Cálculos do Grupo de Inteligência Territorial Estratégica (Gite) da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) indicam que mais de 174 milhões de hectares de vegetação nativa preservados estão dentro de imóveis rurais particulares. A quantidade corresponde a 47,7% da área total dos imóveis rurais brasileiros cadastrados no Sistema Nacional de Cadastro Ambiental Rural (Sicar) até dezembro de 2016, excluindo os estados de Mato Grosso do Sul e Espírito Santo, que ainda não estão no sistema.
“Em todos os estados, os agricultores preservam mais do que a lei exige. Eles estão todos acima do mínimo. Esse mínimo é por bioma. No bioma Mata-Atlântica é 20%, no bioma Cerrado e Pampa também. Passa a 35% quando o cerrado está na Amazônia Legal, enquanto no bioma Amazônia é 80% [a exigência] de área preservada”, destacou o coordenador do estudo e pesquisador da Embrapa Evaristo de Miranda.
O Cadastro Ambiental Rural (CAR) é um registro eletrônico, obrigatório para todos os imóveis rurais. Ele foi instituído pelo novo Código Florestal. Os agricultores têm prazo para cadastrar todo o seu capital ambiental até o fim de 2017. No entanto, a maioria dos registros já havia sido feita até dezembro de 2016.
Oportunidade
“O governo fala de pagamentos de serviços ambientais, diz que é bom para o planeta, para a bacia hidrográfica e para a chuva. Mas quem está bancando sozinhos são os agricultores, muitos deles pequenos produtores. Às vezes, para eles isso é pesado. Acho que a gente deveria, com esses números, se inspirar para buscar caminhos que pudessem ajudar um pouco esses agricultores pelo que eles fazem por todos”, acrescentou Miranda.
Para o gerente do Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora), Luís Fernando Guedes, a grande quantidade de mata preservada dentro dos imóveis rurais pode representar um diferencial e uma oportunidade comercial para o país.
“É uma oportunidade potencialmente comercial de colocar aos mercados internacionais que nossa produção está associada à conservação, usando para isso as certificações e vários outros instrumentos. Podemos atrair recursos capitais que vão manter a floresta em pé, para os serviços ambientais. É uma questão de reputação e imagem do Brasil na comunidade internacional”, destacou.
Agenda
Guedes afirmou que a quantidade de mata preservada não deve ser encarada como justificativa para uma elevação no desmatamento. “A agenda que o Brasil protege muita floresta é uma agenda positiva. É uma oportunidade e ela não é um argumento para justificar que precisa desmatar mais.”
“Não tem nenhum argumento que justifique desmatar para aumentar a produção agropecuária. O aumento da nossa safra, da riqueza gerada pelo setor ela pode acontecer pela via da intensificação, de uso mais racional da terra, de um aproveitamento melhor das áreas abertas”, concluiu.