Pesquisa da Embrapa mostra os efeitos positivos do sistema de rotação de culturas. Quando o milho entra em substituição a 25% da área de soja, o aumento na média produtiva pode chegar a 17%. Para mostrar como essa diversificação é capaz de impactar no cultivo da oleaginosa, o 20º episódio do programa Aliança da Soja visitou experiências agronômicas desenvolvidas no Paraná.
Em propriedade de Rolândia, no norte do estado, por exemplo, o plantio direto é realizado desde o início da década de 1980. Lá, os 320 hectares destinados à soja são rotacionados com outros grãos e cereais para que a fertilidade do solo se mantenha.
“Uso muito milheto, braquiária, nabo forrageiro, aveia preta e branca e tremoço. São basicamente essas culturas [que utilizo] isoladamente ou em mistura. Divido a área em três partes: um terço sempre feito com essas coberturas, outra parte é plantada milho safrinha no inverno e em outra parte o trigo, que também é uma excelente opção no inverno. É uma cultura que se paga, então são essas as operações que temos fora dessas culturas que nos dão retorno financeiro”, relata o produtor rural Daniel Rosenthal.
Nas últimas safras, a diversificação de culturas na fazenda ajudou a diminuir os custos de produção, chegando a reduzir em até 40% a aplicação de insumos. O agricultor conta que a cobertura com milheto o fez alcançar médias de 60 a 80 sacas de soja por hectare.
Importância da palha e das raízes
De acordo com o pesquisador da Embrapa Soja, Henrique Debiasi, independentemente da região, a melhor situação para a soja é a rotação de culturas, porque permite a produção de palhas e raízes, que são insumos importantes para se garantir altas produtividades e quebrar o ciclo de pragas e doenças no cultivo. “Uma boa cobertura dissipa a energia da gota da chuva, evitando a formação da crosta e, com isso, se reduz as perdas de água e solo por erosão, que é o princípio básico do sistema de plantio direto”, explica.
Segundo ele, outra grande vantagem da cobertura é a redução das perdas de água por evaporação. “Quando se tem uma cobertura que fique próxima dos 100%, há uma reflexão da maior parte da energia solar, consequentemente a temperatura fica menor e se tem menos energia para a evaporação de água, perdendo menos líquido”.
O pesquisador ainda lembra que enquanto a palhada se decompõe, os nutrientes para a planta são liberados de forma sincronizada. Assim, a cobertura e a raiz que antecedem na entressafra são importantes para o desenvolvimento da oleaginosa. “Somente a palha proporcionou um aumento de 2.600 quilos por hectare (43,3 sacas) para 3.500 quilos por hectare na soja (58,3 sacas), ainda uma produtividade não muito alta. Quando tivemos só a raiz, foi também 3.500 quilos por hectare. Mas quando tivemos raiz e palha, a produtividade foi de 4.200 quilos por hectare (70 sacas)”, constata ao elencar o aproveitamento da fazenda paranaense.
Debiasi lembra que esses números foram atingidos em uma safra com déficit hídrico moderado e mostram não apenas a importância da cobertura com palha, mas também das raízes das culturas que antecedem a soja para formar uma estrutura porosa que permita maior infiltração, armazenamento de água e crescimento das raízes.
Plantio direto de soja
O diretor do Instituto de Ciências Agronômicas (Incia), Elmar Luiz Floss, considera que o sistema de semeadura direta é uma das maiores revoluções tecnológicas da agricultura moderna. “Mas ele só se sustenta com uma boa palhada com rotação de cultura e com solo descompactado. Então, quando temos o vazio entre uma cultura econômica e outra, não podemos deixar em pousio […]. Se a soja é a cultura mais importante, é fundamental diversificar cultivares na mesma área e não plantar a mesma cultivar na mesma área todos os anos. Afinal, quando diversificamos cultivares, também estamos diversificando herbicidas […] isso é importante para evitar o aparecimento cada vez maior de plantas resistentes a herbicidas”, explica.
Assim, Floss pontua que, com diferentes culturas, se aplica distintos fungicidas e inseticidas também. “A pesquisa mostrou ao longo dos últimos 30 anos, nas mais diferentes distribuições, que precisamos, principalmente na região Sul do país, de nove a 12 toneladas de palha por hectare/ano”.
No entanto, ainda que o sistema de plantio direto seja dominado pela grande maioria dos sojicultores do país, o diretor lembra que é importante salientar que palhada de soja que rapidamente é degradada por ter uma relação carbono/nitrogêncio estreita faz com que esses nutrientes se percam no ar, podendo contaminar a atmosfera. “Se nós colhemos a soja e, imediatamente, colocamos culturas de cobertura, preferencialmente o consórcio de diferentes culturas, com diferentes características e diferente sistema radicular, na medida que os microorganismos degradam a palha de soja, esse carbono e nitrogênio são aproveitados pela cultura e essas culturas protegem o solo, evitam erosão, o sistema radicular melhora fisicamente o solo e aumenta o armazenamento de água quando chove”, enumera.
De acordo com ele, a palhada, que é clara, reflete os raios solares e deixa o aquecimento do solo menor, fazendo que a perda de água também seja reduzida. O diretor do Incia lembra, também, que o princípio de sustentabilidade na agricultura prega que o solo nunca deve ficar ocioso. Assim, o contínuo ciclo de plantio, colheita e semeadura devem estar sempre se sucedendo.
O programa Aliança da Soja é uma parceria entre o Canal Rural e a Plataforma Intacta 2 Xtend e exibido às segundas-feiras, às 13h35, com reprise às terças-feiras, às 6h30.