A ONG internacional Sinergia Animal publicou, nesta sexta-feira (16), a terceira edição do relatório “Porcos em Foco: Monitor da Indústria Suína Brasileira”.
A publicação traz análise das 16 maiores produtoras e processadoras de carne suína do Brasil e elenca, em ranking, as suas políticas de bem-estar animal, indo da categoria A (melhor posicionamento) à F (pior classificação).
O intuito é avaliar o progresso do setor para acabar com práticas que causam sofrimento animal. De acordo com o documento, as empresas analisadas representam cerca de 70% da produção nacional da proteína derivada dos suínos.
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Uma das novidades da terceira edição do relatório é ampliação da cadeia produtiva, uma vez que oito companhias foram avaliadas pela primeira vez, como Marfrig, Minerva, Nutribras e Ecofrigo.
Ranking das empresas
O Brasil é, atualmente, o 4º maior produtor e exportador de carne suína do mundo, de acordo com o documento Production Pork de 2023, do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA).
Entre as empresas responsáveis por esse feito, a JBS, a Pamplona e a BRF seguem liderando o ranking das que mantém as melhores práticas de bem-estar animal. Cada uma delas somou 15 pontos e mantiveram-se na categoria B, a exemplo do que mostrou o relatório de 2023 da Sinergia Animal.
Já a Aurora foi a única que retrocedeu, caindo da categoria D para a E. Na contramão de seus concorrentes, a empresa ainda não sinalizou a intenção de banir corte de orelhas e nem de adotar o sistema “cobre e solta” para novas unidades, ambas práticas já adotadas por JBS e BRF.
Entre os principais avanços, o relatório destaca a Frimesa como a que apresentou mais políticas de bem-estar animal em 2024, subindo da categoria F para a C no ranking após comprometer-se a banir procedimentos dolorosos em leitões, como corte e desbaste de dentes, corte de orelhas e castração cirúrgica.
A diretora da Sinergia Animal no Brasil, Cristina Diniz, ressalta que nenhuma das empresas avaliadas atingiram pontos o suficiente para conseguir se enquadrar na categoria A. No entanto, para ela, a indústria suína brasileira ainda tem a oportunidade de liderar pelo exemplo, adotando práticas alinhadas às expectativas globais de bem-estar animal.
Sofrimento animal e riscos à saúde pública
A avaliação mostra que o corte de caudas e o uso indiscriminado de antimicrobianos também permanecem práticas comuns. Para a Sinergia Animal, ambos são exemplos de soluções paliativas que ignoram problemas estruturais, como o estresse causado pelo confinamento em alta densidade.
“Até 75% dos antibióticos vendidos globalmente são utilizados na pecuária, e no Brasil, o consumo é alarmante: a média de 358 mg/kg de suíno produzido é o dobro da média mundial”, ressalta o relatório.
O uso de antibióticos em animais saudáveis está diretamente ligada ao aumento da resistência antimicrobiana, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).
“O setor precisa reconhecer que a resistência antimicrobiana não é apenas uma questão técnica, mas uma crise ética e de saúde pública. Políticas que restrinjam o uso de antibióticos a casos de real necessidade são um passo imprescindível para proteger não apenas os animais, mas também a sociedade”, afirma Cristina.
Para a diretora da ONG, a suinocultura brasileira precisa se mirar em exemplos internacionais, como Reino Unido e Noruega, por exemplo, países que já proibiram completamente o uso de gaiolas de gestação.