Uma reportagem publicada no site da revista Veja mexeu com as entidades do agronegócio paulista. A revista relaciona o advogado Tiago Cedraz, citado na Operação Lava Jato como “facilitador” de negócios junto ao Tribunal de Contas da União (TCU), à aprovação de contas irregulares da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo (Faesp). Lideranças querem que entidade dê explicações sobre o caso.
– Estamos elaborando neste momento um ofício ao presidente Fábio Meirelles pedindo explicações sobre estes fatos que foram publicados pela Veja. Queremos um posicionamento da Faesp sobre cada uma destas supostas irregularidades – diz o presidente da Câmara Setorial da Citricultura, Marco Antônio dos Santos.
A notícia no site da revista coloca sob suspeita o processo de aprovação das contas da Faesp pelo TCU, após cinco anos de análise e um parecer apontando diversas irregularidades. A revista aponta uma relação entre o escritório de advocacia da Faesp e recentes denúncias de um dos delatores da operação Lava Jato. O escritório que atende a Faesp pertence a Tiago Cedraz, filho do presidente do TCU e apontado por um dos delatores da Lava Jato como facilitador de aprovações no Tribunal.
As contas
O caso não é novo. Durante cinco anos o TCU analisou detalhadamente as contas de 2005 da Faesp e apontou irregularidades. No relatório de mais de 50 páginas a que o Canal Rural teve acesso, o relator do processo, Marcos Bemquerer Costa, detalha problemas como gastos sem comprovação e convênios sem planilhas de custos para prestação de contas. O relatório recomendava o pagamento de uma multa de R$ 500 mil, entre outras medidas. Mesmo assim, as contas foram aprovadas em 2010.
O ex-presidente do Sindicato Rural de Altinópolis João Abrão se diz indignado com a notícia e também pede explicações.
– Isso é um vexame para a agricultura, uma entidade importante como a Faesp não pode ser envolvida nesses escândalos – disse Abrão.
O ex-dirigente, que é produtor de café em Altinópolis, reclama que a Comissão do Café da federação é inativa. Segundo ele, mesmo após todos os problemas climáticos sofridos nas duas últimas safras, os pequenos produtores não receberam nenhum tipo de apoio da entidade.
Relações
De acordo com o delator da Lava Jato Ricardo Pessoa, presidente da UTC, Cedraz recebeu uma mesada para viabilizar no TCU a construção de Angra 3.
O escritório de Tiago Cedraz representa a Faesp em outras ações, como a que tentava barrar no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) a criação do Conselho dos Produtores de Laranja e da Indústria de Suco de Laranja (Consecitrus), rejeitada em agosto do ano passado.
A Faesp, presidida por Fabio de Salles Meirelles, é responsável pela gestão do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural, que pertence ao Sistema S e recebe recursos públicos. Por isso suas contas precisam ser aprovadas anualmente no TCU. Fontes do Canal Rural dizem que as contas da entidade têm sido aprovadas no TCU sempre com ressalvas e atrasos.
Procurada, a assessoria de imprensa da Faesp não se manifestou sobre o caso. Assim como o advogado Tiago Cedraz, que não retornou o contato da reportagem.