Começou na manhã desta segunda, dia 8, o 15º Congresso Brasileiro do Agronegócio, promovido pela Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), em São Paulo (SP). O evento discute o protagonismo e a liderança no setor, com empresários, políticos e representantes da imprensa.
Na abertura do evento, o presidente da Abag, Luiz Carlos Corrêa Carvalho, declarou que o agronegócio demanda do governo interino de Michel Temer mais acordos comerciais e mais defesa contra subsídios.
Corrêa Carvalho mencionou que o país precisará passar por importantes reformas, como as trabalhista, tributária e política. Defendeu, ainda, que, de agora em diante, será necessário ao setor e ao novo governo ousadia para avançar em investimentos em infraestrutura.
“Nessa hora de virada, o momento é de ousadia para fazer os reclamados investimentos em infraestrutura que trarão redução de custos para o setor”, disse o presidente da Abag.
Ele defendeu também maior abertura de mercado, melhores modais de transporte e portos e significativa redução de custos para o setor.
O papel do Estado também foi um dos temas discutidos pelos participantes do Congresso. Para o diretor da Abag André Pessôa, o mercado de crédito rural deveria ser liberado para haver competição livre e desregulamentação das regras.
“A própria competição levaria à redução das taxas de juros, e não seriam muito diferente das que são praticasse hoje com crédito subsidiado. Se este recurso fosse direcionado para a construção de um seguro de renda, tanto protegendo a safra quanto os preços, o sistema financeiro teria mais liberdade e menos risco pra emprestar para o agro e talvez com volume maior do que é disponibilizado,porque a percepção de risco seria menor”, acredita Pessôa.
Protagonismo
Para o coordenador do GV Agro, da Fundação Getulio Vargas, e ex-ministro da Agricultura Roberto Rodrigues, também participante do congresso da Abag, o agronegócio precisa se envolver nas questões que afetam a economia do Brasil, e não somente naquelas exclusivas do setor.
“Nós falamos de questões trabalhistas e tributárias que sejam do nosso interesse, do agronegócio, mas temos de participar de forma central da discussão da reforma fiscal, da questão jurídica de uma forma muito mais abrangente do que só a questão das terras”, declarou.
Segundo Rodrigues, lideranças do setor deveriam adotar essa postura para que a agropecuária brasileira conquiste, no âmbito político e da mídia, o espaço compatível com seu protagonismo na economia nacional – que, na opinião do ex-ministro, ainda não foi conquistado.
“Falta assumirmos um protagonismo fora de casa, em outras áreas além do agronegócio. Protagonismo na economia, na área ambiental. As reformas dizem respeito ao Brasil inteiro, e nós, como parte do país, não podemos ficar à parte de tais discussões”, acrescentou o ex-ministro.
Durante o painel sobre o protagonismo do agronegócio brasileiro na economia, o tema foi comentado também pelo representante da Coalizão Brasil, Clima, Florestas e Agricultura, Marcelo Furtado. Para ele, o setor precisa não apenas se comunicar mais com a sociedade como também ouvi-la mais. “O agronegócio precisa falar, mas também precisa ouvir. Afinal, quem tem que defender o agronegócio neste País é a sociedade brasileira”, declarou Furtado.
Política
O comentarista político Arnaldo Jabor também falou sobre o momento econômico pelo qual passa o Brasil. “Estamos saindo de uma calamidade publica, mas o que provocou essa situação? Há muitas razões, a mim parece que nesse momento do Brasil o que a gente chama de crise não é bem uma crise. Na crise você sabe aonde quer chegar, mas nós não sabemos ou não sabíamos onde queremos chegar”, disse o cineasta e escritor.
A senadora Ana Amélia Lemos (PP-RS) destacou o processo de impeachment da presidente afastada, Dilma Rousseff, como essencial para o prosseguimento da estabilização da economia. “Nós temos que primeiro vencer esta questão do impeachment”, afirmou Ana Amélia.
Ela ainda elogiou o ministro da Agricultura, Blairo Maggi, por sua disposição em conhecer outros setores além dos que domina, como os segmentos de grãos. “Ele conhece muito bem o setor de grãos e se dispõe a entender o que ainda não conhece. Foi ao Rio Grande do Sul conhecer o setor de fumo, formado por pequenos agricultores”, disse.
O presidente em exercício Michel Temer também foi bem avaliado pela senadora por ter sancionado o Projeto de Lei (PL) 6.459/13, proposto pela senadora entre 2011 e 2012 e que trata dos contratos de integração e estabelece condições, obrigações e responsabilidades nas relações contratuais entre produtores integrados e integradores do setor de carnes.
Por fim, Ana Amélia defendeu que novas campanhas de promoção do agronegócio ressaltem os trabalhadores e empresários do setor. “Devemos mostrar que o agronegócio é gente, as pessoas que vivem da agropecuária e seus filhos, que vivem do agro”, declarou.
Estratégia
De acordo com o economista e sócio da MB Associados José Roberto Mendonça de Barros, assim como as lideranças do país precisam aproveitar o momento político atual para revisar a estratégia de desenvolvimento para os próximos 10 anos, o agronegócio brasileiro também precisa fazê-lo.
“Líderes nacionais precisam construir, reconstruir e revisar a estratégia para o país e para os segmentos da economia, inclusive o agronegócio”, declarou.
Para o setor agropecuário, especificamente, o economista destacou como meta fazer do Brasil, em dez anos, a liderança global do setor. “Nos próximos dez anos o agronegócio nacional deve ter como meta chegar a ser o maior player global de produção agrícola e agroindustrial, sem deixar de lado o abastecimento interno”, disse Mendonça de Barros. Para tanto, ele apontou sete áreas a serem focadas pelas lideranças do setor.
A primeira delas é resolver o que o economista chamou de “pauta do século passado”, a infraestrutura e os projetos na área ainda não concretizados que diminuiriam os custos de produção do setor. Nesta pauta do século passado estariam também questões tributárias e trabalhistas. O segundo ponto apontado foi olhar a cadeia produtiva como um todo, do produtor ao distribuidor do produto agropecuário, com o objetivo de agregar maior valor aos itens da cadeia. A adoção em maior escala de medidas e equipamentos de agricultura de precisão também precisa receber atenção de lideranças agropecuárias para consolidar a posição do país no cenário agrícola global, na visão do sócio da MB Associados.
Mendonça de Barros apontou, ainda, a necessidade de avançar em práticas sustentáveis de produção, como o sistema de integração lavoura-pecuária-floresta. Por fim, enfatizou a necessidade de acabar com a dicotomia entre grandes e pequenos produtores. “Não existe mais essa dicotomia. O que não significa que não precisemos enfrentar as questões de alguns grupos, especialmente as da região Nordeste, que ainda não foram solucionadas”, afirmou.
Cooperativismo
O presidente da Cooperativa Regional de Cafeicultores em Guaxupé (Cooxupé), Carlos Paulino, falou sobre asa facilidades de trabalhar com o cooperativismo, mostrando os benefícios que existem nesse processo, como a garantia e a segurança na compra de insumos. “A cooperativa funciona como balizador de preços e garante preços justos na venda do café e na compra de insumos”.
Paulino comentou que a variação de preço no mercado de café é muito grande e, muitas vezes, envolve acontecimento fora do contexto do próprio agronegócio, como atentados e discussões políticas externas. As unidades da Cooxupé, segundo ele, mantêm painéis mostrando o desempenho das bolsas de Nova York e BMF, o que facilita o entendimento de produtores que não conhecem muito bem o funcionamento desse mercado.
“Se olhar e estiver verde, está alto; se estiver vermelho, está baixo. É muito simples”, disse o representante da cooperativa.
Presença cancelada
O ministro das Relações Exteriores, José Serra, cancelou sua participação no congresso. De acordo com a assessoria de imprensa da Abag, o ministrou comunicou o cancelamento oficial na noite de domingo, dia 7, sem detalhar motivos.
No domingo, o jornal Folha de S.Paulo destacou em reportagem que executivos da construtora Odebrecht disseram a procuradores que atuam na Operação Lava Jato em Curitiba que Serra recebeu em 2010 R$ 23 milhões, por meio de caixa dois, para sua campanha à presidência da República. Uma parcela dos recursos foi paga no Brasil e outra parte foi depositada em contas bancárias no exterior.