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Ivan Wedekin: desmontar sistema de crédito rural levaria juro para 36% ao ano

O ex-secretário de política agrícola criticou a ideia do governo de tributar a Letra de Crédito do Agronegócio (LCA) e os Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRA), títulos de financiamento privado do setor isentos de impostos

Fonte: Marcos Santos/USP Imagens

O ex-secretário de Política Agrícola e atual presidente da Câmara de Crédito e Comercialização do Ministério da Agricultura Ivan Wedekin afirmou nesta segunda-feira, dia 18, que o fim do sistema de crédito rural, com o desmonte das atuais regras de concessão, levaria a uma disparada da taxa de juros para o setor agrícola. O atual sistema tem juros controlados com subsídio do Tesouro, de 8% ao ano, e os livres praticados pelo mercado para os agricultores, em 12% ao ano. Já a taxa de juro livre fora das regras do manual de crédito rural está em 36% ao ano, na média, para pessoas físicas e jurídicas.

“Se extinguir o sistema nacional de crédito rural provavelmente as taxas vão migrar para mais perto dos 36% do que dos 8% a 12% do crédito rural atual”, disse Wedekin em entrevista durante a Conferência Internacional de Pecuaristas (Interconf), em Goiânia (GO). “É preciso simplificar o crédito rural, porque até mesmo o recurso livre tem muita trava, obrigatoriedade e comprovação. É muito mais fácil pegar R$ 50 mil para comprar um carro do que para plantar milho no Brasil.”

A ideia de se desmontar o sistema de crédito rural brasileiro ganhou força na elaboração do Plano Agrícola e Pecuário 2017/2018. O argumento, principalmente da equipe econômica, é de que a queda da taxa básica de juros, a Selic, para 7% a 8% ao ano, faria com que os juros ao agricultor também recuassem, sem a necessidade da utilização da política pública para o setor. “Usar queda da Selic para justificar fim sistema de crédito rural é muito perigoso. A queda da Selic é positiva porque reduz subvenção do Tesouro ao crédito rural”, disse Wedekin.

O ex-secretário de política agrícola do Ministério da Agricultura também criticou a ideia do governo de tributar a Letra de Crédito do Agronegócio (LCA) e os Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRA), títulos de financiamento privado do setor isentos de impostos. A LCA, com o limite de recursos públicos para o setor, foi incluída pelo governo no manual do crédito rural, cujas regras limitam as operações de financiamento agrícola. “Hoje a LCA responde por 14% das operações e uma tributação dela ou dos CRA possivelmente mataria uma das fontes importantes de crédito”, afirmou.

Wedekin contou ainda que a Câmara de Crédito e Comercialização do Ministério da Agricultura, presidida por ele, discute, dentro da pasta e com órgãos do governo, como o Banco Central, a regulação de operação de crédito comercial não bancárias, como as feitas entre agricultores e tradings na troca de insumos por parte da produção, chamadas de barter. “É preciso criar informações e controle sobre crédito comercial não bancário. Quando o produtor toma o crédito rural, isso é registrado no Banco Central, mas quando ele faz troca na safra ninguém sabe o tamanho dessa operação e qual o risco de crédito”, concluiu. 

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