Quase um ano atrás, a BRF anunciou o fechamento da unidade de Campo Verde, no interior mato-grossense. Os avicultores integrados que forneciam para a empresa foram pegos de surpresa. Alexandre Borges relembra a fatídica noite em que o celular vibrou com a chegada do anúncio. “Tinha desinfetado o aviário para alojar, esperando frango, e de repente veio a notícia de que iria fechar. Ficamos sem dormir, pensando no que aconteceria”, conta.
De lá para cá, insônia e preocupação são constantes na vida desses produtores. “Não tenho entrado dentro do meu aviário. O sentimento é tristeza ao vê-lo”, diz Borges.
Para remediar o estrago, em junho de 2018, a BRF propôs um acordo: os produtores receberiam indenizações por seis meses. Mas o ano acabou e o frigorífico procurou a Associação Campo-verdense de Avicultores (Acav) para prorrogar a negociação. A empresa pediu mais 90 dias, mas a entidade recusou e o prazo foi estendido por 75 dias. O dia 28 de fevereiro é a data limite.
“Nesses dois meses e meio, a BRF nos paga um valor um pouco maior. Até dezembro, ela nos pagava R$ 21 a cada metro quadrado por dia; agora são R$ 25”, afirma o presidente da Acav, Clodoaldo Lima.
Mas o valor é considerado insuficiente para cobrir as despesas. No caso de Borges, o aviário era a única fonte de renda da família e os R$ 1.900 recebidos não cobrem as necessidades. “Prefiro nem pensar muito nisso para não ficar fraco da cabeça, porque tem hora que dá desespero”, confessa o avicultor.
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O avicultor Ederson Rodrigues tinha uma renda mensal de R$ 15 mil com a venda das aves antes da paralisação. Para garantir o sustento da família, ele migrou para a atividade leiteira. Porém, o produtor não sabe o que fazer com a estrutura montada para a avicultura. As duas granjas abrigavam mais de 40 mil aves e custaram cerca de R$ 1 milhão. “Foram 12 anos trabalhando para chegar nisso. A hora em que achei que acabaria de pagar o financiamento, aconteceu isso”, lamenta.
De acordo com a Avac, a BRF também se comprometeu em pagar pelos investimentos financiados pelos avicultores. O valor é calculado com base na média dos últimos três lotes entregues.
Só que as contas não são a única preocupação dos avicultores de Campo Verde. “Nós queremos voltar a produzir e ganhar a nossa receita. Nós temos a capacidade de abater cerca de 120 mil frangos pesados por dia. Vários produtores estavam com a cama de frango nova. Os aviários permanecem prontos para alojar, inclusive já passamos por um vazio sanitário acima da média, estamos prontos”, diz o Lima.