O empresário Maurício Macri, 56 anos, é o novo presidente da Argentina, derrotando neste domingo, dia 22, o governista Daniel Scioli, colocando fim ao período de 12 anos de administração kirchnerista. Ao final do mandato de quatro anos do presidente eleito, o país deverá ter dobrado as exportações de trigo e ampliado fortemente seus embarques de milho, segundo algumas estimativas, conforme o prometido abandono de restrições ao comércio vigentes há anos abrirá as portas para todo o potencial do cinturão agrícola nos Pampas do país.
Com 99,17% dos votos apurados, o líder da coalizão de centro-direita Mudemos venceu com 51,4% dos votos, enquanto Scioli, representante da Frente para a Vitória e sucessor apontado pela presidente Cristina Kirchner, recebeu 48,6% dos votos, fetivamente encerrando uma briga de oito anos entre fazendeiros e a presidente Kirchner, que minava a produção e que apertou o cerco contra embarques de grãos em uma tentativa de segurar a inflação de dois dígitos.
O novo presidente da Argentina apresentou algumas propostas para a agricultura da Argentina. Entre as promessas estão a eliminação gradual das retenções de soja, a retirada imediata dos impeditivos para a venda de outros produtos agrícolas, a simplificação de impostos, incentivos às exportações e investimentos em infraestrutura.
O milho deve ter o mais rápido crescimento na área plantada devido a uma previsão de maior lucratividade sob as políticas de Macri, disse o agrônomo Pablo Adreano, que tem analisado o setor de grãos da Argentina por mais de três décadas. Ele projeta que os produtores vão ampliar a área plantada de 3 milhões de hectares para 4 milhões de hectares no ano safra de 2016/2017. As exportações de milho da Argentina poderiam crescer em 44 por cento nos próximos três anos para 23 milhões de toneladas.
Macri também prometeu reestruturar a economia argentina, eliminando a banda cambial, mas sem que haja uma “mega-desvalorização” do peso. Para ele, o preço do dólar deve ser fixado pelo mercado e não pelo estado.
Com relação à política externa, o novo presidente da Argentina afirmou que quer normalizar as relações com os países vizinhos, como Brasil, Uruguai, Chile, Bolívia e Paraguai. Ele também quer revisar a situação do Mercosul, para “potencializar o desenvolvimento da região”.
Segundo estimativas, as exportações de trigo poderiam subir de 4,3 milhões de toneladas neste temporada para 11 milhões de toneladas em 2018/2019, o que seria equivalente a cerca de 6,8 por cento do comércio global de trigo, disse Adreani. Mesmo os embarques de soja e seus derivados poderiam subir de 45 milhões de toneladas para 52 milhões de toneladas em 2018/2019, ele disse.
“Juntos podemos construir a Argentina que sonhamos”, disse Macri em seu comitê central de campanha. “É uma mudança de época que tem que nos levar ao futuro, às oportunidades que precisamos para crescer”.
Ele assumirá a presidência argentina no dia 10 de dezembro. Foi a primeira vez na história que a eleição presidencial foi decidida no segundo turno.
Repercussão
O diretor-executivo da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), Luiz Cornacchioni, acredita que a vitória do oposicionista é positiva, principalmente pela intenção do político de ampliar o comércio externo do país. “Ele deve mexer na questão do Mercosul e destravar acordos, principalmente com a União Europeia, um desejo antigo do agronegócio brasileiro”, afirmou.
Cornacchioni lembrou, no entanto, que a promessa de Macri de reduzir e até zerar a taxação de exportações de produtos agropecuários pode provocar impacto no curto prazo no mercado de soja. Com uma média de 30% de taxação sobre grãos, produtores argentinos passaram a estocar a oleaginosa, cotada em dólar, como uma forma de poupança cambial.
“Há uma ameaça ao produtor, pois o aumento nas exportações de soja argentina pode pressionar o preço da commodity, que já não é tão alto”, afirmou. “Mas o produtor brasileiro tem formas de se proteger e muitos já fizeram hedge para esta safra 2015/16”, concluiu.
O presidente do Conselho Superior do Agronegócio da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Cosag/Fiesp), João Sampaio, avaliou que o novo comandante do país vizinho deve favorecer futuros negócios da indústria brasileira de carnes. Segundo ele, o fim das “retenções” (taxação média de 30% nas exportações argentinas), prometido por Macri, estimulará a retomada de plantas fechadas, bem como possíveis negócios das companhias.
Fontes do setor apontam que a Minerva Foods teria interesse em aquisições de unidades na Argentina, o Mafrig pretende vender plantas e ainda o JBS pode retomar processadoras paralisadas após as exportações serem prejudicadas pelas “retenções”.
Apesar de ter um status sanitário parecido com o Brasil e não agregar valor como o Uruguai – que exporta há tempos para Estados Unidos e China -, a Argentina é vista como estratégica pelas companhias do setor por ter acesso a importantes mercados na Europa.
Para Sampaio, no geral, o agronegócio da Argentina deve retomar a competitividade internacional com o novo governo. “Se Macri seguir o que falou, vai mudar parte significativa da economia, ampliar as exportações com a eliminação das retenções e melhorar a competitividade”, afirmou o presidente do Cosag/Fiesp, que esteve reunido há uma semana com representantes do setor na Argentina e observou um clima “de euforia” entre os ruralistas com a iminente vitória de Macri, confirmada neste domingo.