O Paraná é o segundo maior estado produtor de grãos do país e possui a segunda maior área agricultável também. Por isso, não é de se estranhar que muitas fazendas antigas ainda escondam tesouros de um passado distante. Por razões financeiras, o Parque de Vila Velha não é, nem de longe, um destino turístico conhecido no país, mas ao que tudo indica, isso irá mudar a partir de agora. E a antiga fazenda de 3,8 mil hectares deve, em breve, entrar na rota do turismo nacional.
A região dos Campos Gerais onde está localizado o Parque de Vila Velha, ali em Ponta Grossa (PR), passou por muitas transformações até que o destino turístico fosse instaurado. Mas antes de explicar sobre as esculturas rochosas, como se formaram e as lendas que envolvem a região, vale destacar uma história mais recente, a transformação da Fazenda Lagoa Dourada (LFD), no Parque Vila Velha.
Fundada em 1928, a fazenda explorava os grandes campos da região para a criação de gado. Não restou muito da história deste produtor, ou quem era, exceto pelas casas coloniais usadas na época pela sua família e seus funcionários.
A desapropriação da fazenda aconteceu em meados de 1943, quando o governo percebeu a necessidade de se proteger e preservar o que restou dos Campos Gerais e das formações geológicas do lugar.
“A fazenda foi desapropriada para proteger e preservar não só a parte da geologia, com suas rochas e esculturas naturais, de 300 milhões de anos atrás, mas também a mata e os animais nativos”, informa Juarez Baskoski, funcionário do Instituto Ambiental do Paraná (IAP) responsável pela direção e gestão do Parque Estadual de Vila Velha.
Entre as heranças da antiga fazenda, além das casas, sobrou a tarefa de tentar trazer de volta a vegetação perdida através de um manejo daquela época, a queima da vegetação.
“Os estudos mostraram que o fogo faz com que a vegetação volte ao seu estágio natural, protegendo os campos, savanas e estepes, de espécies invasoras. O engraçado é que isso já era feito pelas fazendas antigamente. A diferença é que fazemos isso de maneira controlada, um talhão por vez e com toda a segurança para os animais locais”, diz Baskoski.
Onde tudo começa
A chegada ao parque é fácil e bem sinalizada. Qualquer GPS é capaz de levar os turistas até a sede, onde são pagas as tarifas e organizado o embarques nos ônibus que levarão os visitantes às três áreas disponíveis: o Parque dos Arenitos, furnas e Lagoa Dourada.
Antes de entrar no ônibus e seguir para a primeira parada (Parque dos Arenitos), os visitantes são levados a um pequeno teatro dentro da sede para conhecer um pouco da lenda indígena que envolve a região. Essa é a primeira história que todos têm contato sobre a explicação para a formação pitoresca das rochas.
“A brincadeira começa ali, no vídeo contando a lenda, fazendo com que os visitantes já comecem a imaginar tudo”, diz Baskoski. “Cada uma das imensas rochas apresentam uma forma diferente, lembrando objetos, animais e até desenhos animados.”
Sempre liderados por um guia, desde a descida do ônibus, os visitantes são estimulados a tentar adivinhar a forma mais comum das rochas. “Ao mesmo tempo que é curioso, é uma grande brincadeira também. Entre as imagens temos um camelo, um índio, uma garrafa de refrigerante e até o Sid, personagem do filme a Era do Gelo”, diverte-se Baskoski.
Confira abaixo algumas fotos das formações e tente imaginar o que parecem:
Formação dos Arenitos
Antes desta paisagem de esculturas e formas, a região do parque de arenitos de Vila Velha era muito diferente. Há 306 milhões de anos atrás, quando os continentes ainda eram grudados, a região estava muito próxima ao Polo Sul, recoberta por enormes camadas de gelo.
“As geleiras, ao se movimentarem para as áreas mais baixas do terreno, agregavam em sua massa alguns sedimentos e fragmentos rochosos, somente descobertos após a divisão dos continentes e derretimento do gelo. As formas hoje vistas derivam da ação das águas (oriundas do derretimento), ação da energia solar, mudanças na temperatura e ação de erosão causada pelo crescimento de vegetação sobre as rochas”, explica Baskoski, com bastante entusiasmo pelo tema.
O tom rosado e alaranjado dos arenitos deve-se ao material rico em ferro que está impregnado nas rochas. Esse material é responsável, aliás, por cimentar os grão de areia na estrutura.
Furnas e Lagoa Dourada
Os dois outros destinos, também percorridos com um ônibus, são furnas e a Lagoa Dourada. A primeira parada foi na grande cratera com uma água bem azul no fundo: as furnas. Ela é bem parecida com os cenotes mexicanos ou os blue holes de Bahamas. O processo de erosão que leva a formação provavelmente é o mesmo. As águas cavam um buraco no subsolo, até que em um determinado momento sua cobertura desaba.
O parque possui seis furnas no total, quase todas interligadas pelo nível da água do subsolo. A exceção é a número três, que tem o fundo já seco. Outras duas estão no estágio terminal, ou seja, estão completamente cheias, formando lagoas. Dentre todas os turistas podem visitar uma furna ainda normal e outra já em estágio terminal (Lagoa Dourada).
A primeira parada é na furna normal e a imensa cratera gera um impacto. É surpreendente, mas a vista poderia ser melhor. Na verdade, no passado, os turistas podiam acessar a furna e chegar mais próximos da água, através de um elevador. Ele ainda está lá, abandonado e estragado por falta de manutenção e cuidados. O que resta, por enquanto, é uma vista bastante ruim das tais águas azuis no fundo do poço.
Segundo Baskoski, há um plano de retirar o elevador danificado e criar uma ponte que avançaria mais ao centro do poço, permitindo uma visão melhor. “Com a concessão do parque, esse é um dos planos citados para revitalização. Existe inclusive a chance de que seja uma ponte de vidro, quem sabe. Mas a ideia é melhorar a visão para os turistas”, comenta.
Há poucos metros dali, uma pequena e fácil trilha de pedras bem nivelada leva os visitantes até a Lagoa Dourada. Há milhares de anos atrás ela também tinha a aparência da furna anterior, mas com o passar dos anos o fundo foi se enchendo de rochas e sedimentos, e a águas se nivelou com a parte superior, dando o aspecto de lago.
Sua água é tão límpida, transparente e calma, que é possível observar peixes, mesmo em um dia nublado, como o dia da visita. Normalmente, conta Baskoski, no final da tarde o sol reflete na água, dando tons dourados em seus reflexos. Muito possivelmente a razão para o nome venda daí.
Dependendo da época do ano, não é possível visitar a lagoa, pois as águas sobem bastante e a trilha fica submersa.
Tarifas e horários
O parque está aberto de quarta a segunda-feira, fechando apenas as terças para manutenção. De segunda, quarta e quinta-feira as visitas são realizadas via agendamento prévio e com o carro do turista. Ou seja, não adianta ir até lá sem marcar, pois não há estrutura e guias para realizar o passeio.
“Durante a semana não temos guias disponíveis e nem ônibus para levar os turistas para fazer o roteiro. Os interessados devem fazer o agendamento pelo site do parque. As tarifas são diferenciadas e os turistas precisam ter carro para fazer a visita”, afirma Baskoski.
De sexta a domingo o parque fica aberto para receber todos os turistas, sem prévio aviso. Entretanto, a estrutura não comporta muita gente. Caso atinja 820 pessoas no dia, o parque se fechará.
“As tarifas são um pouco mais baratas neste dia. E há também preços e opções especiais para funcionários públicos, idosos e crianças com menos de 6 anos. Está tudo descrito no site”, diz.
O horário de funcionamento do parque é das 8h30 às 15h30. Sendo que os turistas que chegarem a partir das 15h, terão que escolher entre visitar o Parque dos Arenitos ou as furnas e a Lagoa Dourada, já que não é possível conhecer os dois com o tempo disponível.
“Normalmente os visitantes precisam de 1h30 a 2h para visitar tudo. Então é importante chegar com tempo suficiente para fazer o roteiro completo”, afirma Baskoski.
Sob nova direção
Durante a visita, Baskoski deixou claro em diversos momentos que o parque acabara de ser licitado para que uma empresa especializada pudesse gerir. O contrato de concessão de 30 anos foi assinado no dia 19 de fevereiro entre membros do governo do Paraná e da concessionária Eco Parques do Brasil S/A.
O Instituto Ambiental do Paraná (IAP) continua sendo responsável pela administração de políticas públicas do parque. O órgão também tem o papel de monitorar se a concessionária está obedecendo o Plano de Manejo da Unidade de Conservação.
“Nós precisamos dessa parceria, pois o governo não tem como investir no parque. Nossa estrutura é enxuta e antiga. Desde a revitalização não foi colocada nem uma tinta nas paredes. A ideia é colocar Vila Velha de volta ao mapa do turismo brasileiro, com todo o carinho, respeito e preservação que merece”, diz Baskoski.
Segundo ele, essa concessão é fundamental para a preservação do parque e exploração sustentável do turismo. “A empresa vencedora tem, inclusive, a obrigação de usar a mão de obra da comunidade do entorno, ajudando no desenvolvimento social da região. Eles são especialistas, já fazem a gestão das Cataratas do Iguaçu e de Fernando de Noronha”, afirma.