O vice-presidente técnico da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Rui Vargas, afirmou que atualmente nove estabelecimentos estão com a habilitação suspensa, pelo governo brasileiro, para exportação para União Europeia (UE). Os frigoríficos foram suspensos no mês passado, segundo a ABPA.
Apesar de não especificar o motivo dessas suspensões, Vargas afirmou que, ao longo deste ano, a UE aumentou consideravelmente as notificações sobre salmonela em carne de aves brasileiras. Segundo Vargas, não houve, entretanto, comprovação de nenhum tipo de bactéria proibida no bloco. Os europeus também levantaram uma séria de questionamentos no período da operação Carne Fraca e algumas unidades ainda estão passando por avaliações e revisão de medidas.
O vice-presidente e diretor de Mercados da ABPA, Ricardo Santin, relatou que, de janeiro a maio, apenas cerca de 3,5% dos contêineres brasileiros foram notificados pela UE por motivos diversos, de um total aproximado de 7 mil contêineres.
Desempenho
No primeiro semestre deste ano, a UE importou 173 mil toneladas de carne de frango do Brasil, 14% a menos do que em igual período do ano passado. Parte desta queda é atribuída aos embargos durante o período da operação Carne Fraca. Apesar da queda, o Brasil não perdeu espaço para concorrentes, como Estados Unidos, informou Santin. “Eles (importadores) diminuíram esses estoques (de passagem) e não foram buscar abastecimento em nossos concorrentes”, salientou. “Isso leva a crer que vamos retomar a posição e terminar o ano com exportações positivas”, acrescentou.
Outra consideração da ABPA sobre a crise no comércio externo de carnes é que os preços médios dos produtos não recuaram. “Não deixamos assinatura de que nosso produto estava comprometido com qualidade inferior”, afirmou o presidente da ABPA, Francisco Turra.
A China, importante importador, reduziu as compras da carne de frango brasileira no primeiro semestre. No entanto, segundo Santin, o recuo está relacionado com a dinâmica do mercado local. Houve um aumento da oferta interna de carne no país, com o incremento dos abates. Em compensação, não houve incremento da produção e isso deve favorecer as exportações brasileiras no segundo semestre. Para os próximos meses, a influenza aviária também deve continuar impulsionando os embarques brasileiros, segundo a ABPA.
A Arábia Saudita, outro importante comprador, diminuiu as importações brasileiras em 16%. “Tem muito ajuste no mercado local”, disse Santin. Ele explicou que, além do aumento do imposto local de 5% para 20%, há em curso uma padronização mundial do certificado halal (carne produzida de acordo com os preceitos muçulmanos), o que tende a dificultar a exportação para o país.
Aftosa
A eventual erradicação da febre aftosa no rebanho bovino do Brasil, que tornaria o país livre da doença sem vacinação, é fator que causa otimismo na ABPA. Segundo a associação, a medida pode favorecer a abertura de mercados para a exportação da carne suína.
Embora o Brasil não tenha registro da doença em suínos há mais de 20 anos, a necessidade da vacinação dos bovinos na maior parte do território nacional é um obstáculo para o comércio exterior. Atualmente, apenas Santa Catarina é livre da doença, sem vacinação.
“É um tema que batalhamos há muito tempo”, disse Rui Vargas. “Devemos ter acesso a diversos mercado que colocam a questão da aftosa como barreira, como Chile, Japão, EUA, México, Coreia do sul, que só importam de estados que não vacinam bovinos”, afirmou.
O Plano Estratégico 2017/2026 do Programa Nacional de Erradicação da Febre Aftosa (PNEFA) prevê a retirada gradual da vacina contra a aftosa, começando em 2019, em alguns Estados. O plano projeta que a última vacina seja aplicada no rebanho em maio de 2021 e que o reconhecimento da Organização Mundial de Saúde Animal (OIE, na sigla em inglês) de país livre da doença sem vacinação ocorra em maio de 2023.