A senadora e ex-ministra da Agricultura Kátia Abreu (PMDB-TO) denunciou nesta terça-feira, dia 21, em discurso em plenário, a atuação de deputados do PMDB do Paraná para impedir o afastamento de Daniel Gonçalves Filho do Ministério da Agricultura quando ela ainda chefiava a pasta. Gonçalves é considerado pela Polícia Federal o líder da “quadrilha” revelada na operação Carne Fraca. A senadora não citou nomes durante seu discurso.
“Esse cidadão que foi nomeado tinha processos administrativos no ministério e eu nunca vi, em todo o tempo que lá estive, e nunca tive notícias de uma pressão tão forte para não tirar esse bandido de lá”, afirmou Kátia Abreu. A senadora relatou sua tentativa de demitir o indicado e pressão inversa que sofreu de deputados do seu partido.
”Dois deputados do meu partido insistiram que a lei não fosse cumprida ao ponto de eu ter que ligar para a presidente Dilma e comunicar da minha decisão de demitir e avisar que, com as consequências políticas, eu iria arcar. E ela disse: Demita já”, relatou Kátia Abreu.
Segundo apurou o jornal “O Estado de S. Paulo”, a senadora se referia ao atual ministro da Justiça, o deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), e ao deputado Sérgio Souza (PMDB-PR), que chegaram a visitá-la no Ministério da Agricultura para impedir a demissão do indicado político. Os deputados ainda não responderam sobre a acusação
O indicado em questão é Daniel Gonçalves Filho, preso na última sexta-feira durante a operação Carne Fraca da Polícia Federal. De acordo com a senadora, Daniel foi indicado para a Superintendência do Ministério da Agricultura no Paraná por deputados do PMDB do estado. Ela chegou a relatar ainda que o nome não possuía a aprovação do senador paranaense e colega de partido Roberto Requião (PMDB-PR). Mas que, após as pressões, ele mesmo recuou das indicações e disse que ela poderia aceitar a sugestão dos deputados.
Críticas
A senadora também não poupou críticas à condução da Polícia Federal na operação da última sexta-feira, dia 17, que, em seu entendimento, é prejudicial para o setor da pecuária brasileira. “Desde sexta-feira que nós estamos assistindo nos canais de comunicação, televisão, rádio, jornais, redes sociais, uma verdadeira operação de destruição da pecuária de corte, bovina, suína e de aves. Isso não tem nome, isso é um crime de lesa-pátria”, disse.
Apesar de apoiar a atividade da Polícia Federal, a senadora se disse preocupada com a forma como a operação foi divulgada e as consequências que pode trazer para o setor. “O preço do boi vai cair, vamos perder nossas exportações. Mas o mais grave: vamos perder empregos em uma hora crítica, em que temos tantos desempregados. Essa é uma culpa que vocês, pequeno grupo da PF, também vão carregar. Tentaram com uma ação medíocre, infantil, baixa, destruir um dos setores mais importantes deste país”, analisou a senadora.
Abuso de autoridade
Por fim, a senadora defendeu ainda a aprovação do projeto que atualiza a lei de abuso de autoridade, amplamente criticado por entidades ligadas ao Judiciário. “Trinta e três servidores não podem manchar a história do Ministério da Agricultura. Não permitiremos que um delegado e meia dúzia de chefes de polícia manchem a Polícia Federal. Vamos aprovar sim a lei de abuso de autoridade, doa a quem doer. Não é só pra juiz, é pra todos aqueles que afrontam e se julgam estrelas acima do bem e do mal”, afirmou.
Outro lado
O ministro da Justiça, Osmar Serraglio, rebateu a acusação da senadora Kátia Abreu (PMDB-TO). Em nota, ele disse que a indicação de Daniel Gonçalves alvo da Operação Carne Fraca foi feita pelo então deputado Moacir Micheletto – morto em acidente de carro, em 2012 – e “chancelada” pela bancada do PMDB no Paraná.
Serraglio disse que Kátia, à época ministra da Agricultura, admitiu em discurso no plenário que só manteria o superintendente regional no cargo se ele fosse apoiado por senadores do PMDB. “Sobre a resistência em nomear, deu-se por haver divergências políticas entre ela (Kátia) e a maioria da bancada, que era a favor do processo de impeachment da então presidente Dilma Rousseff”, escreveu o ministro.
Serraglio disse ainda que, sempre que um assunto envolvendo Daniel Gonçalves precisou ser tratado no governo, “foi feito em nome da bancada, nunca de forma individualizada”. O ministro destacou que Gonçalves não ocupava o cargo de superintende regional do Ministério da Agricultura no Paraná há mais de um ano.