Tempo

La Niña não é único responsável pelos temporais no Nordeste

Águas mais aquecidas em 2 °C na costa da região influenciam excesso de chuva na faixa norte do país; Mato Grosso pode enfrentar dificuldades na hora da colheita

O La Niña, que é o resfriamento irregular das águas do oceano Pacífico Equatorial, contribui para o regime de chuva no Nordeste. No entanto, não é apenas isso que está influenciando a quantidade de chuva que a região tem recebido. Diferentemente do ano passado, quando também havia La Niña, mas as chuvas não foram tão abundantes, neste ano o oceano Atlântico na costa do Nordeste está colaborando para incitar ainda mais os sistemas meteorológicos presentes por lá.

“As águas estão mais aquecidas em até 2 °C na costa do Nordeste, o que contribui para o aumento do volume de chuva, e é exatamente isso que estamos vivendo agora. O resultado é uma chuva cinco vezes mais volumosa do que o normal para algumas cidades da Bahia em dezembro e os múltiplos transtornos causados por isso”, diz Desirée Brandt, meteorologista do Agroclima.

Agora, a frente fria que estava estacionada na costa da Bahia desceu um pouco mais e provoca chuva forte no norte de Minas Gerais e em Mato Grosso, estado que está prestes a colher a soja e vai enfrentar dificuldades nas atividades em campo. “A colheita está se aproximando e o conselho para os produtores é não aplicar maturadores na soja, porque a chuva não vai permitir os trabalhos de campo e o grão pode apodrecer na lavoura. Os primeiros lotes de soja não vão conseguir ser entregues no prazo, o que já está mexendo com o mercado”, diz Brandt.

Os maiores acumulados de chuva nas últimas 24 horas no Brasil, de mais de 100 milímetros, se concentraram sobre a metade norte de Minas Gerais, pela influência do calor, da alta umidade e principalmente da circulação dos ventos em altitude e um cavado nos níveis médios e altos da atmosfera (que é uma baixa pressão relativa e mais alongada).

Chuvas em 24h

Nas próximas 24 horas, estão previstas pancadas de chuva de intensidade forte e com raios no Amazonas, norte de Roraima, no Pará, norte e leste do Maranhão, centro-sul de Rondônia, Mato Grosso, em pontos do norte do Paraná, do sudoeste e noroeste do estado de São Paulo, no centro sul e norte de Minas Gerais.

Chove com moderada intensidade no nordeste de Goiás, no norte de Minas Gerais e no sul da Bahia, e de maneira mais leve em áreas do leste da Bahia e do Distrito Federal, além de pontos do centro e leste do estado de São Paulo.

Na maior parte do país, as precipitações, além de serem associadas ao calor e à alta umidade, têm a influência da circulação dos ventos em altitude. Nas regiões Norte e Centro-Oeste, as instabilidades são reforçadas também pela Alta da Bolívia, uma área de alta pressão atmosférica a mais de 9 km de altitude que contribui para as pancadas de chuva típicas do verão.

No Paraná, São Paulo, Minas Gerais e sul da Bahia, há muito calor e umidade alta. Em Montes Claros, no norte mineiro, por exemplo, choveu 160 milímetros o que corresponde a 60,9% da climatologia de dezembro, que é de 249,5 milímetros.