O sargento Eduardo Oliveira Santos mantém uma relação que vai além do trabalho com o cavalo Bizantino. Há 14 anos, os dois dividem a rotina no Regimento de Polícia Montada 9 de Julho (RPMon) em São Paulo. O animal o acompanhou durante sua trajetória profissional, desde a época em que era soldado na corporação. Agora, após mais de uma década juntos, o equino está prestes a se aposentar.
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Dentro da cavalaria da Polícia Militar, um cavalo chega, em média, até os 20 anos com condições de prestar serviços à sociedade de forma saudável. Após essa idade, uma comissão composta por veterinários, policiais do setor de logística e pelo comandante-geral do regimento, coronel Clodoaldo da Cruz, avalia se o animal tem condições de continuar o trabalho na corporação.
“O mais importante é aposentar o cavalo com a saúde boa, não há idade mínima para isso”, disse o 1º tenente Lucas Carvalho da Costa, chefe da comunicação social do RPMon. Os equinos podem entrar para a reserva antes dos 20 anos por problemas de saúde como tendinite ou lombalgia, mau comportamento ou problemas no policiamento, como apresentar uma postura muito agressiva.
Bizantino completará 19 anos em novembro e integra o 1º Esquadrão Operacional do Regimento, responsável pelo patrulhamento nas ruas e controle de multidões, como em manifestações, jogos, shows e grandes eventos. O animal foi designado ao sargento Oliveira, que ficou responsável pelo cuidado após entrar no regimento.
Todo dia de trabalho, o sargento chega pela manhã na baia e faz a “manutenção” do Bizantino — escova, limpa e dá banho. Esse cuidado conta com o apoio de veterinários e de policiais que alimentam o equino. O apego criado nesse tempo foi tão grande que o cavalo já faz parte da família.
“Quando tem encontros familiares, os parentes nem me perguntam como estou mais, já querem saber como o Bizantino está”, brinca Oliveira.
O sargento conta que a “todo momento tem o cavalo em suas recordações” e que não o deixa de visitar nem mesmo durante as férias. “Quando é aniversário dele e eu estou em casa, sempre venho até o regimento comemorar com ele. Canto parabéns com alguns instrumentos como gaita, trompete e flauta. É simbólico para mim.”
A saudade foi ainda maior quando seu companheiro precisou ficar cinco anos na Academia de Polícia do Barro Branco, na zona norte da capital paulista, por conta de uma logística de policiamento. “Revê-lo foi um momento muito feliz. Encontrei ele em um destacamento do Parque Água Branca, em 2017. Só no ano seguinte ele conseguiu ficar no regimento de forma fixa”, conta.
Doação
Apesar de muitos momentos juntos, o policial não sabe se no futuro continuará com o Bizantino. Após o cavalo se aposentar, ele será colocado em uma lista de doação.
“Cavalos da PM não são vendidos ou leiloados, nós doamos. E a prioridade da doação sempre será de quem cuida do cavalo. Caso o policial não tenha condições de cria-lo, é oferecido para outros policiais da unidade. Se ninguém se interessar, aí abrimos ao público, que, geralmente, entra em contato”, disse o tenente da RPMon 9 de Julho.
O interessado em adquirir o equino precisa cumprir alguns requisitos como ter local adequado e apresentar condições de cuida-lo. O cuidador também não pode vender ou doar o cavalo para terceiros. Depois da aquisição, os policiais do regimento fazem visitas até o terreno do “comprador” para checar se não há nenhuma irregularidade com o cavalo. Caso tenha, apesar de não ser comum, o animal é devolvido ao regimento para uma nova doação.
“Meu sonho é levar o Bizantino comigo. Mas hoje não tenho condições. Moro em um apartamento e cuidar de um cavalo requer despesas, mas quem sabe”, disse Oliveira. O sargento mora em Caieiras, na Grande São Paulo.
Interessados
Já há uma família interessada em ficar com o Bizantino quando ele for para a reserva. Em 2022, Clara Valentina, de 6 anos, visitou o regimento da PM. Os pais são de Caldas Novas, Goiás, e vieram até a capital paulista para tratar a doença da filha, que tem câncer na tireoide.
“Quando soube disso, falei comigo mesmo que ia dar tudo de mim nessa visita. Logo pensei no meu cavalo, e coloquei ela para dar uma volta nele. Depois disso, em todo lugar que ela ia falava que andou no Bizantino”, relembrou o sargento.
A menina realizou a cirurgia neste ano e foi um sucesso. “Os pais dela me contaram que a primeira coisa que ela perguntou quando acordou foi onde estava o Bizantino”, disse Oliveira. Os pais de Clara estão em contato com o policial para avaliar a doação do equino, que iria para um terreno na cidade onde moram.
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