Na tarde da última sexta-feira, dia 25, uma barragem de minério de ferro da Vale rompeu-se na cidade de Brumadinho, próxima a Belo Horizonte (MG). Com isso, uma onda de rejeitos da mineração — uma lama grossa e escura — avançou sobre mais de 300 funcionários da mineradora e dezenas de moradores que viviam perto, em uma zona rural.
Entenda tudo o que foi divulgado sobre a tragédia até o momento.
Lugares afetados
O principal local atingido foi o centro administrativo da Vale, de acordo com o Corpo de bombeiros. No momento do rompimento, cerca de 300 funcionários estavam no local.
Até o último sábado, dia 26, cerca de 180 pequenos agricultores haviam relatado perdas, informou o Ministério da Agricultura.
Mortos e desaparecidos
Segundo o porta-voz da Defesa Civil de Minas Gerais, tenente-coronel Flávio Godinho, 382 pessoas foram localizadas e 191 foram resgatadas. Outras 292 permanecem desaparecidas.
Dos 60 mortos, 19 foram identificados até o momento. Há ainda 135 pessoas desabrigadas.
Operações de resgate
A Defesa Civil divulgou em seu último relatório que cerca de 280 homens do Corpo de Bombeiros participam das equipes de buscas por sobreviventes nas áreas afetadas.
Durante coletiva de imprensa, o porta-voz do Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais, tenente Pedro Aihara, lembrou que o tipo de atuação realizada pelas equipes de busca e resgate é bastante delicada, já que envolve milhões de metros cúbicos de rejeito. A previsão, segundo ele, é que os homens permaneçam no local por semanas.
“As chances de encontrar pessoas com vida são muito pequenas considerando o tipo de tragédia, que envolve lama”, disse, ao explicar que os rejeitos dificilmente permitem a formação de bolsões de ar. “É uma operação de guerra, que demanda esforços e compreensão de todas as partes”, concluiu.
Parceria com Israel
Durante o sábado, 26, o presidente Jair Bolsonaro conversou com o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, sobre ajuda na busca de pessoas desaparecidas após o rompimento da barragem.
“Por telefone, o primeiro-ministro de Israel nos ofereceu ajuda para a busca de desaparecidos no desastre de Brumadinho. Aceitamos e agradecemos mais essa tecnologia israelense a serviço da humanidade”, informou via Twitter .
No domingo, dia 27, o presidente Jair Bolsonaro voltou a se pronunciar nas redes sociais e informou que a delegação de soldados israelenses chegaria por volta do meio-dia.
“Após contato com o Primeiro-ministro de Israel, @netanyahu , chegam hoje, às 12h, em Belo Horizonte-MG, recursos humanitários e profissionais; São 140 pessoas e 16 toneladas de equipamentos destinados a busca de desaparecidos em Brumadinho.”
Crime e punição
A procuradora-geral da República, Raquel Dodge, afirmou nesta segunda-feira, dia 28, que os responsáveis pela tragédia devem responder criminalmente.
Nesta terça-feira, dia 29, ela se reúne com o o presidente do Supremo Tribunal Federal, Dias Toffoli, para conversar sobre quais serão as prioridades do Judiciário e do Ministério Público em relação ao caso.
“É preciso responsabilizar severamente do ponto de vista indenizatório a empresa que deu causa a esse desastre, e também promover a persecução penal, a punição penal é muito importante”, destacou a procuradora.
Raquel Dodge afirmou que será conduzido um trabalho minucioso para identificar as áreas nas quais foram cometidas as infrações e a devida responsabilização: cível, ambiental, criminal e trabalhista.
Segundo ela, é preciso concentrar as atenções no local onde estava a sede da mina, abaixo da barragem, e em toda região atingida.
“O local onde foi instalada a base dessa empresa, na linha direta do rompimento da barragem, é algo que precisa ser avaliado adequadamente, não só do ponto de vista das normas trabalhistas, onde é claro que já houve uma infração, mas também do ponto de vista criminal, porque colocou em potencial risco às pessoas que ali trabalhavam e a população que estava instalada em pequenos sítios e pequenos condomínios atingidos por essa tragédia”, afirmou.
O presidente em exercício, Hamilton Mourão, também defendeu a punição para os responsáveis. “Agora, tem que punir mesmo, punir mesmo”, afirmou.
“Punição tem que ser a que dói no bolso que já está sendo aplicada. Segundo, se houve imperícia, imprudência ou negligência por parte de alguém dentro da empresa, essa pessoa tem que responder criminalmente. Afinal de contas, quantas vidas foram perdidas nisso aí?”, acrescentou.
Até o momento, a Justiça já determinou o bloqueio de R$ 11,8 bilhões das contas da mineradora.
Indenização e auxílio
Para Raquel Dodge, o pagamento de indenização para as famílias das vítimas e os atingidos pela tragédia deve ser prioridade. “É preciso que elas tenham algum tipo de socorro. Muitos perderam o modo de trabalho, o modo de financiar a própria vida”, enfatizou.
O Ministério da Cidadania informou que vai antecipar o pagamento do Bolsa Família para os beneficiários do programa que vivem em Brumadinho. Com a medida, os beneficiários poderão sacar o dinheiro a que têm direito sem precisar seguir o calendário do programa. Atualmente, 1.506 famílias da cidade mineira estão inscritas no Bolsa Família.
De acordo com a assessoria da pasta, o ministro da Cidadania, Osmar Terra, visitou a região nesta segunda-feira e informou que planeja implantar medidas adicionais de apoio à população local, incluindo a antecipação do pagamento do Benefício de Prestação Continuada (BPC), que deverá ser anunciada nos próximos dias.
Cadastro no Bolsa Família
O governo federal decidiu também prorrogar, por 60 dias, o prazo para que as famílias atualizem seus dados junto à administração municipal do programa Bolsa Família. O objetivo é evitar que tenham o pagamento prejudicado, já que, em situação normais, deixar de atualizar o cadastro pode resultar na interrupção do repasse.
Os beneficiários que perderam o cartão do programa ou os documentos poderão fazer o saque por meio de uma guia de pagamento que deve ser retirada com os gestores municipais do programa.
Outras informações podem ser obtidas nas Centrais de Relacionamento do Ministério da Cidadania (0800-7072003) e da Caixa Econômica Federal (0800-7260101).
Comunidade indígena
Uma equipe de servidores da Fundação Nacional do Índio (Funai) foi deslocada no domingo, dia 27, para Brumadinho (MG) a fim de auxiliar as cerca de 20 famílias indígenas que vivem em uma aldeia de São Joaquim de Bicas, próxima ao local onde a barragem se rompeu.
Segundo a fundação, mais de 80 indígenas Pataxó Hã-hã-hãe vivem na aldeia Naõ Xohã, às margens do rio Paraopeba. Fonte de sustento para a comunidade, o rio foi atingido pela lama e por dejetos minerais, ameaçando o abastecimento não só dos índios, mas também dos moradores de várias cidades cuja água para consumo vem do Paraopeba.
De acordo com a Funai, localizada em um local seguro em relação ao acidente, a aldeia indígena não foi atingida pela alta do nível do rio e não há registro de feridos. Até ontem, a comunidade tinha pequenas reservas de água para consumo próprio.
Contatada por voluntários, a Funai também disponibilizou um caminhão para arrecadar donativos que devem ser levados à aldeia ainda hoje, principalmente garrafas de água. O presidente da fundação, Franklimberg de Freitas, está articulando com o comando da operação em Brumadinho o apoio da empresa e dos órgãos governamentais.
Comparação com Mariana
Em novembro de 2015, a barragem do Fundão da Samarco – empresa administrada pela Vale – rompeu e arrasou o município mineiro de Mariana, deixando 19 mortos. O episódio é considerado o maior desastre ambiental do Brasil. Foram despejados 32,6 milhões de metros cúbicos de rejeitos de mineração.
Até o momento, o Corpo de Bombeiros confirma 60 mortos em Brumadinho. Neste caso, a barragem tinha capacidade para 12 milhões de metros cúbicos, mas não se sabe ainda quanto vazou.