No sábado, dia 20, a cidade de Juara (MT) abrigava uma exposição agropecuária. A grande atração foi o rodeio. Durante a sua apresentação, o peão Webert Cordeiro conseguiu permanecer por poucos segundos em cima de um touro. Caiu, foi pisoteado pelo animal e morreu. A comoção tomou conta do público e de seus colegas de rodeio. Conheça um pouco da história do peão.
Curica. Esse era o apelido carinhoso que Webert recebeu dos amigos de profissão. Isso por conta de seu corpo franzino. Além disso, seus colegas lembram de ele ser conversador, muito extrovertido e companheiro. Era também ligeiro e amava de paixão o que fazia..
Antes da fama, trabalhava como gerente de fazenda. Estudou até a sexta série e logo descobriu que estudar não era a sua verdadeira vocação. Então, ligeiro como sempre, aos 15 anos conseguiu sua primeira gineteada. Para chegar lá, teve de ludibriar a mãe.
“Ele mentiu para minha mãe. Trouxe um documento para ela assinar dizendo que era da escola. Na verdade, era uma autorização para ele montar. De lá para cá, nunca mais parou”, afirma Werica Cordeiro Batista, irmã de Curica. “Ele sempre foi menino trabalhador, honesto, amoroso. Um guerreiro”, completa.
Nascido em Nova Xavantina (MT), foi para o município de Água Boa (MT) ainda bebezinho. Ali viveu até o último sábado. Era filho de Isabel Maia Batista, de quem ele dizia ter muito orgulho e cuidava com muito carinho.
O amor pela mãe justificava um ritual. Ele adorava macarronada e nunca saía para alguma montaria sem antes comer a comida preparada por ela.
Seu pai se chama João Cordeiro Batista, mas a relação não era próxima. João se separou de Isabel quando o peão era ainda pequeno. A família é completada pela irmã, Werica, para quem Curica era um verdadeiro ídolo.
Webert tinha um filho de 11anos, Guilherme Pereira Batista, fruto de um relacionamento passageiro. Também era o pai de coração da pequena Yasmin Isabelli, de 7 anos, filha apenas da atual esposa do peão, Ingrid Ferreira Bispo, carinhosamente chamada por ele de Nega. Eles não eram casados, mas viviam em união estável havia quase 7 anos.
“Eele era um bom pai, um excelente marido. Entrou na minha vida para fazer a diferença. Minha filha tinha ele como um herói. Mesmo não sendo filha legítima dele, ele a tratava como se fosse. Era apaixonado por ela”, afirma Ingrid.
O jovem peão era muito bom no que fazia. Encarava a profissão com orgulho e dedicação. Tudo o que conquistou foi em cima do lombo de violentos touros. Era um verdadeiro especialista na lida com esses animais.
Neste ano, foi o campeão do rodeio de Nova Xavantina (MT). Antes disso, foi campeão mais de 20 vezes em rodeios, ganhou muitos prêmios ao longo da carreira, carros, uma caminhonete, sete motos e um bom prêmio em dinheiro.
“Ele era o nosso líder e quem escolhia os touros para a nossa equipe montar. Um ser humano fantástico. Gostava de desafiar os bois mais difíceis”, afirma o companheiro de brete Abraão Moral Pereira.
Webert já sofreu muitos acidentes em virtude da profissão que abraçou. O mais grave foi durante uma festa de peão em Barretos (SP), em 2013. Levou o pisão de um touro na barriga e ficou cerca de seis meses parado. Ele procurava diminuir os riscos sendo um profissional precavido. Só montava equipado. Capacete e o colete formavam a sua armadura inseparável.
“Pedia tanto para ele largar para lá essa vida, mas não tinha jeito. Dizia que nasceu para viver perigosamente essa adrenalina. E que, se algum dia morresse em cima de um boi, morreria feliz”, lembra a mulher do peão.
Infelizmente esse dia chegou no último sábado. Um touro pesando aproximadamente 800 kg, conhecido como Chernobyl, pisou no peito, na altura do coração de Curica.
“Já fazia três semanas que ele estava fora de casa. Essa seria a última festa antes de voltar para casa. Eu sempre orava a Deus, pedindo para ele voltar. Antes de participar dessa, ele me disse: ‘Nega, só vou participar dessa festa por conta do compromisso firmado, queria mesmo era voltar para casa’.” Foi a última conversa entre eles. Depois disso, veio a notícia triste.