Ainda pouco utilizada para o escoamento de cargas agrícolas no Brasil, a cabotagem pode se consolidar no país a partir da aprovação do projeto de lei 4199/20, conhecido como BR do Mar. Segundo Thiago Péra, coordenador técnico do Grupo de Pesquisa e Extensão em Logística Agroindustrial (Esalq-Log), com maior movimentação de cargas por cabotagem, o preço médio do frete rodoviário pode ser menor em todo o país.
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“A cabotagem é uma opção interessante para o escoamento de mercadorias, devido ao tamanho da costa brasileira. Com a BR do Mar, o custo da cabotagem irá reduzir. Como consequência, podemos diminuir a demanda por caminhões para fluxos mais longos para diversos setores da economia. Com a maior oferta de transporte rodoviário, certamente teremos um menor custo para fretes de curtas distâncias, projeta o coordenador da Esalq-Log.
Péra acrescenta que o avanço da cabotagem não cria uma “competição” entre navios e caminhões na movimentação de cargas. “É importante ressaltar que a cabotagem é uma operação multimodal, e, na maioria das vezes, será feita de forma simultânea com modais rodoviários ou ferroviários, a exemplo do que acontece com o etanol, que sai do porto de Santos (SP), e é distribuído via terrestre no Norte e Nordeste”, complementa.
Redução de custos
Com a aprovação do BR do Mar, o agronegócio brasileiro espera por uma redução dos custos para transportar cargas entre os portos nacionais. Segundo dados da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq), 160 milhões de toneladas de cargas foram escoadas via cabotagem de janeiro a outubro deste ano. No entanto, o volume de produtos do campo movimentados nessa modalidade ainda é baixo.
Devido aos altos custos, hoje não é comum o agro utilizar a cabotagem. Ainda assim, a Antaq tem registros de movimentação do setor agroflorestal, com 1,7 milhão de toneladas de madeira; de soja, com 17 mil toneladas; trigo, com 28 mil toneladas; e etanol, com a movimentação de 550 mil m³ em 2019.
Na avaliação de Thiago Péra, o segmento de fertilizantes pode ter benefícios com a movimentação de cargas entre portos nacionais. “Com a demanda crescente de fertilizantes, os produtores brasileiros podem concentrar a importação no porto, e, posteriormente, fazer distribuição do produtos nos portos via cabotagem”, destaca.