No Dia do Engenheiro Agrônomo o Canal Rural conversou com um dos profissionais mais respeitados do Brasil. Ele foi um dos fundadores da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária e hoje, aos 84 anos, segue trabalhando com pesquisas e assessorando o governo em programas estratégicos para o desenvolvimento da agricultura do país.
– O agricultor é a nossa vida. Eu acho que nós somos a vida deles também.
Foi assim que Eliseu Roberto de Andrade Alves terminou a conversa, num fim de tarde quente, depois de uma caminhada pela fazenda, entre as centenas de árvores que ele mesmo plantou há mais de 20 anos. A duas horas de Brasília, na fazenda em Cristalina, Goiás, o produtor contou como se sente em meio aos sons da natureza.
– Eu me sinto muito bem, porque a fazenda realizou um sonho meu, que é viver perto da agricultura, ser produtor e aplicar as coisas que eu aprendi. Então aqui eu estou no mundo ideal. Natureza belíssima, alegria enorme e fazendo as coisas que eu aprendi na universidade e na vida dirigindo a Embrapa.
Repórter: Por exemplo, aqui o senhor planta no sistema de integração Lavoura-Pecuária. Tem soja e tem gado de leite. O senhor começou quando?
– Uns quatro, cinco anos. Aumentou muito a área de grãos e a rentabilidade da área de gado. O segredo da agricultura hoje é competência na administração. É gestão, sem gestão nada dá certo, tecnologia nenhuma dá certo.
O agrônomo soma mais de 40 anos dedicados à Embrapa. Alves foi um dos fundadores, atuou como diretor e presidente e hoje é assessor da Presidência. Ainda não abandonou as pesquisas.
– O foco do meu trabalho tem duas áreas que eu considero muito importantes, uma é ajudar a Embrapa a desenvolver tecnologia, sem distinção de produtores, para pequenos, grandes, médios, com o objetivo de alimentar o povo e aumentar as exportações, que são absolutamente necessárias para equilibrar as contas do governo brasileiro. O segundo foco é a pobreza rural. O grande problema da nossa agricultura foram os produtores que ficaram à margem da tecnologia. É que as imperfeições do mercado ajudaram a excluir um grande número de produtores da aventura de produzir, essas imperfeicoes fazem o seguinte: o pequeno produtor vende mal a produção, por um preço muito inferior e compra os insumos muito mais caros, em consequência, a tecnologia que é baseada na compra de insumos não é lucrativa. Não sendo lucrativa, o agricultor que não é bobo, não adota. E não adotando, não tem como aumentar a produção da sua agricultura e assim sair da pobreza.
Repórter: Como o senhor vê a agricultura daqui a vinte anos?
– Se deixar por conta do mercado, teremos uma agricultura poderosa, exportadora, alimentando o povo brasileiro, mas sem agricultor. Então, eu acho que é papel do governo segurar a população que ainda vive no meio rural, dando condições pra que eles resolvam o problema de pobreza com agricultura. Transferência de renda é importante, mas não pode ser permanente.
Repórter: A permanência do jovem no campo é importante pra isso?
– Sim, porque se não vamos ficar com agricultura de velhos. Experientes, competentes, mas sem energia e sem criatividade que a juventude traz.
Repórter: De que forma a sua pesquisa em relação à pobreza rural está sendo utilizada no Ministério da Agricultura?
– [A ministra] está usando muito bem, na minha opinião. Pegou os dados, fez um bom diagnóstico. O meu papel é de pesquisador, mas pesquisador que se preza, não deixa a pesquisa dormir dentro da gaveta, tem que fazer ir pra frente. Então, eu tenho trabalhado com ela, felizmente ela gostou da ideia e está com um programa muito bom, muito bem desenhado pra recuperar a classe média no Brasil.
Repórter: Ela chega a lhe pedir conselhos?
– Olha, não digo que ela peça conselhos, mas nós conversamos muito.
Repórter: No Dia do Engenheiro Agrônomo, qual o recado que o senhor pode dar pros seus colegas?
– Primeiro, tenha muito orgulho do que vocês fizeram até aqui. E segundo ponto, o Brasil está pedindo muito mais de vocês que aquilo que já foi feito. Não pode parar…