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Diversos

Conheça as principais doenças do trigo no Brasil e suas causas

A diversidade nos ambientes aptos para a produção da cultura faz com que a padronização nas estratégias de manejo das doenças seja mais difícil

A diversidade de ambientes adequados à produção de trigo no Brasil dificulta a padronização das estratégias de manejo das doenças que afetam a cultura. O trigo pode sofrer com o ataque de fungos, vírus e bactérias em diferentes fases de desenvolvimento da lavoura.

A melhor forma de controle de doenças nas lavouras é a resistência genética das plantas. Contudo, nem sempre os atributos de sanidade das cultivares estão associados com alto rendimento de grãos ou forragem, ou mesmo com características de qualidade demandada pelos diversos segmentos do mercado. Ainda, em muitos casos, ocorre a mutação do patógeno, e as cultivares sofrem quebra de resistência para determinadas doenças.

Trigo
Foto: Débora Fabrício/Canal Rural

Diferenças ambientais, como clima seco, úmido, chuvoso, frio, calor, altitude da lavoura, tipo de solo ou rotação de cultivos e histórico da área podem favorecer ou frear naturalmente determinadas pragas e doenças no trigo.

A equipe de fitopatologia da Embrapa Trigo identificou as doenças que ocorrem com maior frequência na cultura do trigo, dividindo as regiões tritícolas do Brasil em Centro-Sul (Paraná, SC e RS) e Cerrado/Sudeste (MS, GO, DF, BA, MG e SP).

Doenças 

Entre os principais problemas causados por doenças na cultura do trigo no Cerrado brasileiro destacam-se podridão-comum de raízes, estria-bacteriana, brusone, mancha amarela e mancha marrom da folha.

“Sem dúvida, a brusone ainda é o maior desafio na região. Apesar dos avanços na resistência das cultivares, em anos com alta severidade da doença os danos ainda são impactantes, com resultados nem sempre satisfatórios no controle químico”, comenta o pesquisador João Leodato Nunes Maciel.

Na Região Centro-Sul, as doenças mais frequentes no trigo são nanismo-amarelo da cevada, mosaico do trigo, oídio, ferrugem da folha, mancha amarela e giberela. A preocupação maior do setor produtivo é com a giberela, fungo que ataca as espigas e pode resultar em contaminação dos grãos por micotoxinas.

Porém, na safra passada, o clima seco causou perdas por viroses e oídio, doenças que contam com cultivares resistentes disponíveis no mercado. Em anos mais chuvosos, o mosaico têm sido problema, principalmente em solos compactados, além da preocupação com a quebra de resistência das cultivares para ferrugem da folha.

  • Nanismo-amarelo da cevada

O nanismo-amarelo em cereais de inverno foi descrito no Brasil em 1968. Causado, predominantemente, por Barley yellow dwarf virus, uma das principais viroses em cereais de inverno na região Sul.

A transmissão ocorre por afídeos (pulgões), principalmente, Rhopalosiphum padi, do outono à primavera, e por Sitobion avenae na primavera. O dano à produção de trigo depende da tolerância/resistência das cultivares e da incidência da doença, sendo em média de 20%. Em anos secos e quentes, o dano pode ser maior devido à multiplicação e à dispersão de afídeos.

O sintoma mais evidente é o amarelecimento das folhas no sentido ápice-base. Porém, os danos já iniciam quando o vírus é introduzido no sistema vascular da planta durante a alimentação dos afídeos. O vírus degenera células do floema, resultando em redução do crescimento de raízes, da estatura e massa da parte aérea e do tamanho das espigas (com esterilidade basal e apical). Pode ocorrer o escurecimento das espigas (confundido com outras patologias).

O manejo inicia na escolha da cultivar. As cultivares disponíveis são suscetíveis ao vírus, mas variam em tolerância. Cultivares intolerantes podem perder mais de 60% do seu potencial produtivo. O segundo passo é o manejo dos afídeos. Com a ação de inimigos naturais, as populações de afídeos não costumam atingir níveis que causem dano direto, mas causam danos pela transmissão do vírus, sendo necessária ação complementar com inseticidas. Quanto mais cedo ocorrer a infecção, maiores serão os danos. Recomenda-se o tratamento de sementes (TS) com inseticidas sistêmicos que, em geral, dura até 30 dias após a semeadura.

Antes de encerrar este prazo, deve-se monitorar a lavoura para avaliar a população de afídeos. Aplicações em parte aérea (PA) devem ser realizadas se a população atingir 10% das plantas com pulgões. A partir do espigamento, o nível é de 10 pugões por espiga. Em 2019, o manejo do nanismo-amarelo (TS + PA) rendeu 71 sacas por hectare contra 48 sacas/hectare na testemunha sem inseticidas.

Plantas de trigo com sintomas de nanismo-amarelo                              Foto: Douglas Lau
  • Mosaico do trigo

No Brasil, o mosaico do trigo ocorre principalmente no Rio Grande do Sul, em Santa Catarina e no sul do Paraná. Originalmente atribuído ao Soil-borne wheat mosaic virus, demonstrou-se que uma nova espécie de vírus está associada à virose, o Wheat stripe mosaic virus. O vírus é transmitido por Polymyxa graminis, microrganismo residente no solo e parasita obrigatório de raízes de plantas.

Os danos à produção costumam ser limitados às áreas da lavoura onde o vetor se concentra, mas sob condições de alta umidade, grandes áreas podem ser comprometidas. Cultivares suscetíveis semeadas em áreas com inóculo, quando a precipitação pluvial mensal acumulada supera 200 milímetros, apresentam danos ao redor de 50% na produtividade de grãos.

O longo período de sobrevivência do vetor no solo e a ampla gama de plantas hospedeiras dificultam o controle desta virose de outra forma que não por meio da resistência genética. Atualmente, há cultivares disponíveis com resistência, que podem ser empregadas em áreas com a doença. Algumas práticas culturais podem contribuir para reduzir o impacto da doença.

A produtividade de grãos aumenta com maior disponibilidade de nitrogênio, mas depende do nível de incidência da doença, pois, acima de 30%, pode não haver efeito compensatório do nitrogênio na produtividade de cultivares suscetíveis. A incidência de mosaico tende a ser menor em áreas com rotação de culturas do que em monocultura trigo-soja. Com o aumento do período sem trigo, a incidência da doença reduz e ocorre incremento na produtividade de grãos.

Plantas de trigo com sintomas de
mosaico                             Foto: Douglas Lau
  • Oídio 

O oídio, causado por Blumeria graminis f. sp. tritici, é uma das primeiras doenças foliares que aparece em cada safra de trigo. No Brasil, é encontrado na Região Sul e em lavouras irrigadas nas Regiões Centro-Oeste e Sudeste. A redução no rendimento de grãos varia entre 32% e 79%; porém, na média de anos normais, varia entre 5% e 8%, diminuindo o número de espigas por área (quando a doença ocorre no início da safra) e o número e o tamanho de grãos por espiga (quando ocorre em estádios mais tardios). 

Oídio é fungo biotrófico que se mantém, na entressafra, sobre plantas voluntárias e em restos culturais de trigo, sendo disseminado pelo vento. A germinação, a infecção e a produção de novos conídios são completadas entre 5 dias e 10 dias, o que leva à ocorrência de muitos ciclos consecutivos da doença, principalmente entre 18 ºC e 22 ºC. Em climas temperados, temperaturas muito baixas ou longos períodos de chuvas, no outono, retardam a epidemia. 

A superfície das plantas, principalmente a folha, fica recoberta por micélio, conidióforos e conídios de aparência pulverulenta, com coloração branca quando jovem, ou cinza, quando envelhece. 

Aparece principalmente em folhas inferiores, mas pode causar crestamento em folhas superiores, espigas e aristas de cultivares suscetíveis.. Tecidos foliares infectados tornam-se amarelados e, quando severamente atacadas, as folhas colapsam e caem.

Plantas de trigo com sintoma de oídio                                      Foto: Leila Costamilan
  • Ferrugem da folha

A ferrugem da folha do trigo é causada pelo fungo Puccinia triticina Eriks., patógeno biotrófico, altamente especializado, com diferentes raças virulentas, faixa estreita de hospedeiros e de ocorrência mundial. Ataca todos os órgãos verdes da plântula e da planta adulta. Os sintomas ocorrem principalmente nas folhas como lesões elípticas, formando pústulas com uredósporos de cor alaranjada.

O desenvolvimento da doença ocorre rapidamente a temperaturas entre 10 °C e 30 °C e, em condições favoráveis, com alta densidade de inóculo e em cultivares suscetíveis, os sintomas podem aparecer em outros tecidos verdes da planta. Puccinia triticina sobrevive somente em tecidos vivos dos hospedeiros, mas os uredósporos têm vida relativamente longa e podem permanecer no campo, longe dos hospedeiros por várias semanas. A presença do inóculo na lavoura e a disseminação de esporos do fungo pelas correntes de ar, mesmo a longas distâncias, são garantidas pelas plantas voluntárias hospedeiras nas entressafras.

As perdas dependem do estádio da planta em que a doença incide e da severidade. Maiores perdas podem ocorrer quando a folha bandeira é infectada antes da antese, devido à contribuição desta folha na fotossíntese e no rendimento de grãos. Em cultivares suscetíveis, os danos podem ser superiores a 60%, se não for efetuado o controle químico.

O uso de cultivares com resistência genética é a medida de controle mais eficiente e econômica. A resistência de planta adulta (RPA) é uma alternativa estratégica de controle, uma vez que não causa intensa pressão de seleção para raças virulentas do patógeno, pois permite o desenvolvimento da doença sem causar redução econômica no rendimento da cultura.

No planejamento da lavoura, preferencialmente, deve-se escolher cultivares com resistência genética, indicadas pela pesquisa cuja relação encontra-se na publicação “Informações Técnicas para Trigo e Triticale

Folha bandeira de planta adulta de trigo com sintoma de ferrugem da folha        Foto: Cheila Sbalcheiro e Alceu Vicari
  • Mancha-amarela

A mancha-amarela do trigo é uma doença economicamente importante no Brasil pelo fato de, em consequência da redução da área verde foliar, reduzir também o rendimento dos grãos. No início do desenvolvimento da doença, ocorrem lesões em forma de pequenas manchas de coloração marrom-bronzeada, que se expandem para manchas ovais ou em forma de diamante. 

Em volta das lesões é comum a ocorrência de um halo clorótico com um ponto mais escuro ao centro da lesão. A doença é mais severa em folhas mais velhas, após a emissão da folha bandeira. Entretanto, a planta pode ser infectada e apresentar sintomas desde a emissão das primeiras folhas, ainda jovens. 

Essa infecção inicial ocorre, muitas vezes, pelo inóculo primário presente nos restos culturais deixados sobre o solo, entre uma safra e outra. O agente causal da doença é Pyrenophora tritici-repentis um fungo necrotrófico, ou seja, que sobrevive e se desenvolve sobre restos culturais. O ciclo da doença consiste em estágios sexuais e assexuais do patógeno. 

O fungo sobrevive saprofiticamente na palha de trigo ou de outros cereais/gramíneas, onde pequenos corpos pretos (pseudotecia), contendo ascósporos sexuais, se desenvolvem e amadurecem. Esses ascósporos constituem o inóculo primário, capaz de infectar as plantas logo após a emergência do solo, durante a emissão das primeiras folhas, mas principalmente no período de perfilhamento da cultura, quando as folhas inferiores permanecem em contato com a palhada.

Folhas de trigo com sintoma de mancha-amarela Foto: Flávio M. Santana
  • Giberela

A giberela ou fusariose, doença que afeta espigas e grãos de trigo, é causada pelo fungo ascomiceto Gibberella zeae. A principal forma assexuada do patógeno é Fusarium graminearum Schwabe, mas várias espécies são responsáveis por epidemias mundiais, como Fusarium culmorum e F. avenaceum.

Os sintomas iniciais são observados nas aristas, que desviam do sentido daquelas de espiguetas não afetadas. Posteriormente, aristas e espiguetas adquirem coloração esbranquiçada ou cor de palha. Em cultivares muito suscetíveis, os sintomas progridem para o pedúnculo, que adquire coloração marrom. Também podem ocorrer nas espigas sintomas similares aos da brusone.

A giberela induz à produção de grãos chochos, enrugados, de coloração branco-rosada a pardo-clara e o tamanho varia em função do estádio de desenvolvimento em que é afetado. Sinais do patógeno, de cor laranja na fase assexual e com pontuações escuras, ásperas ao tato, na fase sexual, poderão ocorrer.

Os prejuízos por giberela decorrem da redução de rendimento, que é subestimado, e o patógeno pode afetar as espigas a partir do espigamento; os grãos, quando formados, são leves e eliminados na colheita juntamente com a palha.

Espigas de trigo com sintoma de giberela e sinais do patógeno Foto: Maria Imaculada Pontes Moreira Lima
  • Podridão-comum de raízes

Os principais patógenos encontrados em análises sanitárias de sementes de trigo produzidas no Cerrado brasileiro são Bipolaris sorokiniana e Pyricularia oryzae. São estes os fungos que também estão mais frequentemente associados à podridão-comum de raízes e à morte de plântulas, que se observam nas lavouras de trigo daquela região.

Para o controle, recomenda-se a realização de análise sanitária das sementes e, se for constatada a presença desses patógenos, é indicado o tratamento com fungicidas para sementes destinadas ao cultivo em lavouras com rotação de culturas. No Cerrado, a duração do ciclo da cultura do trigo é menor do que a duração dos cultivos realizados no sul do país.

Nestas circunstâncias, o tratamento de sementes com fungicidas ainda se torna mais justificável, pois a proteção promovida pelo fungicida é proporcionalmente mais duradoura em relação ao ciclo total de desenvolvimento da cultura.

  • Estria-bacteriana

A estria-bacteriana, causada por Xanthomonas translucens pv. undulosa, é uma doença relativamente comum nas lavouras de trigo do Cerrado brasileiro. Embora possa ocorrer em todos os estádios e em todos os órgãos das plantas, é mais comum nas folhas, onde aparecem estrias longitudinais, translúcidas quando observadas contra uma fonte de luz artificial ou brilho do sol.

As medidas de controle da estria bacteriana são de caráter preventivo e estão associadas aos cuidados com as sementes, as quais devem estar livres do patógeno. Defensivos usados na parte aérea das plantas não demonstraram eficiência para controlar a estria bacteriana e bactericidas, no tratamento das sementes, produziram resultados contraditórios.

  • Manchas foliares

Nas lavouras de trigo no Cerrado brasileiro, a mancha-marrom das folhas, causada por Bipolaris sorokiniana, é a mais comum, mas a mancha-amarela, causada por Drechslera tritici-repentis também costuma aparecer.

Os sintomas da mancha-marrom começam por pequenas manchas ovais, marrom-escuras, podendo coalescer, tornando-se maiores. O sintoma característico da mancha-amarela são lesões pequenas, no início, de formato oblongo ou ovalado, com um halo amarelo.

Os dois patógenos, B. sorokiniana e D. tritici-repentis, são necrotróficos, e podem sobreviver na palha de trigo de um ano para outro, condição que determina que a rotação de culturas deva ser considerada no manejo integrado dos dois tipos de manchas.

O tratamento de sementes com fungicidas é muito importante em lavouras onde não se pratica a monocultura de trigo. A aplicação de fungicidas na parte aérea também compõe o manejo integrado das duas doenças. Muitas formulações contendo a mistura de fungicidas dos grupos químicos triazol e estrobilurina são indicados pela pesquisa para o controle das manchas na parte aérea.

Folha de trigo com sintoma de mancha-marrom            Foto: João L. Nunes Maciel
  • Brusone

Os sintomas de brusone do trigo, doença causada pelo fungo Pyricularia oryzae, podem aparecer em folhas, colmos e espigas, mas o dano mais significativo ocorre nas espigas. Em lavouras de sequeiro no Cerrado brasileiro, com semeaduras precoces, a ocorrência de brusone nas folhas pode se configurar em um grave problema, a ponto de promover perda total da lavoura.

Também é uma doença de grande importância econômica no meio-norte do Paraná. A condição mais comum de dano por brusone em lavouras de trigo ocorre em uma combinação das seguintes circunstâncias: plantas em estádio de espigamento, temperatura variando entre 24 ºC e 28 ºC e períodos constantes de chuva, com manutenção de alta umidade relativa.

Cultivares de trigo disponibilizadas mais recentemente apresentam nível significativo de resistência à doença, destacando-se BRS 404, ORS 1401, ORS 1403, TBIO Sossego, TBIO Sonic, TBIO Mestre e CD 116. Entretanto, a ausência de imunidade à doença impede que o controle de brusone, baseado em resistência varietal, seja completamente satisfatório.

O controle químico de brusone na parte aérea das plantas de trigo baseia-se no princípio de que a espiga deve estar protegida preventivamente à infecção do patógeno. No entanto, se não houver condições favoráveis para a infecção, não é preciso fazer a aplicação do fungicida.

Na condição do Cerrado, normalmente, é a chuva que forma o molhamento necessário para iniciar a infecção. Vários experimentos de campo determinaram que fungicidas comerciais com mancozebe na sua formulação foram os de maior eficiência para controlar a brusone do trigo.

Plantas de trigo com sintoma de brusone nas espigas Foto: João L. Nunes Maciel

Mais detalhes sobre cada uma das doenças citadas estão publicados no artigo da Embrapa, “Doenças da cultura do trigo no Brasil“.

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