O sucesso de uma safra de soja envolve cuidados que vão desde o planejamento do plantio à comercialização. Desta forma, a colheita e a armazenagem são etapas críticas e que merecem toda a atenção do produtor. O 26º episódio do programa Aliança da Soja mergulhou neste universo para munir de conhecimento o sojicultor brasileiro.
A época ideal de retirada da oleaginosa do solo, por exemplo, é recomendada no instante em que o grão atinge teor de umidade entre 13% e 15%. “Neste momento, se tem as melhores condições tanto para a lavoura quanto para a máquina. Assim, não se tem perda ou quebra e a qualidade do produto colhido é melhor”, explica o pesquisador da Embrapa Soja, José Miguel Silveira.
Segundo ele, uma importante ferramenta de monitoramento de perdas na lavoura completa 40 anos em 2022: o copo medidor da Embrapa, uma tecnologia simples que ainda se mostra altamente eficiente ao sojicultor e que, na opinião de Silveira, não é utilizada de forma massiva como deveria. “Isso porque as produtividades estão muito altas graças ao melhoramento genético e todo o conhecimento que o produtor foi adquindo com o passar do tempo no processo de produção da soja. No entanto, é enganoso pensarmos que por se estar produzindo muito, não se está perdendo muito também”, declara.
Assim, o pesquisador lembra que o nível de tolerância de perdas indicado pela Embrapa é de uma saca por hectare. “Em uma armação de dois mil metros quadrados nós coletamos os grãos que ali estão e jogamos no copo. Muitas vezes nos deparamos com perdas de 2,5 sacas por hectare. No preço em que a soja está hoje, é um crime fazer isso [ter esse nível alto de perdas]”, considera.
Tecnologia de ponta não substitui copo medidor
Silveira salienta que juntamente com o copo medidor, a Embrapa disponibiliza um manual técnico a respeito da metodologia de cálculo, bem como as principais regulagens dos sistemas operacionais da colhedora. “Além disso, também enviamos uma armação de dois metros quadrados e quatro pinos para fixá-la no solo de modo que a coleta dos grãos seja o mais precisa possível”, explica.
De acordo com ele, mesmo que o produtor utilize as colheitadeiras mais avançadas, com sensores que identificam perdas, é importante fazer o cálculo com o copo medidor porque os maiores extravios de grãos acontecem no sistema da plataforma da máquina, na barra de corte, no molinete ou no sistema draper. “De 100% de perdas que temos em todo o complexo da máquina, até 90% se concentram na plataforma“, explica.
Para o pesquisador, mesmo contando com a melhor máquina possível, se o operador não for capacitado, vai ter perdas elevadas. “Hoje a Embrapa Soja tem uma parceria muito forte com o Sistema Faep/Senar na indicação de treinamentos aos operadores. São técnicos altamente capacitados que facilitam o entendimento da máquina e, dentro das ferramentas de aferição, usam bastante o copo medidor para informar como utilizar da melhor maneira possível essa ferramenta”.
Outra questão destacada pelo especialista é quanto à velocidade de operação da colheitadeira, muitas vezes exagerada pelo operador de máquina, o que contribui para o aumento das perdas. “Por isso, recomendamos velocidade de deslocamento da colhedora entre 4 km/h e 6,5 km/h, que é a velocidade de segurança”, recomenda.
Condições de armazenamento da soja
Garantir a qualidade física do grão a partir do momento em que ele chega na unidade de armazenamento é imprescindível. A engenheira agrônoma e consultora de Desenvolvimento de Mercado e Grãos Armazenados da Bayer, Vanessa Lima, também lembra que é preciso estar atento a fatores externos, como no transporte. “Estamos em período de chuva, então é necessário proteger a carga para evitar a entrada de umidade e ganhar rendimento dentro da unidade armazenadora”, afirma.
Segundo ela, no momento em que a unidade armazenadora vai receber uma safra nova, é fundamental que tenha um histórico da temporada antiga, com informações sobre o que aconteceu com aqueles grãos que estavam armazenados. “O ideal é que faça a limpeza de toda a estrutura, que é a profilaxia e envolve os cuidados de Manejo Integrado de Pragas (MIP). O importante é que se pode lavar essas estruturas se elas estiverem vazias e usar tratamento preventivo para garantir que esses grãos estejam com proteção desde o início do armazenamento. Depois, se faz todo o processo de monitoramento, com amostragens para que os grãos possam ser avaliados durante a armazenagem”, enumera Vanessa.
De acordo com a engenheira, existem dois tipos de tratamentos para grãos armazenados: o preventivo, em que são usados produtos organo-corporados e é preciso ter máquinas, equipamentos calibrados e pessoal treinado para fazer a aplicação na massa de grãos; e o tratamento curativo, quando são usados gases de controle no período em que determinada infestação for acontecendo.
A especialista da Bayer ainda destaca que por mais que a lasioderma seja a praga da soja mais envolvida na deterioração do grão armazenado, também é importante estar atento a outros insetos, já que costumam se movimentar com facilidade dentro da massa de grãos, independente da cultura.
Segundo ela, dependendo da qualidade do armazenamento, os grãos podem ficar recolhidos por até um ano. “O que importa é se atentar ao fato de a soja ter um teor de óleo muito grande, então ela precisa ter uma atenção diferente da de outros grãos”, aponta. Vanessa ainda salienta que os trabalhadores envolvidos no processo precisam ter capacitação para conhecer cada cultura armazenada e as principais pragas que causam dano econômico. Além disso, há necessidade de se fazer amostragens uniformes que representem todo o silo para que a qualidade da soja seja avaliada.