Para tentar contornar o que define como “informações distorcidas”, o diretor executivo do Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin), Carlos Paviani, o gerente de Promoção e Marketing da entidade, Diego Bertolini, e o coordenador da Comissão Interestadual da Uva, Olir Schiavenin, peregrinaram nessa segunda, dia 26, pela Cidade Maravilhosa.
– Não haverá aumento na taxação de importação de vinhos. O que pedimos é uma medida restritiva quantitativa para que o setor nacional possa se fortalecer e dividir com os importados o crescimento no consumo – explicou Paviani, por telefone, enquanto se preparava para mais uma rodada de esclarecimentos quanto à polêmica que ronda o setor.
As lideranças se reuniram com representantes da Associação Brasileira de Sommeliers (ABS) e da Sociedade Brasileira dos Amigos do Vinho (Sbav/RJ).
A medida de salvaguarda, prometida pela presidente Dilma durante a abertura da Festa da Uva, em 16 de fevereiro, e acenada pelo Ministério do Desenvolvimento, vinha sendo brindada, pois era uma reivindicação antiga do setor vinícola, fragilizado com a invasão de importados em taças e gôndolas. Mas o projeto apimentou os ânimos de quem trabalha com gastronomia e cartas de vinho.
O movimento de boicote aos vinhos nacionais foi encabeçado pela chef Roberta Sudbrack, que retirou rótulos brasileiros da carta de seu restaurante no Rio. E fez mais: convocou seus 30 mil seguidores no Twitter a integrarem um abaixo-assinado, também disponível na internet, contra a salvaguarda, alegando que a medida elevaria de 27% para 55% os impostos de importação de vinhos. A campanha de retaliação ganhou adeptos na internet e o apoio de renomados chefs de cozinha, como Felipe Bronze, do restaurante Oro, que ameaça “barrar os nacionais. Todos eles”. O impasse repercutiu nacionalmente, sendo tema da coluna de Artur Xexéo na revista O Globo do dia 25 de março.
– Foi um gol contra para a imagem do setor. Queremos mostrar que isso não é uma reivindicação só das grandes vinícolas nacionais (como sugere o texto do abaixo-assinado), mas de entidades que representam o setor como um todo. Queremos acalmar e tranquilizar o mercado. É apenas a limitação na entrada de produtos, e não o aumento de impostos – afirma Paviani.
Para tentar contornar a situação e “salvaguardar” o segmento do vinho de ser vítima de suas próprias lutas para ganhar o mercado, manchando sua imagem após anos de trabalho para mostrar que merece crédito pela evolução da qualidade, Paviani, Schiavenin e Bertolini viajam nesta terça, dia 27, para São Paulo. Lá continuam a série de reuniões e visitas a entidades, além de conceder entrevista coletiva a veículos de comunicação, para explicar que a cadeia do vinho só quer ganhar mais espaço (e credibilidade) nos cálices dos consumidores brasileiros e não ser alvo de boicote entre seus conterrâneos.
Essa é uma prática adotada por inúmeros países para preservar sua indústria da invasão de estrangeiros. Os vinhos importados respondem por 78% do mercado brasileiro. O temor é que a salvaguarda venha acompanhada de vinhos importados mais caros, fazendo o consumidor refém de rótulos nacionais pouco competitivos ao bolso. A aguardar como os cálices se acomodarão nesse complicado tabuleiro mercadológico.