A aproximação de uma definição do cenário político brasileiro com a conclusão do processo de impeachment contra a presidente afastada Dilma Rousseff (PT), em agosto, tem dado fôlego à economia brasileira. Um dos reflexos deste cenário é a valorização do real frente ao dólar e analistas apostam que essa é a tendência dos próximos meses.
Para o economista João Medeiros, a habilidade do presidente interino, Michel Temer (PMDB), na articulação política pode consolidar algumas mudanças que o Brasil precisa. “Diferentemente da ex-presidente, acho inegável a habilidade do Temer no trato com os políticos, de maneira geral. A gente percebe ele articulando algumas medidas e sente que vai ter aprovação. O que se sente, pela primeira vez, é a possibilidade de mudanças”, falou.
O economista-chefe da Gradual Investimentos, André Perfeito, também acredita na retomada da economia brasileira, mas prefere ser mais cauteloso diante das tensões políticas que o país atravessa. “Eu tomo cuidado porque se exige demais do governo. O desejo de mudança é muito grande e isso, sem dúvida nenhuma, traz problemas, ainda mais no campo das expectativas. Porém, em curto prazo, a gente vive uma espécie de lua de mel: o dólar está caindo, a bolsa subiu bastante e isso tudo sugere uma situação menos desafiadora para o governo e, se ele souber aproveitar, vai ser muito bom.”
O aumento da confiança de investidores estrangeiros e a definição da situação política do Brasil devem aumentar os investimentos e a entrada de dólares no país neste semestre. Um cenário que favorece a competitividade dos produtos nacionais. “Você não vive só de exportação. Nós temos que importar matérias-primas, máquinas, equipamentos, peças e componente eletrônico, que é tudo importado. Então, se você pegar um automóvel, por exemplo, você tem tudo eletrônico nos carros e vai precisar importar para montar e, só depois, exportar. Se você tem uma moeda relativamente barata, os teus preços começam a ter competitividade internacional”, disse João Medeiros.
Valorização do real
A manutenção das taxas de juros nos EUA, divulgada pelo FED, o banco central norte-americano, não surpreendeu o mercado e deve valorizar ainda mais o real frente ao dólar. “O que a gente viu no comunicado é a manutenção das condições de liquidez nos EUA ainda muito expansionistas. O que representa que o dólar vai ser mais barato e que é bem provável que o real se aprecie um pouco mais nesse meio de semestre por conta da percepção de um dólar mais fraco”, disse Perfeito.