Quando os produtores de algodão do oeste da Bahia desconfiaram que aquela lagarta tão agressiva não poderia ser a lagarta da maçã, já era tarde. A safra 2013 estava devastada com prejuízos acima de R$ 1 bilhão e um novo personagem passaria a fazer parte da agricultura brasileira.
A Helicoverpa armigera rapidamente virou um pesadelo em praticamente todas as culturas, principalmente algodão, soja e milho. Considerada uma das principais pragas polífagas do mundo, no Brasil até então era desconhecida e causou pavor no meio agrícola.
Enquanto o Paraná resgatou o MIP (Manejo Integrado de Pragas) para controlar a lagarta, os demais estados produtores, apoiados pela indústria, buscavam alternativas para minimizar as perdas e achar uma solução que desse um basta nas perdas que avançavam safra adentro.
Nesse período, motivado pela necessidade, o setor se uniu no sentido de sensibilizar as autoridades a aprovar um defensivo que finalmente estivesse ao alcance dos produtores, e que fosse eficaz no combate às lagartas de difícil controle.
“Nós tivemos muitos problemas, nos mobilizamos, corremos atrás da liberação de produtos emergenciais. De lá para cá conseguimos dar uma controlada na helicoverpa, o grande problema é que além dela, nós temos dificuldades em combater a Spodoptera, outra lagarta de difícil controle”, afirma Alexandre Schenkel, produtor rural na cidade de Campo Verde, Mato Grosso.
O fim da espera em 2018
No final de 2017, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) aprovaram o primeiro inseticida do mercado brasileiro eficaz no controle dessas lagartas, pragas que podem causar perdas de até 50% na produtividade das lavouras.
A ação do inseticida acontece por meio da rápida penetração no tecido foliar. Após a ingestão pela lagarta, ele bloqueia a alimentação e paralisa a praga.
Antes da liberação, o produto foi testado por universidades e fundações que se dedicam à pesquisa, com a eficácia de até 90% em alguns casos, como o da Fundação Chapadão, de Mato Grosso do Sul. “É uma importante ferramenta para o manejo integrado de pragas e contribui para a boa produtividade”, diz o pesquisador Germison Tomquelski.
Liberado comercialmente, o produto já começou a ser usado nas lavouras de algodão dos estados produtores. “Pensar que há seis anos, quando os prejuízos eram gigantescos, isso parecia impossível”, conclui Schenkel, que nesta última safra plantou 1.600 hectares de algodão e pretende colher 300 arrobas por hectare, a mesma média de produtividade do ano passado, considerada muito boa pelo produtor.