Além de ficar abaixo do limite de 100 pontos que separa otimismo e o pessimismo do setor, o indicador dos primeiros três meses deste ano ainda é o pior da série histórica da pesquisa, iniciada no último trimestre de 2013.
A sondagem, divulgada nesta quarta, dia 29, pela Fiesp e pela OCB durante a Feira Internacional de Tecnologia Agrícola em Ação (Agrishow), em Ribeirão Preto (SP), também apurou o menor nível da série histórica na confiança de todos os elos da cadeia: a indústria antes da porteira (insumos agropecuários), depois da porteira (alimentos) e os produtores rurais.
A confiança da indústria de insumos agropecuários caiu 15 pontos no primeiro trimestre de 2015, para 73,6 pontos, em relação ao último levantamento, quando o indicador registrou 88,6 pontos. A queda é atribuída ao fraco desempenho das vendas de defensivos agrícolas e fertilizantes, ligadas à alta do dólar, e ainda das máquinas no início do ano, por conta dos problemas de crédito.
O IC Agro mostrou, ainda, que a confiança da indústria de alimentos recuou 3,5 pontos, para 88,1 pontos, em meio ao arrefecimento da economia. A desvalorização cambial, neste caso, impediu uma queda maior do índice, em razão do perfil exportador das companhias que compõem a amostra.
Entre os produtores agrícolas, a confiança piorou 10,3 pontos, para 86,8 pontos, na comparação com o trimestre anterior, com 97,2 pontos. O resultado foi influenciado, principalmente, pelas preocupações com a situação econômica do País, segundo as entidades.
Das variáveis apuradas para o índice de confiança dos produtores rurais, apenas a expectativa com a produtividade e com o setor se mantiveram em 100 pontos, ou seja, dentro da neutralidade entre o otimismo e o pessimismo. A confiança dos produtores com a oferta de crédito ficou em 95,3 pontos no trimestre, também pior resultado da série, forte baixa ante os 112 pontos no quarto trimestre de 2014. A queda da confiança quanto ao crédito foi motivada principalmente pela dificuldade enfrentada pelos produtores em obter o recurso de pré-custeio para a aquisição antecipada de insumos.
Apesar da recuperação dos preços do leite e da manutenção em níveis elevados da arroba do boi gordo, a confiança dos pecuaristas caiu 7,8 pontos na comparação trimestral, de 98,3 pontos no quarto trimestre de 2014 para 90,4 pontos no primeiro trimestre de 2015. Na pecuária de corte, a piora da relação de troca na reposição do bezerro explica em grande parte o resultado.
Expectativas
O levantamento apontou que, no primeiro trimestre de 2015, 48% dos entrevistados citaram as condições climáticas e o aumento dos custos de produção como itens de maior preocupação, em linha com o resultado anterior. A alta incidência de pragas e doenças, a falta de trabalhador qualificado e o preço de venda do produto são os próximos itens que mais preocupam os produtores.
O IC Agro também mostra as intenções de investimento do agronegócio brasileiro e, na sondagem atual, 68% dos produtores agrícolas e 73% dos pecuaristas informaram que pretendem investir mais em tecnologia. Ainda segundo a sondagem, apenas 13% dos produtores agrícolas demonstraram disposição de investir na aquisição e modernização de máquinas e equipamentos, enquanto 21% devem investir mais no aperfeiçoamento da gestão de pessoas.
Conjuntura
Segundo a Fiesp e a OCB, a queda do IC Agro ocorreu por conta do conturbado cenário político e econômico do País.
– Um dos poucos setores a apresentar desempenho positivo nos últimos anos, apesar dos reflexos negativos gerados pela crise econômica, o agronegócio agora demonstra maior preocupação em meio a um cenário político e econômico conturbado no País – informaram em nota as entidades.
Para o presidente da Fiesp, Paulo Skaf, o produtor começa a olhar o efeito do câmbio nas aquisições de insumos agropecuários e uma possível piora na relação de troca, já que os preços das commodities, especialmente os grãos, recuaram.
– Outro aspecto importante é a constatação de que, apesar da vocação exportadora, o setor não está alheio à crise econômica enfrentada pelo Brasil, uma vez que o nosso mercado doméstico é o mais importante vetor de crescimento para uma série de produtos do agronegócio –informou Skaf.
Já para o presidente da OCB, Márcio Lopes, “mais preocupante ainda é que, juntamente com o aumento dos custos de produção, o índice de expectativas está menor que as condições atuais, o que deve fazer com que os produtores deem passos cada vez mais cautelosos e com a necessidade de planejamento de custos”.