Aliança da Soja

La Niña pode intensificar mofo branco e manchas foliares na soja. Saiba prevenir

Especialistas destacam relação entre clima e doenças da lavoura e dão dicas de manejo eficiente

O fenômeno climático La Niña pode aumentar a incidência de algumas doenças na soja nesta safra 2021/22, como o mofo branco, oídio, a ferrugem asiática e as manchas foliares. A discussão desse tema de fundamental importância ao produtor foi feita no oitavo episódio do programa Aliança da Soja.

De acordo com levantamento do Consórcio Antiferrugem, foram registrados 376 focos da praga no Brasil no ciclo 20/21, aumento de 76,5% quando comparado ao período de cultivo anterior.

Há 15 anos, a propriedade do agricultor César Trentin, no município de Palmeira das Missões, no norte do Rio Grande do Sul, sofreu com infestação de ferrugem e adotou práticas de manejo para o enfrentamento, como a rotação de cultura, aplicação eficiente de defensivos e semeadura dentro da janela ideal. Com a doença controlada, a expectativa para a safra 21/22 é manter a produtividade do ciclo anterior, de 72 sacas por hectare.

De acordo com o produtor, a mudança na lavoura após o surto de ferrugem também envolveu a mudança de equipamentos, com a adoção de bico cônico e a aplicação noturna de fertilizantes. “Com o tempo, não tivemos mais problemas com essa praga. Hoje também existem cultivares que aguentam mais a pressão da ferrugem. O vazio sanitário e as aplicações corretas e no momento certo também estão ajudando”, declara.

Oídio na soja

A cultura da soja também é afetada por outras pragas perigosas, como o oídio, que pode ser intensificada com a presença de fenômenos climáticos. De acordo com o Conselho Permanente de Agrometeorologia Aplicada do Rio Grande do Sul, a probabilidade de formação do La Niña em 2021 é de 70%.

O engenheiro agrônomo e professor em fitopatologia, Marcelo Gripa Madalosso, ratifica que a variação de temperaturas interfere diretamente na habilidade do patógeno sobreviver e causar danos. “No cenário de La Niña, as temperaturas noturnas ficam mais baixas e o oídio é uma das pragas que ‘gostam’ dessa condição”, afirma.

Segundo ele, a camada branca por cima da planta causada por essa praga atrapalha o processo de fotossíntese, fazendo com que as folhas caiam mais cedo. “A soja precisa de folha viva e verde para fazer fotossíntese e encher grão, especialmente nas cultivares mais precoces, como a soja guaxa, e o oídio tem gerado prejuízos significativos”, lembra.

Para ele, se o produtor pensar em controlar a doença já instalada, não conseguirá ter sucesso. “Ele precisa pensar em proteger a área foliar da planta e, assim, consegue evitar manchas, o oídio, a própria ferrugem e a cercóspora”.

Manchas foliares

O diretor técnico da região Centro-Norte do Instituto Phytus, Nédio Rodrigo Tormen, lembra que quando a entidade se dirige aos produtores e pergunta a respeito da doença mais importante para a soja, boa parte responde que é a ferrugem asiática. “No entanto, nas últimas cinco, seis safras, os levantamentos que fazemos sobre perdas nas lavouras têm mostrado uma importância cada vez maior das manchas foliares. Temos a mancha-alvo, a antracnose e também a mancha parda como as doenças mais tradicionalmente conhecidas pelos produtores. Nas últimas duas ou três safras, temos observado, também, a cercóspora com uma presença muito forte e causando reduções de produtividade de até 20 sacas por hectare. Já a mancha-alvo e a antracnose causam ainda mais perdas, chegando a 25 sacas por hectare”, detalha.

Segundo ele, para solucionar esses problemas, uma mudança de mentalidade do produtor no sentido de entender que essas doenças costumam acontecer desde muito cedo é fundamental. “Os fungos causadores dessas doenças sobrevivem na palhada e são disseminados também através das sementes. Então as práticas de manejo para as manchas foliares em geral incluem desde a rotação de culturas, a manutenção de palhadas, especialmente de gramíneas sobre o solo, utilização de sementes de boa qualidade e o tratamento dessas sementes de modo que se possa eliminar a presença de fungos que, eventualmente, estejam infectando-as, além da questão de proteção com a aplicação de fungicidas”, diz.

Mofo-branco

O programa Aliança da Soja também entrevistou o fitopatologista Ricardo Brustolin, que afirma que o mofo branco pode gerar perdas de até 70% na produtividade da lavoura. Segundo ele, o período de pré-disposição à infecção dessa doença na cultura da soja é o florescimento. “Em regiões de altitude maior, acima de 600 metros em relação ao nível do mar, se ocorrer chuvas frequentes, o fungo pode fechar o seu ciclo”, diz.

De acordo com Brustolin, o cultivo de outras culturas na entressafra da soja também pode agravar o aparecimento do mofo. “Produtores precisam tomar cuidado na próxima safra em que a previsão, especialmente para o Sul do Brasil, é de maior favorabilidade pela predominância do fenômeno climático La Niña, que vai trazer temperaturas mais amenas para o Sul e mais chuvas para o Cerrado”.

Assim, o produtor deve adotar diferentes medidas de controle. “Se forem medidas isoladas, ele não conseguirá ‘ganhar o jogo’ contra o mofo branco”, afirma. “Fazer a rotação e a sucessão com gramíneas é extremamente importante para quebrar o ciclo [da doença], usar sementes certificadas de alta qualidade e fazer tratamento específico, ajustar as cultivares de soja para desfavorecer o fungo, o uso dos agentes biológicos, que é uma ferramenta que cresce, mas que deve ser bem administrada pelo produtor com conhecimento e o uso de fungicidas, atentando-se às várias formas de posicionar  corretamente e personalizar de acordo com cada situação de lavoura”, conclui.

O programa Aliança da Soja é uma parceria entre o Canal Rural e a Plataforma Intacta 2 Xtend e exibido às segundas-feiras, às 13h35, com reprise às terças-feiras, às 6h30.