A trajetória de Alysson Paolinelli, que morreu nesta quinta-feira (29), foi marcada por conquistas notáveis na agricultura nacional e internacional.
Ele nasceu em 10 de julho de 1936, na cidade de Bambuí, em Minas Gerais.
Filho único do engenheiro-agrônomo Antônio Paulinelli de Carvalho e da professora Adalgisa Luchesi Paulinelli.
Em 1959, com apenas 23 anos, formou-se na Escola de Engenharia Agronômica da Escola Superior de Lavras, recebendo a honraria de melhor aluno da turma.
Logo em seguida, foi convidado para assumir uma cadeira de professor na ESAL, cargo que aceitou prontamente.
Entre 1966 e 1967, ocupou o cargo de vice-diretor da ESAL, e de 1967 a 1971, exerceu a função de diretor da instituição.
Durante seu período como diretor, também foi presidente da Associação Brasileira de Educação Agrícola Superior (ABEAS) entre 1968 e 1969.
Em seguida, assumiu o cargo de Secretário de Agricultura do Estado de Minas Gerais, de 1971 a 1974.
Sua atuação como secretário foi extraordinária e chamou a atenção do presidente Ernesto Geisel, que o convidou para ser o Ministro da Agricultura do Brasil, cargo que ocupou de 1974 a 1979.
Sua gestão no ministério representou uma grande revolução na agricultura brasileira.
Além disso, Alysson Paolinelli teve passagens importantes como presidente do Banco do Estado de Minas Gerais, de 1979 a 1983, e como presidente da Associação Brasileira de Bancos Comerciais Estaduais (ASBACE).
Também foi presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária (CNA), de 1987 a 1990, e exerceu o cargo de deputado federal da assembleia nacional constituinte entre 1987 e 1991. Entre 1991 e 1994, retornou como secretário de agricultura do estado de Minas Gerais.
Em 2011, assumiu a presidência da Associação Brasileira dos Produtores de Milho (Abramilho) e, em 2020, tornou-se titular da Cátedra Luiz de Queiroz para Sistemas Agropecuários Integrados da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, da Universidade de São Paulo (Esalq/USP).
Em 2021 e 2022, Alysson Paolinelli foi indicado ao Prêmio Nobel da Paz pelo seu relevante trabalho na produção de alimentos para o Brasil e o mundo.
Alysson Paolinelli, o ministro da Agricultura que revolucionou o campo brasileiro
No entanto, é no período em que esteve à frente do Ministério da Agricultura, de 1974 a 1979, que se destacam os momentos mais importantes de sua trajetória.
Paolinelli investiu fortemente em ciência e tecnologia, enviando 2 mil pesquisadores para realizar cursos de pós-graduação nas melhores instituições do mundo, com a condição de que retornassem ao Brasil e aplicassem o conhecimento adquirido em benefício do país.
Além disso, como ministro da Agricultura do Brasil, Alysson Paolinelli foi responsável por criar instituições, políticas e organizações que impulsionaram a modernização da agricultura tradicional. Destacam-se entre suas muitas ações o Programa de Desenvolvimento dos Cerrados (Polocentro) e o Programa de Cooperação Nipo-Brasileiro para o Desenvolvimento Agrícola dos Cerrados (Prodecer).
Posteriormente, Paolinelli desempenhou um papel fundamental na criação do Programa Nacional do Álcool (Proálcool) em 1975, o primeiro projeto mundial de produção em larga escala de um combustível limpo e renovável a partir de biomassa, ou seja, o etanol.
É importante ressaltar que, na década de 1970, o Brasil enfrentava um déficit agrícola, sendo necessário importar alimentos para alimentar sua população.
Nesse contexto, Alysson Paolinelli investiu intensamente na recém-criada Embrapa, sendo responsável por implantar 26 dos 43 centros de pesquisa que existem no país atualmente, incluindo unidades descentralizadas,, como a Embrapa Florestas e a Embrapa Cerrados, e contribuiu para o desenvolvimento do cerrado ao criar cinco centros de pesquisa na região: Cerrados, Milho e Sorgo, Arroz e Feijão, Gado de Corte e Hortaliças.
Além disso, ele fundou o Serviço de Produção de Sementes Básicas (SPSB) e dez estações experimentais nos Estados que possuem o Cerrado como bioma.
Dessa forma, o esforço de Alysson Paolinelli permitiu a transformação do cerrado em um polo dinâmico na produção agrícola, tornando-se um exemplo não só para o Brasil, mas também para o mundo.
O cerrado e a segurança alimentar
O Brasil é um dos poucos países entre os grandes produtores que possui capacidade para atender à demanda mundial de alimentos sem agredir o meio ambiente.
É por isso que Alysson Paolinelli sempre acreditou no potencial de desenvolvimento da agricultura tropical. Ele quebrou paradigmas e construiu uma nova ordem produtiva na agricultura brasileira, com impactos significativos em termos de sustentabilidade e segurança alimentar global.
A influência transformadora de Alysson Paolinelli ultrapassa as fronteiras do Brasil e projeta-se para toda a agricultura do cinturão tropical.
É importante destacar a transformação promovida por Paolinelli na agricultura, em especial a incorporação do Cerrado como um polo dinâmico na produção agrícola, servindo de exemplo para o Brasil e para o mundo.
Graças à ciência e à tecnologia, foi possível recuperar solos degradados e torná-los altamente produtivos. Antes restrita às regiões pioneiras do Sul do país, a cultura da soja agora floresce nos Cerrados, correspondendo a 46% da produção em 2019, segundo o IBGE.
No caso do milho, quase metade da produção ocorre nesse bioma. Quanto ao café, a participação do Cerrado praticamente duplicou entre 1974 e 2019.
Os reconhecimentos e resultados obtidos por Alysson Paolinelli são notáveis. Em 2006, ele recebeu o World Food Prize da Fundação Norman Borlaug, em reconhecimento à sua significativa contribuição para a segurança alimentar global. O site da fundação explica a razão do prêmio:
“Antes do trabalho de Paolinelli, o Brasil precisava importar a maior parte de seus alimentos. No entanto, nas décadas seguintes ao desenvolvimento de seu plano de produção agrícola para a região do Cerrado, o Brasil se tornou um país exportador de alimentos”.
Entre 1975 e 2020, a produção brasileira de cereais e oleaginosas aumentou de 39,4 milhões de toneladas para 268,2 milhões de toneladas (um crescimento de 680%), enquanto a área cultivada apenas dobrou, passando de 32,8 milhões para 65,2 milhões de hectares.
“O Brasil é uma estufa de 850 milhões de km² a céu aberto, que pode ser cultivada onde for necessário. O clima tropical será a grande solução para evitar a fome no mundo”, disse
Outros destaques e honrarias recebidas por Alysson Paolinelli:
- Prêmio Frederico de Menezes Veiga, da Embrapa, em 1981.
- Título de Professor Emérito da Universidade de Lavras, em 2006.
- Personalidade do Agronegócio em 2006, concedido pela Associação Brasileira do Agronegócio.
- Ordem Nacional do Mérito Científico – Classe Grã-Cruz, em 2008.
- Medalha dos 150 anos do MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento).
- Medalha Luiz de Queiroz em 2017.
- Embaixador da Boa Vontade do Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA) em 2019.
- Medalha de Honra ao Mérito Legislativo, a mais importante condecoração da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, em 2021.
- Comenda Ministro Alysson Paolinelli, criada pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB/MG) em 2021.
- Busto em Primavera do Leste/MT, uma homenagem do Sindicato Rural do município em 2021.
- Placa “O Visionário da Agricultura Tropical Sustentável”, uma homenagem da Rede Paolinelli, na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP) em 2021.
O Canal Rural transmite nesta sexta-feira (30), às 13h30, o documentário ‘Alysson Paolinelli: uma revolução no campo’. O filme reconhece o legado do ex-ministro da agricultura e engenheiro agrônomo, um dos principais líderes da revolução verde. Com depoimentos de pessoas que participaram desse desafio.
______
Saiba em primeira mão informações sobre agricultura, pecuária, economia e previsão do tempo. Siga o Canal Rural no Google News.