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Mercado e Cia

Entenda alta dos preços do óleo de soja e o que esperar nos próximos meses

Preços do óleo subiram em virtude da alta do dólar e da elevação da demanda interna e externa pelo grão de soja e pelos derivados

O preço do óleo de soja subiu 100% no acumulado do ano no indicador calculado pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) para o atacado em São Paulo. O valor representa patamares nominais recordes dentro da série histórica. A alta dos preços foi estimulada por uma demanda aquecida e pela elevação do dólar. O consumidor brasileiro sente no bolso, já que o produto foi um dos itens que ficaram mais caros na inflação. 

O grão da soja também registra níveis recordes de preço tanto nos portos quanto no interior do país. No indicador do Cepea, por exemplo, o grão está cotado ao redor de R$ 150 por saca. Dessa forma, acumula uma alta perto de 70% em 2020. Segundo o consultor da Cogo Inteligência em Agronegócio, Carlos Cogo, o movimento é puxado pela demanda por derivados e pelo câmbio. “A demanda pelo grão por parte da indústria de esmagamento e produção de farelo e óleo no mercado interno. Além da valorização do dólar frente ao real, são fatores que estão levando a essa forte alta dos preços”, analisa.

Inflação ao consumidor

Com o aumento do valor pago ao produtor, o índice de inflação ao consumidor também foi impactado. No Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), o óleo de soja acumulou 19% de alta em 2020, até setembro. Sendo assim, foi o quarto item da cesta básica com maior valorização dentro do índice. O pesquisador do Cepea, Lucílio Alves, destaca a forte demanda pela indústria. “Tradicionalmente, sempre há repasse de preços dos elos anteriores para o mercado varejista, isso é importante também a se avaliar. Por outro lado, nós precisamos lembrar que se temos preço da soja em grão em alta é porque temos disposição a pagar vindo das indústrias esmagadoras, cuja receita vem do farelo e do óleo de soja. Não existe preço de soja em alta se os derivados não estiverem com remuneração atrativa”, afirma.

Situação do produtor

Tendo em vista a remuneração, o presidente da Aprosoja Brasil, Bartolomeu Braz, afirma que o produtor não consegue captar totalmente a valorização do grão. Pois, comercializou o produto de maneira antecipada. “Não. O produtor não está ganhando dinheiro. Ele já vendeu essa soja com o preço mais baixo. Essa soja está na mão da indústria. Tem muita pouca soja na mão do produtor rural. Infelizmente a população está pagando caro e não está chegando na mão dos produtores rurais. Infelizmente, está ficando na mão do atravessador”, comenta.

Biodiesel

O presidente-executivo da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), André Nassar considera a demanda por biodiesel fator importante para explicar o mercado de óleo de soja neste ano. “O que está estimulando o mercado de óleo de soja? é a demanda por biodiesel. Se tudo ocorrer conforme programado no mercado do biodiesel, (passando de b12 para b13, ou seja, 13% de mistura) o processamento de soja deverá aumentar. Isso não seria um problema, apesar de ter uma safra grande e muita demanda internacional por soja nós devemos processar mais soja no ano que vem.  O negócio é que se houver problemas no mercado de biodiesel, a situação pode gerar mais atratividade para exportar grãos. Isso levaria a uma redução no processamento ou não crescimento no processamento”, observa.

Exportações

A desvalorização da moeda brasileira frente ao dólar gerou competitividade da soja produzida no país e estimulou as exportações. No acumulado de 2020, até setembro, o Brasil embarcou 79,6 milhões de toneladas do grão. Resultado este 30,9% maior que no mesmo período de 2019. A China, principal parceiro comercial do país, respondeu por mais de 70% das compras. 

Com a alta das exportações, Cogo alerta para estoques de passagem muito baixos no Brasil. “As importações de soja vem crescendo, os estoques de passagem vão ser muito baixos. E já começa a haver preocupação de que possa ter escassez e até falta de mercadoria para esmagar e farelo de soja em algumas regiões do país”.

Por outro lado, Nassar não vê risco de desabastecimento. “Não, desabastecimento não tem risco. O mercado de biodiesel está sendo bem ajustado. Houve uma redução de mistura recentemente. As nossas empresas estão todas dirigindo o óleo (está havendo até importação) para atender os supermercados da melhor forma possível”.

 

Tendência

Lucílio Alves projeta que o futuro dos preços do grão e do óleo dependerá, sobretudo, da taxa de câmbio. “Se os preços internacionais e brasileiros estão em linha, nem precisamos avaliar o que está acontecendo em termos de negociações. Tanto para 2021, quanto para 2022, efetivamente. Os dados apontam que os negócios de exportação e, na verdade, os preços FOB exportação baseado em Paranaguá estão de 12 a 13% menores em 2020 no primeiro semestre comparativamente aos parâmetros atuais. Só que esses são diferenciais de preços em dólares. E o que a gente pode esperar em termos de câmbio para 2021? Acho que essa é a grande incógnita. Se o câmbio está dando sustentação para os preços em 2020, não sabemos quais serão os parâmetros para 2021. E se essas menores negociações ou negociações a preços menores para 2021 efetivamente vão se transformar também em termos reais. O câmbio não temos muito controle sobre ele”, conclui.

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