De uma forma geral, a empresa estima que 800 mil máquinas atualmente em uso no campo já poderiam ter sido trocadas. Mas a substituição é de 30 mil unidades/ano.
O diretor da Anfavea diz que a região Sul lidera a compra de colheitadeiras. Não por acaso é onde estão as máquinas mais antigas. Já o Centro-Oeste e a região do Mapitoba, formada por Maranhão, Piauí, Tocantins e Bahia, demandam tratores e colheitadeiras mais modernos e com maior capacidade.
– Nos três Estados do Sul há um grande número de pequenos e médios agricultores, com maior dificuldade de investimento porque não têm garantias para tomar crédito – diz Milton Rego.
A expectativa da Anfavea é de que o Plano Safra 2013/2014, a ser divulgado até junho, contemple mais garantias para que essa “classe média” rural tenha acesso a um maior volume de recursos para financiamento de máquinas agrícolas.
Cana-de-açúcar
Além da crescente produção de grãos, as montadoras acompanham a recuperação do setor sucroenregético, com retomada do investimento e maior mecanização. A reação que outros setores já vêm observando aparece nos números de máquinas usadas nos canaviais. A Valtra, por exemplo, vendeu no primeiro trimestre 25,1% mais máquinas para o segmento, sobretudo colheitadeiras. E, na avaliação da empresa, a perspectiva é de que os negócios sigam firmes no decorrer do ano, especialmente com a sinalização do governo para medidas de apoio ao setor sucroalcooleiro.
Luiz Carlos Corrêa Carvalho, sócio-diretor da consultoria Canaplan, explica que o setor está investindo para recuperar a produtividade nas lavouras e atender às exigências para eliminação da queima da palha da cana-de-açúcar.
– Na safra 2008/2009, 46% da área era colhida com máquinas. Em 2013/2014, o porcentual alcançará 87% – conta.
O plantio mecanizado era realizado em 2% das lavouras em 2008/2009; no ciclo 2013/2014, chegará a 30%.
– Até 2020, o plantio e a colheita serão mecanizados em mais de 90% da área -projeta Carvalho.