De janeiro até os últimos dias do ano, a população de Santa Catarina enfrentou um verdadeiro turbilhão climático que assustou, provocou mortes e prejudicou a produção de alimentos em várias localidades.
Quando o ano começou, poucos poderiam esperar por uma estiagem que foi considerada a mais severa desde 1957 no meio oeste do estado, ao mesmo tempo que vendavais e chuvas torrenciais castigassem moradores dessas e outras regiões.
Em fevereiro, o Centro de Socioeconomia e Planejamento Agrícola (Epagri/Cepa) já previa queda na safra por efeitos da estiagem e da confirmação de um ano de La Niña. Em março, a primeira onda de frio foi registrada no estado e a falta de chuva se intensificou. Em abril, o governo anunciou as primeiras medidas para minimizar a estiagem, enquanto a safra de grãos diminuía e a produção de leite também se mostrava 20% menor.
Em maio a chuva começou a aparecer, em algumas oportunidades acompanhada de ventos. Também foi um mês marcado por uma nova onda de ar polar, fazendo com que as temperaturas caíssem significativamente.
Ciclone bomba
No dia 30 de junho, os ventos de até 120 km/h surpreenderam os catarinenses que tomaram o conhecimento de um tipo de ciclone devastador: o ciclone bomba. Segundo informações do Corpo de Bombeiros e da Defesa Civil, as rajadas de vento passaram de 100 km/h, destelhando casas, derrubando árvores e deixando muitas cidades sem energia elétrica.
Na cidade de Chapecó, importante polo processador de proteína animal no estado, uma idosa de 78 anos morreu atingida por uma árvore. Em Santo Amaro da Imperatriz, um pedestre foi atingido por fios de alta tensão após a queda de uma árvore e também não resistiu.
Em Tijucas, o desabamento de uma casa terminou com uma morte e uma pessoa estava desaparecida até o início da noite desta terça. Segundo o Corpo de Bombeiros, todas as regiões do estado foram afetadas, sendo que a mais castigada foi justamente a região oeste.
O levantamento das Coordenadorias Regionais da Defesa Civil, no dia do evento, indicava 25 municípios atingidos no estado. Foram registradas pelos Bombeiros 900 ocorrências no meio-oeste, oeste e extremo oeste.
De acordo com a Somar Meteorologia, um ciclone é um intenso sistema de baixa pressão atmosférica (onde os ventos giram no sentido horário), e que se forma muitas vezes na costa da região Sul . Eles recebem os nomes de tropicais, extratropicais ou subtropicais dependendo da região de formação e alguns outros fatores mais complexos. A pressão no centro de um ciclone é medida em ”hPa” (hectopascal).
Neste dia, houve a formação de um ciclone extratropical, que é bastante comum nesta época do ano e está associado a frentes frias. O que não é tão comum é a queda rápida de pressão no centro do ciclone, como acontece agora. Um ciclone ”bomba” nada mais é do que uma área de baixa pressão, que apresenta uma queda mais rápida na pressão atmosférica de 24 hPa ou mais em um período de 24 horas. Esse fator é o que diferencia um ciclone normal e um ciclone ”bomba”.
Tornado
No dia 14 de agosto, foi a vez de um tornado atingir o estado e causar grande prejuízo a produtores de suínos e aves da região. O micro-integrador de suínos Marcos Spricigo relatou ao Canal Rural que granjas foram completamente destruídas em municípios da região, como Treze Tílias, Água Doce, Tangará, Pinheiro Preto e Ibicaré.
Ao menos dois de seus integrados foram severamente afetados: Mário Concatto, de Treze Tílias, e Hélio Padilha, de Água Doce. Dois mil suínos desses dois produtores ficaram desalojados.
O monitoramento meteorológico da Defesa Civil de Santa Catarina (DCSC) confirmou o registro de dois tornados no estado: um tendo como epicentro o município de Água Doce; o segundo, em Irineópolis, a 100 km de distância. O órgão registrou granizo, chuva forte e rajadas intensas de vento, principalmente nas regiões do extremo oeste, oeste e meio-oeste do estado. Os municípios mais afetados durante a tarde foram Vargem Bonita, Catanduvas, Água Doce, Tangará e Ibicaré, onde rajadas de vento provocaram destelhamento e destruição de edificações.
Estiagem severa
Após esses eventos impactantes, o que se viu foi uma estiagem duradoura, que impactou significativamente o agro do estado.
Com apenas metade das chuvas previstas para o ano até novembro, os prejuízos causados se agravavam a cada semana. O déficit hídrico no Estado, de acordo com dados da Epagri/Ciram, ultrapassava, há um mês, os 900 mm nas principais regiões produtoras de proteína animal: oeste, extremo oeste e meio oeste. A seca já é considerada a pior dos últimos 15 anos e está derrubando a produção agropecuária catarinense.
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Segundo os dados hidrológicos do Epagri, esta situação se compara ao pior cenário já registrado pela instituição no ano de 1957. Nas regiões mais afetadas pela estiagem, 80 cidades decretaram situação de emergência. Pelos dados do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), entre agosto, setembro e outubro de 2020, assim como em 2019, a chuva ficou bem abaixo da média e esta é a seca mais severa desde que começaram a coletar os dados em 1961, pouco depois do Epagri, confirmando assim uma estiagem histórica.
“Santa Catarina era o quarto maior produtor nacional até novembro do ano passado, quando os produtores plantaram o milho para silagem. Foram 220 mil hectares, porém houve queda de 40% na produção, em função da falta de chuvas no final do ano. Após isso, tivemos falta de chuvas para as pastagens e quando a gente viu que o preço do leite subiu e o produtor poderia aumentar a produção, ele foi impedido de dar ração para as vacas pelos altos preços dos insumos. A saca de milho que estava R$ 35,00 em janeiro no Estado, passou para R$ 87 e a tonelada de farelo de soja que estava R$ 900 em janeiro, já está R$ 2.800. Sem alimentos para as vacas, os produtores ficaram sem saída, estão selecionando os melhores animais e descartando os mais velhos”, explicou Enori Barbieri, vice-presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Santa Catarina (Faesc).
Chuva torrencial
Pelo menos 20 pessoas morreram após uma chuva que atingiu o estado no dia 17 de dezembro nas cidades de Presidente Getúlio e Ibirama. A tragédia fez com que o presidente Jair Bolsonaro sobrevoasse a região e oferecesse apoio do Exército nas operações realizadas.
A chuva torrencial derrubou encostas e levou casas, provocando imensa destruição nas cidades mais atingidas. Em Presidente Getúlio, 147 pessoas ficaram desabrigadas e 8 desalojadas. Já em Ibirama foram 92 desalojados e 21 desabrigados.
Faltando pouco mais de uma semana para o fim de 2020, o deseje de todo catarinense é que o ano de 2021 tenha um clima não tão severo, seja pelo lado da estiagem, das ventanias ou das chuvas.