Durante seu discurso para a 26ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática (COP26), nesta segunda-feira, 1º, a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, ressaltou as ações sustentáveis da agricultura brasileira. Ainda segundo a ministra, a produção agrícola, seguindo os preceitos de conservação do meio ambiente, pode ajudar o planeta com os principais desafios da atualidade. O discurso foi gravado na sede da Confederação Nacional da Indústria (CNI), em Brasília, e transmitido durante a COP26.
“A agropecuária, realizada de maneira sustentável, é parte da solução para um duplo desafio: mudança do clima e segurança alimentar”, disse Tereza Cristina em seu discurso.
A titular da pasta da Agricultura também ressaltou as ações brasileiras que contribuem para que o país seja uma potência agroambiental. A agricultura tropical desenvolvida em território nacional colocou o Brasil em um novo patamar na produção mundial de alimentos, segundo a ministra.
“A partir de investimentos na tropicalização de variedades de plantas e animais, no desenvolvimento de práticas produtivas adaptadas às condições naturais do nosso território e na qualificação de nossos produtores, deixamos de ser um país importador líquido de alimentos e atingimos a condição de terceiro maior exportador mundial de alimentos, fibras e bioenergia”.
Tereza Cristina ainda ressaltou os investimentos feitos em pesquisa na área agropecuária, com destaque para uma das produções mais sustentáveis do planeta.
“Sobre esse ponto, quero aqui recordar o pioneirismo do Brasil no desenvolvimento de uma agropecuária de baixa emissão de carbono, que inclui, mas não se limita, à disseminação de tecnologias como o Sistema Plantio Direto, essencial para o sequestro de carbono no solo, e de inovações como a Fixação Biológica de Nitrogênio”, destacou a ministra.
Confira abaixo na íntegra o discurso de Tereza Cristina na COP26:
A agricultura brasileira é movida a ciência.
Nos últimos cinquenta anos, desenvolvemos um modelo de agricultura tropical baseado em pesquisa e inovação que conjuga de forma singular os três pilares da sustentabilidade: o social, o econômico e o ambiental. A partir de investimentos na tropicalização de variedades de plantas e animais, no desenvolvimento de práticas produtivas adaptadas às condições naturais do nosso território e na qualificação de nossos produtores, deixamos de ser um país importador líquido de alimentos e atingimos a condição de terceiro maior exportador mundial de alimentos, fibras e bioenergia.
Vejam bem: se o Brasil tivesse mantido a mesma produtividade da década de 70, seriam necessários 71 milhões de hectares a mais para produzir a mesma quantidade de soja dos dias de hoje. Isso é o efeito poupa terra. Se considerássemos toda a produção de grãos, esses números seriam ainda mais eloquentes.
Mas esse não foi o único benefício dos pesados investimentos em pesquisa e inovação. Além de produzir mais eficientemente, passamos a produzir de forma mais sustentável. Sobre esse ponto, quero aqui recordar o pioneirismo do Brasil no desenvolvimento de uma agropecuária de baixa emissão de carbono, que inclui, mas não se limita, à disseminação de tecnologias como o Sistema Plantio Direto, essencial para o sequestro de carbono no solo, e de inovações como a Fixação Biológica de Nitrogênio.
A robustez da ciência brasileira fez com que, em 2010, fosse criado o Plano de Agricultura de Baixa Emissão de Carbono, chamado de Plano ABC. Promovemos a adesão a seis tecnologias descarbonizantes. Além das que já mencionei, destaco também os sistemas integrados de produção, como a Integração-Lavoura-Pecuária-Floresta. O objetivo era recuperar 35,5 milhões de hectares já antropizados e degradados com uma das seis tecnologias de forma individual ou combinada.
Os dados da Embrapa e de outras instituições de pesquisa demonstram que, os produtores rurais brasileiros adotaram os modelos produtivos descarbonizantes do Plano ABC em mais de 52 milhões de hectares, o que equivale a mais de duas vezes a área do território do Reino Unido.
Como resultado, mitigamos a emissão de mais de 170 milhões de toneladas de CO2 equivalente, superando também as metas de mitigação do próprio Plano.
Esse processo de aprimoramento não parou. Ele é continuo e necessário para que possamos produzir cada vez mais, de forma eficiente e sustentável.
A verdade é que temos muitas áreas de pastagem que podem ser utilizadas de maneira mais sustentável. Por isso, revisamos o Plano ABC e lançamos o ABC+, que inaugura uma nova década de incentivos à produção sustentável.
O ABC+ ampliou sua ambição estabelecendo metas mais elevadas e adotando novas bases conceituais.
Uma muito importante é a abordagem integrada da paisagem. A ênfase é no uso eficiente de áreas com aptidão para produção agropecuária, com forte estímulo à regularização ambiental, à valoração da paisagem, à recuperação e conservação da qualidade do solo, da água e da biodiversidade, e à valorização das especificidades locais e culturas regionais, expandindo o conjunto de iniciativas do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento para a promoção da produção agropecuária sustentável.
Para o território brasileiro, o estabelecimento desta abordagem multifuncional potencializa a efetiva conservação dos recursos naturais, sem prejuízos à produtividade e à renda do produtor.
Além da abordagem integrada da paisagem, o ABC+ fortalece a combinação de estratégias de mitigação e adaptação, uma vez que a agricultura é particularmente vulnerável aos impactos das mudanças climáticas. Um exemplo são as tecnologias para sistemas irrigados sustentáveis, muito importantes para a mitigação de gases de efeito estufa, e essencial para a adaptação à mudança do clima.
Até 2030, iremos disseminar as tecnologias de baixa emissão de carbono a mais 72 milhões de hectares de terras agricultáveis, promovendo ganhos de produtividade em terras agrícolas já consolidadas, sem necessidade de converter novas áreas à atividade produtiva. Mitigaremos com isso a emissão de mais de 1 bilhão de toneladas de CO2 equivalente.
O potencial transformador da agropecuária de baixa emissão de carbono é enorme.
Queremos compartilhar essa experiência com países de realidades semelhantes. Apenas com a disseminação das melhores práticas a todos os produtores poderemos colher os impactos positivos que a produção de alimentos, fibras e bioenergia pode ter.
Antes de concluir essas minhas observações iniciais, gostaria de recordar a todos que, para além das tecnologias e inovações que mencionei, a realidade do território brasileiro decorre igualmente de um esforço institucional. Foi com a aprovação do Código Florestal, em 2012, que assentamos as bases para assegurar a preservação de nossas florestas. Nessa lei estipulamos que as propriedades rurais devem destinar de 20% a 80% de sua área para a preservação da vegetação nativa, a depender do bioma. Com isso, o Brasil utiliza hoje apenas 30% de seu território para a agropecuária, enquanto mantém mais de 60% com vegetação nativa. Estima-se que cerca de 25% da área preservada se encontre em propriedades privadas, algo sem paralelo em outros países do mundo, pois se trata de terreno que o proprietário não recebe para preservar. É apenas uma obrigação legal.
Além disso, devemos lembrar que o produtor rural é também um produtor de águas. Quando o solo é bem manejado pela agropecuária, a água das chuvas infiltra e promove a recarga dos lençóis freáticos. Nosso Código Florestal já estabelece a obrigatoriedade da preservação das nascentes e cursos d´água. Para além da obrigação legal, o Ministério fomenta a adoção de práticas de conservação de solo e água. Água e solo são ativos indissociáveis e essenciais para o desenvolvimento das atividades agropecuárias.
Implementando plenamente o Código Florestal brasileiro e as boas práticas incentivadas pelas políticas públicas consolidaremos a conservação ambiental aliada à produção agropecuária, reforçando a condição do Brasil de potência agroambiental.
A agropecuária, realizada de maneira sustentável, é parte da solução para um duplo desafio: mudança do clima e segurança alimentar.
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