Pecuária

Embrapa sugere cereais de inverno e milheto para composição de rações

Pesquisadores afirmam que esses produtos são uma boa alternativa para substituir parcialmente o milho na alimentação animal quando o preço estiver alto

milheto
Foto: Sandra Brito/Embrapa Milho e Sorgo

A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) apresentou esta semana os resultados de pesquisa para utilização de cereais de inverno e milheto na substituição do milho em rações para suínos e aves.

Dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), demonstram uma relação desproporcional da área utilizada com as culturas de verão em relação às de inverno – trigo, cevada, aveia, centeio, triticale e canola – na região Sul. “Nós usamos apenas 15% da área de produção com as culturas de inverno, se compararmos com as culturas de verão”, informou Eduardo Caierão, pesquisador da Embrapa Trigo e especialista em melhoramento genético. “Temos um potencial grande para desenvolver os cereais de inverno na região Sul”, complementou.

Caierão explicou que existem vários cereais cultivados no inverno, mas o trigo tem o maior potencial para alimentação de aves e suínos. “É também o que ocupa maior extensão de área cultivada e, por isso, capaz de suprir a demanda na eventualidade de abastecer as indústrias de ração. Contudo, também observamos uma procura recente pelo triticale, que também pode ser usado na mistura da ração para aves e suínos”, detalhou.

O pesquisador destacou que o uso de cereais de inverno é uma boa alternativa para substituir parcialmente o milho na ração animal quando o preço estiver acima dos padrões, dispensando a necessidade, inclusive, de buscar o produto em outros estados, o que acarreta aumento no custo final do milho devido ao transporte.

Pesquisas contribuem para aumento de produtividade

Nas últimas décadas, a pesquisa contribuiu para o aumento da produtividade de cereais de inverno. “Passamos de uma produtividade de 700 quilos por hectare a uma média de 2,4 toneladas por hectare. E ainda temos potencial para produzir mais de seis toneladas de trigo por hectare, sem irrigação, nos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná”, disse o pesquisador da Embrapa Trigo. “Há potencial genético não só para o trigo, mas para outros cereais alcançarem a média de seis toneladas por hectare, o que dá três vezes a média que obtemos na região Sul atualmente. Porém, há muito espaço para percorrer em relação ao que a pesquisa e a genética têm disponibilizado e o que realmente está sendo obtido no campo”, acrescentou.

Adequação para uso em rações animais

Na apresentação, Eduardo Caierão enfatizou que todas as cultivares de trigo podem ser utilizadas no mercado de rações, levando-se em conta a questão energética do amido. “No entanto, é preciso identificar as cultivares mais resistentes, com maior produtividade e que apresentem boa rentabilidade com menor custo de produção possível”, explicou.

Ele citou a BRS tarumã, com potencial proteico superior ao de outras cultivares. “O que pode ser o diferencial na substituição do milho nas rações”, disse, lembrando que a Embrapa, em parceria com o setor produtivo, busca desenvolver cultivares específicas de cereais para alimentação animal. “Há muito potencial a ser explorado nessas culturas de inverno”, afirmou.

De acordo com o pesquisador, na região Centro-Oeste, sob irrigação, é possível obter rendimentos semelhantes aos da Nova Zelândia e Argentina, países com grande produção de trigo.

Milheto

A Embrapa Milho e Sorgo apresentou os resultados de pesquisa com o milheto, cereal versátil utilizado para formação de palhada em áreas de plantio direto, proteção do solo e reciclagem de nutrientes. De acordo com a entidade, o milheto também é usado na alimentação humana na África e na Índia, e sua utilização na alimentação animal começa a crescer no Brasil.

Cícero Meneses, da Embrapa Milho e Sorgo, e Jorge Ludke, da Embrapa Suínos e Aves, apresentaram o potencial do uso de grãos de milheto na alimentação de suínos e aves. Um dos destaques foi o valor proteico superior ao do milho, além de maior quantidade de aminoácidos essenciais, como a lisina, fundamental para suínos. “Com relação às suas características nutricionais, o milheto é superior ao milho e ao sorgo. É um produto que tem 30% mais proteína do que o milho”, explicou Meneses.

Segundo ele, com mais pesquisas científicas, o produto poderá se consolidar como um importante alimento na cadeia de rações. “Sabemos que, quando a soja está com preço elevado, os produtores buscam o milheto para reduzir a quantidade de soja na ração. Podemos melhorar essa oferta”, disse o pesquisador.

Ele ressaltou que, para o frango de corte, o milheto substitui o milho em 60% na fase inicial e 70% na fase final. Para suínos, o uso pode variar entre 67% na fase inicial e 86% na fase final. “É interessante notar que, no caso do frango de corte, pode-se dar o grão inteiro, resultando em uma economia muito interessante, pois não é necessário moagem e o grão pode ser armazenado na fazenda”, complementou.

O milheto é um cereal comum, porém ainda utilizado apenas na palhada. Seu ciclo é curto, variando de 75 a 120 dias, e já existem materiais no mercado de alta produtividade. A palhada do milheto é muito importante para a soja e o manejo de nematóides. Porém, de acordo com Meneses, existem carências de pesquisa, estudos de mercado e incentivos para a cadeia produtiva.