Associações ligadas ao agronegócio se manifestaram com preocupação em relação aos protestos de caminhoneiros em rodovias por todo o Brasil. Nesta segunda, o presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja-MT), Antônio Galvan, disse que o ato é preocupante por causa da necessidade de escoamento da safra 2018/2019 de soja antes da chegada do milho. Apesar disso, o setor se mostra preocupado com o aumento do diesel.
“A paralisação é preocupante, sem sombra de dúvida. Tem bastante soja para ser retirada”, disse. “Mas o aumento sucessivo de fretes está saindo do valor do produto. Caminhoneiro não consegue se adaptar à mudança de preço diária do diesel.”
Conforme Galvan, os produtores apoiam os caminhoneiros contra aumentos nos combustíveis. “A única coisa não compactuamos é a tabela de frete porque isso não resolve e quem pagaria a conta somos nós. Para os pleitos sobre o valor do combustível, somos solidários.”
ABPA
A Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) alerta sobre os riscos de continuidade das paralisações e bloqueios. Conforme relatos de associados, os bloqueios impedem o transporte de aves e suínos vivos, ração e cargas refrigeradas destinadas ao abastecimento das gôndolas no Brasil ou para exportações.
“A continuar este quadro, há risco de falta de produtos para o consumidor brasileiro. Animais poderão morrer no campo com a falta de insumos. Já temos relatos de unidades produtoras com turnos de abate suspenso. Contratos de exportação poderão ser perdidos e há um forte aumento de custos logísticos com reprogramação de embarque de cargas. Os prejuízos para o setor produtivo e para o País são incalculáveis’, disse a ABPA por meio de nota.
A entidade disse que também apoia a paralisação, mas entende que “o movimento deve preservar o fluxo dos alimentos e dos insumos para a produção”.
A Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo) e o Sindicato da Indústria de Carnes e Derivados no Estado do Paraná (Sindicarne-PR) também alertaram sobre a paralisação. “Todo o nosso setor de matérias primas vivas (boi, suíno, aves), e leite e o abastecimento em geral está sendo muito afetado”, informou o Presidente Executivo das entidades, Péricles Salazar.
“Nós estamos recebendo inúmeras queixas de caminhões transportando nossos produtos que são perecíveis e estão parados em várias regiões do país”, completou.
Laticínios
O Sindicato da Indústrias de Laticínios do RS (Sindilat) também se manifestou sobre a paralisação. Segundo a entidade, “o ato está represando cargas de produtos perecíveis da cadeia produtiva nas vias gaúchas e já compromete a atividade fabril nesta terça-feira”.
Segundo o Sindilat, os laticínios do estado estão impossibilitados de realizar a captação de 12,6 milhões de litros de leite cru em 65 mil propriedades rurais do Rio Grande do Sul. “Se os veículos não chegarem às propriedades dentro do prazo, os produtores terão sua produção descartada, um prejuízo gigantesco para um setor que vive momento de dificuldade ímpar em sua história”, completou a entidade.
O Sindilat disse compreender a legitimidade da manifestação e se solidarizam com o movimento dos caminhoneiros, mas, em caráter emergencial, “solicita que o governo e as autoridades competentes negociem com os manifestantes a flexibilização para o livre trânsito de caminhões de leite carregados ou não, até porque estes estão devidamente identificados para essa finalidade conforme prevê a Lei do Leite”.
Portos
Em São Paulo, a Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp) informou que a manifestação na cidade atinge a Avenida Augusto Barata, bairro da Alemoa, no acesso ao Porto de Santos.
Segundo a entidade, o acesso de veículos rodoviários de carga às instalações do Porto de Santos apresenta, desde ontem, redução nas operações de recepção e entrega de mercadorias pelos terminais. Já as operações de atracação e carga e descarga de navios ocorrem normalmente, sem qualquer comprometimento.
Atos pelo Brasil
A interdição de rodovias pelo Brasil chegou ao segundo dia em ao menos 17 estados. O ato promovido por caminhoneiros é contra a alta do diesel, já que o setor pede a redução da carga tributária sobre o combustível.
Os caminhoneiros reivindicam a zeragem da alíquota de PIS/Pasep e Cofins e a isenção da Cide (Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico). Os impostos representam quase a metade do valor do diesel na refinaria. Segundo eles, a carga tributária menor daria fôlego ao setor, já que o diesel representa 42% do custo da atividade.
Em algumas regiões, produtores rurais demonstraram apoio aos caminhoneiros. Em Mafra, norte de Santa Catarina, cerca de 500 pessoas realizaram um tratoraço no quilômetro 7 da BR-116.
De acordo com o produtor rural Marcos Eckel, que é um dos organizadores do movimento, a demanda pelo combustível no setor agrícola é grande. “Defendemos o frete para transportar nossos insumos, como o produto já colhido”, explicou.
Veja os pontos de bloqueio pelo Brasil: