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Diversos

Economia deve crescer, mas inflação ficará acima da meta em 2021, diz BC

Segundo o Banco Central, a economia pode crescer 4,7% se houver recuo da pandemia e redução das incertezas do mercado financeiro

A nova projeção do Banco Central (BC) para o crescimento da economia em 2021 ficou praticamente estável. A estimativa para a expansão do Produto Interno Bruto (PIB) – a soma de todos os bens e serviços produzidos no país – passou de 4,6% para 4,7%. A informação é do Relatório de Inflação, publicação trimestral do BC, divulgada nesta quinta-feira, 30.

Segundo o órgão, a projeção depende da continuidade do esfriamento da pandemia de Covid-19, da diminuição dos níveis de incerteza econômica ao longo do tempo e da manutenção do regime fiscal de controle das contas públicas. Entretanto, há fatores que restringem o ritmo de recuperação no segundo semestre deste ano e durante o ano seguinte.

“No curto prazo, choques de oferta afetam negativamente atividade e consumo. Adicionalmente, o ciclo de aperto monetário, cujos efeitos devem ser sentidos principalmente em 2022, tende a diminuir o ritmo de fechamento do hiato [da crise econômica]”, diz o relatório.

Na semana passada, o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC elevou novamente a taxa básica de juros, a Selic, para 6,25% ao ano, mantendo a trajetória mais contracionista da política monetária para conter o avanço da inflação.

As informações utilizadas para a projeção também já incluem os preços mais elevados da energia elétrica em razão da crise hídrica, mas não contemplam cenário de restrições diretas ao consumo de eletricidade.

Outros riscos apresentados pelo BC são a própria evolução da pandemia, que segue sendo monitorada, e ações que piorem as expectativas sobre a trajetória fiscal, “que podem pressionar as avaliações de risco e a confiança dos agentes, com impactos negativos, possivelmente defasados, sobre a atividade econômica e os investimentos em particular”.

Por outro lado, segundo o BC, os indicadores econômicos recentes sugerem continuidade da evolução positiva da atividade doméstica, com “recuperação robusta” do crescimento da economia ao longo do segundo semestre.

“A continuidade do arrefecimento da pandemia e os níveis de confiança maiores que os vigentes há três meses favorecem a recuperação da atividade e do mercado de trabalho. Em horizonte mais amplo, a normalização da cadeia de insumos industriais, mesmo que apenas gradual, também deve ter efeitos positivos sobre o crescimento. As perspectivas para agropecuária e indústria extrativa, em ambiente de preços internacionais de commodities ainda elevados, também são positivas”, diz o relatório.

Oferta e consumo

Pelo lado da oferta, houve aumento das previsões de crescimento para o setor de serviços e redução para os demais. Segundo o BC, há uma tendência natural de redução na demanda por bens à medida que as famílias voltam a consumir mais serviços.

A revisão para o setor terciário, de 3,8% para 4,7%, foi influenciada por resultados melhores do que esperados no segundo trimestre, em especial em serviços de informação e outros serviços. Por outro lado, o segmento de outros serviços, que engloba atividades como alojamento e alimentação e atividades artísticas e culturais, ainda se encontra em “patamar deprimido”, mas deve continuar apresentando crescimento ao longo dos próximos trimestres, influenciado pela recuperação da mobilidade diante progresso da vacinação contra covid-19.

De acordo com o relatório, na indústria, a previsão de crescimento recuou de 6,6% para 4,7%, repercutindo, em especial, piora nas projeções para a indústria de transformação, pelas dificuldades nas cadeias de suprimentos e preços de insumos pressionados. Além disso, há pressão sobre a produção e distribuição de eletricidade, gás e água, já que a crise hídrica está ocasionando aumento da participação de usinas termoelétricas no total da energia elétrica produzida, com impacto negativo sobre o valor adicionado da atividade.

Já a revisão na projeção de crescimento da agropecuária, de 2,5% para 2%, reflete, principalmente, estimativas menores para a produção do milho segunda safra e da cana-de-açúcar em razão da intensificação de problemas climáticos.

Pelo lado da demanda, houve alta nas previsões para o consumo do governo, de 0,4% para 0,9%, sugerindo retorno aos níveis pré-pandemia em ritmo “ligeiramente mais elevado”.

Na formação bruta de capital fixo das empresas, a projeção passou de 8,1% para 16%, em especial, pela expectativa de importações no âmbito do Repetro, que é o regime que suspende a cobrança de tributos federais de exportação e importação de bens para pesquisa e lavra de jazidas de petróleo e gás natural, principalmente as plataformas de exploração. As boas perspectiva para o setor da construção também influenciaram o aumento na projeção.

“As taxas de juros para financiamentos permanecem em níveis favoráveis, vendas e lançamentos de imóveis residenciais encontram-se em patamares elevados e houve melhora recente da confiança dos empresários do setor”, diz o relatório.

Em sentido oposto, o BC espera um crescimento menor para o consumo das famílias, de 3,3% ante previsão de 4% do último relatório de inflação, divulgado em junho. De acordo com o documento, apesar da expectativa de crescimento robusto ao longo da segunda metade do ano, a revisão para baixo foi motivada pela estabilidade do consumo das famílias no segundo trimestre. Naquele período, segundo o BC, esperava-se um resultado mais positivo diante de fatores como continuidade da recuperação do mercado de trabalho e da mobilidade, retorno do auxílio emergencial e antecipação do abono salarial e do 13º salário de aposentados.

As exportações e as importações de bens e serviços, em 2021, devem variar, na ordem, 5% e 14,2%, ante projeções anteriores de 6,8% e 10,7%, respectivamente. O ligeiro recuo nas exportações repercute as menores safras de milho e cana-de-açúcar e a redução no crescimento esperado dos embarques de produtos semimanufaturados e de minério de ferro. Já a alta na estimativa para as importações decorre, principalmente, do aumento esperado nas importações no âmbito do Repetro.

Inflação

Já a inflação, calculada pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), deve encerrar 2021 em 8,5%, no cenário com taxa de juros (Selic) em 8,25% ao ano em 2021 e 6,75% ao ano em 2022 e câmbio partindo de R$ 5,25. No relatório anterior, em junho, a projeção era 5,82%.

A estimativa está acima da meta de inflação para este ano, definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), que é de 3,75%, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo. Ou seja, o limite inferior é 2,25% e o superior, 5,25%.

Caso a projeção se concretize, será a inflação mais alta desde 2015, quando atingiu 18,07%. O BC também projeta que a inflação deve ser de 3,7% em 2022 e 3,2% em 2023.

Em agosto, o IPCA fechou no maior nível para o mês desde 2000 e acumula alta de 9,68% em 12 meses, pressionado pelos preços de alimentos, combustíveis e energia elétrica. A inflação acumulada no ano até agosto é de 5,67%.

Em 2020, a inflação terminou em 4,52%, acima do centro da meta de inflação para o ano, de 4%, mas dentro do intervalo de tolerância, de 2,5% a 5,5%.

“A pressão sobre os preços deve continuar se revelando intensa e disseminada. O choque sobre preços de bens industriais não deve se dissipar no curto prazo, como sugerem indicadores recentes de preços ao produtor e a continuidade dos gargalos nas cadeias de produção que afetam alguns segmentos. Ao mesmo tempo, os preços de serviços devem continuar em trajetória de normalização, em linha com a recuperação da demanda no setor. Assim, as medidas de inflação subjacente devem se manter em patamar elevado nesse horizonte. Adicionalmente, também se espera alta significativa em preços de alimentos e preços administrados, destacando-se a forte alta nas tarifas de energia que decorre do acionamento da bandeira tarifária de escassez hídrica”, afirma o relatório do BC.

Com a alta da inflação, o BC elevou a Selic pela quinta vez consecutiva, de 5,25% para 6,25% ao ano e deve promover nova alta na próxima reunião do Copom, em outubro. A taxa básica de juros é o principal instrumento usado pelo Banco Central para alcançar a meta de inflação. A elevação da Selic, que serve de referência para as demais taxas de juros no país, ajuda a controlar a inflação porque causa reflexos nos preços, já que juros mais altos encarecem o crédito e estimulam a poupança, evitando a demanda aquecida.

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