A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) quer buscar um consenso com os caminhoneiros para o impasse gerado após a publicação da tabela de preços mínimos de frete. A entidade convidou representantes das associações de transportadores para reuniões na próxima semana, sem a intermediação do Palácio do Planalto, ministérios ou parlamentares.
O encontro deve ser realizado entre terça-feira e quarta-feira, dias 12 e 13 de junho. A visão, de ambos os lados, é que o governo mais atrapalha do que ajuda a solucionar a questão, ainda mais depois da trapalhada ocorrida na última quinta-feira, dia 8, com a publicação de um novo tabelamento que durou apenas quatro horas e teve que ser revogado.
“A CNA procurou os caminhoneiros porque nas reuniões do Fórum Permanente para o Transporte de Cargas ficou muito claro que a questão não é entre caminhoneiros e produtores rurais, que esses dois setores estão sendo sacrificados pelos desmandos das autoridades”, confirmou uma fonte da entidade. A CNA, no entanto, mantém a posição contrária à tabela de fretes e admite ir à justiça contra a aplicação dos valores mínimos caso não haja entendimento com a categoria dos caminhoneiros.
O presidente da Associação Brasileira dos Caminhoneiros (Abcam), José da Fonseca Lopes, diz que não há conversas sobre extinção da tabela, mas confirma a busca por consenso com embarcadores e empresários sem a participação do governo. “Está havendo encaminhamento nessa linha, o caminho correto seria esse. Aceitamos a posição de haver negociação entre os presentes, sem governo. Vamos discutir o valor ideal, não pode ser mão grande”.
Ainda segundo Lopes, é possível ter um entendimento entre caminhoneiros e contratantes. “Tem que ver uma fórmula de negociar com os embarcadores, eles é que estão pegando pesado, que entendem que tem que derrubar a tabela. Não é assim que vai resolver o problema, é ter entendimento para os dois lados. Inclusive, tirar o governo nessa primeira negociação pra ver se entra em entendimento. Aí vamos puxar o governo para avalizar tudo o que foi discutido. Não é momento para ameaça de greve, a greve está em segundo plano agora. O que precisamos é bom senso pra chegar a denominador comum e isso a partir da semana que vem vai acontecer”
“Governo cria guerra pra se livrar do problema”
A tabela de preços mínimos de fretes já era uma demanda dos caminhoneiros na primeira grande greve, em 2015, mas o setor produtivo conseguiu convencer os transportadores da inviabilidade da medida. A pacificação para o fim da paralisação, na época, veio com a criação do Fórum Permanente para o Transporte Rodoviário de Cargas, em maio daquele ano, que reúne todos os agentes envolvidos e serve como órgão consultivo para a apresentação de propostas para este segmento. Ou seja, um ambiente de diálogo e tentativa de solucionar os problemas sem radicalismos.
Segundo uma fonte envolvida no debate, a situação ainda não foi solucionada porque o governo repete os mesmos erros do passado, além de estar mais fraco. “Como foi em 2015, o governo jogou caminhoneiros contra o agronegócio, mas o negócio deles é o transporte do agronegócio. Em 2015, o governo tentou botar a tabela, fomos convidados a discutir a tabela e desmontamos o desentendimento entre caminhoneiros e agronegócio. Dessa vez, eles não nos convidaram pra mesa, não tivemos acesso. O governo está tão desmoralizado que não sabe pra que lado correr”. Em reportagem publicada pelo jornal Folha de S. Paulo, o ministro da Fazenda, Eduardo Guardia, fala que o tabelamento “talvez não seja a melhor solução para os caminhoneiros e para a sociedade como um todo”.
O setor produtivo quer mostrar para os caminhoneiros que “o buraco é mais embaixo” e engrossar o discurso contra o governo, principalmente para mostrar os velhos e repetitivos problemas no setor logístico. “Nosso problema não é com os caminhoneiros. Nosso custo logístico é 3 ou 4 vezes maior que dos americanos e argentinos. Os governos não fazem sua parte, mas não somos palhaços de governo nenhum. Então agora vamos entortar o governo de vez. Vamos engrossar, ir pra cima do governo. No setor portuário, por exemplo, desde antes de 2013 foram paralisadas as licitações, não saem, não aumentam capacidade portuária onde precisa para aumentar a competição. Quem está pagando para não ter licitação? Para emperrar esse país? Será que não tem gente aceitando esse jogo internacional para o Brasil não ir pra frente?”.
Na terça-feira, a Comissão de Agricultura da Câmara dos Deputados vai realizar uma audiência pública para debater o aumento dos combustíveis e o impacto no setor agropecuário. Diversas entidades e autoridades foram convidadas para o encontro.