O greening, considerado a pior doença da citricultura mundial, tem causados danos à produção do Brasil. Nas últimas cinco safras, mais de 66 milhões de caixas de laranja foram perdidas no cinturão citrícola de São Paulo e Triângulo/Sudoeste Mineiro, a principal região produtora da fruta no mundo, segundo levantamento do Fundo de Defesa da Citricultura (Fundecitrus).
Como não há tratamento para as plantas, o setor de pesquisa focou em meios para evitar a doença. O controle biológico criado no Brasil pela Esalq/USP e aperfeiçoado por meio de uma parceria entre a divisão agrícola da Bayer e o Fundecitrus tem se destacado com a liberação de pequenos insetos – vespinhas chamadas Tamarixia radiata – nas áreas não comerciais, ou seja, fora das fazendas produtoras.
- Estoques de suco de laranja devem registrar nova queda, prevê a CitrusBR
- Governo de São Paulo anuncia redução no ICMS sobre o suco de laranja
De acordo com o Fundecitrus, a incidência média de laranjeiras com sintomas de greening no cinturão citrícola é de 22,37% (7,2% a mais do que em 2020), o que corresponde a mais de 43 milhões de árvores.
O Brasil entrou, a partir do mês de agosto, na fase considerada primordial para o combate à doença. Isso porque, durante o fim do inverno e primavera, a praga conhecida como psilídeo (Diaphorina citri), inseto vetor da bactéria Candidatus Liberibacter spp., causadora do greening, atinge seu pico populacional.
O pesquisador do Fundecitrus Marcelo Miranda, coordenador da área de Entomologia da instituição, explica que o controle do greening exige a adoção de diversas estratégias conjuntas, dentro e fora dos pomares, e que o controle biológico é mais uma ferramenta sustentável, para as áreas externas às fazendas.
“O pacote de manejo do greening prevê o uso de mudas sadias, inspeção e eliminação de árvores com sintomas e o controle do psilídeo, dentre outras medidas, de forma integrada. Contudo, além de atuar dentro da propriedade, é necessário que o citricultor realize ações externas, que consistem na substituição de plantas hospedeiras do psilídeo [citros e murta] por outras plantas não hospedeiras e no controle do inseto também ao redor das fazendas. E é este último ponto que contempla o uso da vespinha T. radiata, inimigo natural do psilídeo”, diz. “Este novo conceito de controle biológico foi desenvolvido com o objetivo de evitar o aumento da população dessa praga em locais como pomares abandonados, chácaras, sítios e zonas urbanas onde há plantas de citros e murta, ajudando a evitar a migração do inseto vetor das plantas sem manejo para os pomares comerciais”, afirma o pesquisador.
Controle biológico contra o greening
O pesquisador do Fundecitrus diz que o manejo com a Tamarixia radiata não pode ocorrer em áreas com controle químico, pois ela é suscetível ao uso de defensivos. Por isso, a estratégia é usá-la em áreas externas em que não há esse cuidado. A frequência de liberações está atrelada à população de psilídeos na área, clima e época do ano.
“As vespinhas podem se alimentar de ovos e ninfas de psilídeo de 1º ínstar [primeiro estágio de desenvolvimento] e parasitam ninfas de 3º a 5º ínstares. Uma fêmea de T. radiata pode parasitar até 300 ninfas e a ação conjunta entre predação e parasitismo pode eliminar até 500 ninfas”, afirma Miranda. “O controle biológico é uma alternativa complementar e sustentável para o controle do greening, que não causa qualquer desequilíbrio ecológico, uma vez que a vespinha não atua sobre outras espécies de insetos ou plantas”, completa.
Estudos do Fundecitrus e da Esalq/USP já demostraram que a vespinha pode parasitar até 75% das ninfas de psilídeos, e trabalhos recentes do Fundecitrus demonstraram que a quantidade correta de vespinhas a ser liberada por hectare é de 3.200 insetos. Já em áreas onde não há muitas plantas juntas (como em chácaras e quintais), o manejo é realizado por planta, com a liberação de até 60 vespinhas.
Criação das vespinhas
O primeiro laboratório para criação das vespinhas surgiu em 2005, dentro da Esalq/USP, para estudos e disseminação do conhecimento. Em 2015, uma parceria entre a divisão agrícola da Bayer e o Fundecitrus levou à instalação de um novo laboratório, com capacidade para criar 100 mil vespinhas por mês, que possibilitou o aperfeiçoamento das técnicas para sua multiplicação.
“Hoje, temos materiais e cartilhas para auxiliar os produtores que têm interesse em fazer isso. Mas se engana quem pensa que é algo fácil, já que o inseto é extremamente difícil de se criar. Para isso, precisamos produzir plantas de murta, criar o psilídeo nelas, para somente então produzir as vespinhas”, conta Marcelo Miranda.
O Fundecitrus realiza a soltura gratuita das vespinhas produzidas em sua biofábrica por todo o parque citrícola, beneficiando muitos citricultores e pomares comerciais.
“A laranja é o terceiro principal produto agropecuário produzido por São Paulo em valor de produção, totalizando mais de R﹩ 5 bilhões. O controle externo é uma medida de manejo fundamental contra a doença, e a Tamarixia é um componente sustentável e de inovação dentro do manejo integrado do greening. Por isso, a importância de fomentar soluções sustentáveis que podem contribuir com o problema”, finaliza o pesquisador do Fundecitrus.