A alta do preço dos grãos em janeiro fez subir ainda mais o custo de produção da avicultura. No estado de São Paulo, a relação de troca entre frango e milho é a pior dos últimos 12 meses. O cenário tem preocupado o produtor, que prevê um primeiro semestre difícil, já que a fraca demanda interna derrubou os valores do frango vivo no último mês.
Hoje, com um quilo de frango, o avicultor paulista compra 3,59 kg de milho. No ano passado, o valor seria suficiente para comprar pouco mais de 5 kg do grão.
A empresa de Marcelo Ortega mantém 300 aviários em Tietê (SP). Do nascimento ao abate, cada frango consome pelo menos 5 quilos de ração. Com a alta de janeiro na cotação do milho, principalmente, foi preciso desembolsar R$ 1,5 milhão para custear a produção mensal.
De acordo com o avicultor, o milho representa hoje 50% do custo da ração, cotra 45% há um ano. Já o farelo de soja responderia por 23% do valor. Em janeiro de 2014, a média de custo da ração era de R$ 913 reais a tonelada, enquanto atualmente passa de R$ 1,3 mil, diz. Esse panorama teria comprometido o fluxo de caixa da empresa.
A relação entre o que o frango está comendo e o quanto isso representa em custo tem novos contornos para o produtor atualmente, afirma o gerente de operações agropecuárias Marcelo Ribeiro Pequini. “Ela girava entre R$ 30 a R$ 32 (a saca de milho), e hoje a gente está pagando de R$ 40 a R$ 45 a saca, que são preços bem consideráveis”, afirma o gerente.
Para o próximo trimestre, a expectativa é que o preço do milho baixe, mas não o suficiente para tirar o produtor do vermelho. A recomendação dos especialistas é que o avicultor estude novas alternativas de reduzir custos de produção, sem que a produtividade seja comprometida.
O analista de mercado Osler Desouzart aconselha os produtores a não esperar por preços baixos dos grãos. “Esperem preços firmes, sobretudo no milho, porque é uma realidade com que vamos ter que aprender a lidar a partir de agora”, diz.
Desouzart afirma que o criador de aves e suínos deve continuar “franciscano” nos seus custos. “Devem continuar acompanhando vivamente o mercado e buscar aliança; não dá mais pra brigar sozinho”.
Na opinião de Marcelo Ortega, o que vai dar suporte ao produtor neste momento é a eficiência, tentando gastar o menos possível e tentar retirar disso o melhor resultado. “Caso contrário, não sei como vai arrumar dinheiro para pagar a conta”, afirma.
O preço também preocupa o setor. Em São Paulo, o valor do frango vivo caiu 15%, uma redução que deve estimular ainda mais o consumo em 2016. A ave é a melhor opção à carne bovina, sempre com preço mais alto. “As pessoas quando estão em situação de crise, como nós temos no país neste momento, tendem a migrar do produto mais caro para o mais barato”, informa Desouzart.
Segundo o analista, um crescimento de 3,5% na cotação do frango, na conjuntura atual, está de bom tamanho. “Isso porque, se tem muita gente que vai migrar da carne bovina para a de frango, tem muita gente que vai migrar do frango para o arroz e o feijão”, diz.