Se o acordo de fusão entre Bayer e Monsanto, anunciado nesta quarta, dia 14, for aprovado por órgãos regulatórios, a companhia resultante da fusão será a líder global de insumos agrícolas em termos de vendas. A operação também será a maior envolvendo a companhia alemã ao longo de sua história, assim como a maior aquisição de uma empresa estrangeira por uma alemã.
O peso da divisão agrícola para o grupo Bayer como um todo aumentaria ainda mais, passando a responder por aproximadamente metade das vendas da companhia, comparado com os cerca de 30% de 2015. A outra metade corresponderia à divisão de saúde humana (que inclui negócios farmacêuticos).
A confirmação da operação por órgãos antitruste também marcaria uma nova fase da atuação da Bayer no setor agrícola. Se por um lado a Monsanto conquistaria a posição de líder global em sementes transgênicas, por outro impulsionaria a aposta da companhia alemã, um dos maiores players globais em defensivos, no segmento de sementes de alta tecnologia para atender à crescente demanda alimentar global. Para tanto, precisará antes obter a aprovação de cerca de 30 agências regulatórias em todo o mundo, na estimativa dos executivos das duas empresas.
Alguns investidores da Bayer demonstraram recentemente sua preocupação sobre o que consideram uma “abrupta mudança” na estratégia da empresa sob o comando do CEO Werner Baumann, que assumiu o posto em 1º de maio deste ano, apenas algumas semanas antes da primeira oferta de compra da companhia norte-americana pela Bayer.
Pelo acordo, a atual sede da Monsanto em St. Louis, em Missouri, nos Estados Unidos, abrigará também a sede global da nova companhia para a área de sementes. A divisão de proteção de cultivos ficará sediada em Monheim, na Alemanha, com escritórios importantes também em Durham, na Carolina do Norte, e em outras localidades dos Estados Unidos e outros países. As atividades da área de agricultura digital (digital farming) das duas companhias ficarão baseadas em São Francisco, no estado da Califórnia, também nos EUA.
Outra questão a ser enfrentada pelo novo grupo, se confirmada a fusão, diz respeito ao uso da marca Monsanto. Desde 1996, quando lançou as primeiras variedades de soja e de algodão geneticamente modificadas, a companhia lida frequentemente não apenas com o retorno positivo dos clientes, mas também com críticas do setor e da sociedade em geral.
Boa parte dos produtores reconhece a capacidade da biotecnologia de simplificar o controle de insetos e pragas, mas isso não evitou que a empresa fosse recorrentemente questionada sobre os preços mais elevados de seus produtos e enfrentasse problemas para receber os royalties por suas tecnologias. Além disso, são frequentes as críticas para o sistema agrícola atrelado à biotecnologia, marcado por produção de alimentos em massa, que poderia, segundo os críticos, provocar efeitos ao meio ambiente e à saúde humana.
Tanto Baumann como o CEO da Monsanto, Hugh Grant, declararam que ainda não determinaram se manterão a marca Monsanto caso o acordo seja concretizado – o que deve ocorrer até o fim de 2017. Grant disse apenas que a Monsanto está disposta a ser “flexível” na definição desta questão.
Negócio
Alguns analistas acreditam que a empresa alemã terá de se desfazer de algumas áreas de negócios nas quais compete com a Monsanto, como sementes de algodão e canola, e também herbicidas.
Mas Baumann declarou que “as sobreposições (de produtos e negócios) são muito poucas”. O executivo não fez avaliações sobre quais questões regulatórias as empresas devem enfrentar, mas afirmou que “se houver sobreposições (de negócios), vamos buscar atender às demandas regulatórias”.
O preço por ação da Monsanto, de US$ 128, estabelecido no acordo anunciado, ficou abaixo da projeção de alguns analistas, que previam que o acordo poderia ser fechado por US$ 135 por ação. Segundo Grant, o Conselho de Administração da Monsanto avaliou todas as opções, inclusive manter a companhia independente, e concluiu que a oferta da Bayer foi a melhor alternativa. “Estou muito confortável com o preço”, declarou Grant.