O ministro da Agricultura, Blairo Maggi, recebeu o Canal Rural nesta semana em seu gabinete para uma entrevista exclusiva. Após 15 dias em viagens para Alemanha, Bélgica e Estados Unidos, Maggi conversou com a reportagem sobre diversos temas, entre eles a importação do café conilon, a abertura de mercados e o governo de Donald Trump nos EUA.
Veja os principais pontos da entrevista exclusiva com o ministro:
Canal Rural: A viagem rendeu abertura de mercados?
Blairo Maggi: Nós brasileiros, por muitos anos, esperamos que os países, os compradores viessem até o Brasil para comprar os nossos produtos. Nós temos pouca iniciativa de sair e se oferecer e dizer que posso fazer isso ou aquilo. Isso nos leva a uma situação onde o Brasil tem 42%, do mercado mundial de alimentos, o Brasil tem uma participação significativa de mais de 1%. No restante, em 58%, o Brasil não tem uma participação. Quando nós saímos para falar sobre o Brasil e demonstrar a nossa pujança, as nossas preocupações ambientais, sociais, trabalhistas, todas que nós temos, nós estamos querendo sempre dizer o seguinte: eu quero continuar vendendo o que tenho, mas preciso ampliar em outras coisas que não tenho. E diria o seguinte: a abertura de mercado é uma consequência de todas essas conversas. O mundo, hoje, a opinião pública no mundo vale muito hoje. E, às vezes, vale mais até sobre as regras sanitárias e vale mais do que a ciência também. Então, precisamos estar muito atentos. O Brasil não é uma bolha, não vive num mundo isolado, faz parte de uma comunidade mundial e nós precisamos estar nos comunicando sempre com essas pessoas, mostrando, posicionando o Brasil. Fiz isso nessa viagem na Alemanha, na Bélgica, na comunidade europeia, e depois nos Estados Unidos também.
Canal Rural: Uma das maiores associações de produtores da União Europeia criticou duramente a carne brasileira, e a CNA enviou uma carta em resposta à entidade. Esse assunto foi tratado na viagem?
Blairo Maggi: Foi um assunto abordado, sim. Os europeus acham, principalmente os defensores da agricultura do parlamento europeu, que nós atuamos no Brasil com regras diferentes das deles e que são regras mais facilitadas, quando não é verdade. E até disse a eles: se eu levá-los no congresso brasileiro, na câmara, na comissão da agricultura no Brasil ou no senado, as reclamações vão ser as mesmas. Até parece que somos nós falando pra vocês. Então isso é uma coisa que foi muito evidente. Quanto a essa revista ou publicação que foi feita na Copa Cogeca, de fato a CNA respondeu com bastante veemência, respondeu com altura, como deve ser. E eles fizeram uma reclamação pra nossa equipe, dizendo: vocês não deveriam ter respondido dessa forma, foi deselegante. Ora, deselegante é a forma como eles nos tratam. Então a CNA está de parabéns, tomou uma atitude correta e eles querem, inclusive, que o ministério da Agricultura seja um órgão de poder flexibilizar e marcar um encontro, conversar, para que possam se entender.
Canal Rural: O senhor esteve nos Estados Unidos logo nos primeiros dias do governo Donald Trump. É um governo que pode trazer oportunidades para o Brasil ou é preocupante?
Blairo Maggi: Quando a gente conversa com demais países, eu participei desse fórum na Alemanha com 80 ministros da agricultura de todos os lugares do mundo, 80 países. Eu conversei bilateralmente com 14 ou 15 deles e essa atitude que está acontecendo nos EUA, eu tenho a impressão, pelas conversas que tenho, que vão ajudar o Brasil. Tem coisas que estavam há muito tempo acomodadas e que agora se alertam. Por exemplo: o México é um comprador de produtos alimentícios americanos na ordem de 32 bilhões de dólares por ano. O México não compra nada do Brasil ou muito pouco. Nosso comércio é insignificante. Depois dessa mexida do Trump, os mexicanos, já conversei três vezes com eles, eles já têm uma missão para olhar a carne termo processada no Brasil, que eles não faziam há muitos anos. O ministro da agricultura do México já marcou uma visita aqui pro Brasil, deverá acontecer ainda em fevereiro pra começarmos a acelerar e discutir algumas coisas que possam comprar nossas. E outros países também. Por onde a gente conversa há preocupação, o Brasil é sempre um grande ator nesse processo, ele sempre tem muitos alimentos, pode produzir mais, pode fazer mais, então eu diria que a mexida no tabuleiro é bastante grande e o Brasil poderá, deverá e tem que estar atento a aproveitar essas oportunidades. Eu acho que pra nós é uma oportunidade, é uma janela bastante grande que vai aparecer pela frente.
Canal Rural: A importação do café conilon vai ser autorizada?
Blairo Maggi: É um assunto muito delicado no nosso país, uma vez que o Brasil é o maior produtor de café do mundo e os cafeicultores, não diria todos, mas uma grande parte, sempre tem uma dificuldade muito grande de entender, mais uma vez, que o Brasil não é uma ilha, que o Brasil participa do mercado mundial, que o Brasil tem que ter cafés diferentes pra sua indústria, pra fazer seus blends. Nós não estamos querendo discutir a participação de importação de café em função de que tem que baixar preço no Brasil. Não. Eu acho que nesse momento o café está em falta, os números que são levantados pela Conab mostram, efetivamente, que a quebra de safra foi bastante grande e que para salvar a indústria brasileira é necessário que haja certa importação, controlada, mas que há necessidade.
Eu, como ministro da Agricultura, deveria ser o primeiro a dizer que não quero importar café, só que eu estou olhando um pouco além desse momento. Se eu não cuidar da indústria agora, eu não terei a indústria amanhã para continuar com o produtor rural. Então pagaremos duas contas: uma nesse momento e uma no futuro por não ter uma indústria forte. Acho que é isso que o produtor precisa entender. E na minha avaliação, na avaliação do Mapa, da Conab, há necessidade de se fazer isso nesse momento. O presidente Temer me chamou essa semana pra conversar, me pediu pra mais uma vez conversar com o pessoal, principalmente do ES, com o senador Ferraço, o deputado Evair, com o governador Paulo Artung e com os produtores. Eu farei isso na semana que vem e depois disso se eles não me apresentarem números diferentes daqueles que nós temos, eu vou, sim, encaminhar essa assunto com um pedido do Mapa para a Camex tomar a decisão e baixa ou não a alíquota para importação.
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Canal Rural: Nesta safra o produtor rural vai ter a opção de vender milho futuro ao governo? É uma estratégia para segurar a grande produção que vai vir?
Blairo Maggi: A safra que está vindo pela frente promete ser bastante grande. Não só no Brasil, fora do Brasil também. Então muito provavelmente nós teremos esse ano preços muito baixos do milho. Sobrará milho no mercado brasileiro e, provavelmente, também no exterior, então eu já autorizei a secretaria de política agrícola, através do secretário Neri e toda sua equipe, de propor e lançar no mercado as opções para os agricultores, que eles possam comprar uma opção e lá na frente se os preços tiverem muitos baixos, o governo fica com esse milho e reequilibra seu estoque regulador, que ele tem que ter um pouco disso. E se o mercado andar, bom pra todo mundo que o mercado ande, que não haja necessidade disso, os produtores podem vender esse milho ao mercado local ou estrangeiro.
Canal Rural: O produtor rural vai ter acesso ao novo modelo do seguro rural que está sendo desenhado na próxima safra? O setor provado vai participar?
Blairo Maggi: Não, ainda não. É um assunto que estamos discutindo. O Plano Safra já vai chegar aqui e nós não conseguimos finalizar. É a intenção sim de ter um novo modelo. Por enquanto nós estamos trabalhando com o modelo antigo, estamos garantindo recursos para que o produtor possa fazer o seguro e que se tiver necessidade, eles possam receber o seguro. Para se ter uma ideia, esse ano nós cumprimos com toda nossa obrigação de pagamento de seguros, da parte de subvenção que o governo fez, não temos nada atrasado, pagamos tudo. Portanto os produtores podem acessar o seu seguro ou a sua apólice, enfim, a parte que ficou combinada do governo está sendo cumprida.
Canal Rural: Houve comentários de que o senhor vai se candidatar à Presidência em 2018. É verdade?
Blairo Maggi: Não. Não procede. Eu ouvi, li algumas coisas sobre esse assunto e quero crer que esse é uma assunto que vem porque eu tenho me movimentado muito, tenho viajado para o exterior bastante, aqui internamente. Eu fico muito pouco aqui no ministério, em Brasília. A parte burocrática é tocada pela secretaria executiva, por outras secretarias. O papel do ministro sempre é de abrir novos mercados, de visitar as localidades, ver as cadeias produtivas, como elas funcionam entusiasmar as pessoas, as empresas, para que elas possam produzir mais. Isso, às vezes, chama um pouco a atenção e política é feita, não diria fofocas, mas as pessoas vêem uma coisa e escreve. E hoje em dia nas redes sociais, nas mídias, não há mais segredo de nada.
Canal Rural: Qual sua opinião sobre críticas à produção brasileira por causar desmatamento, mesmo a Embrapa tendo dados de que nossa produção é sustentável?
Blairo Maggi: Para nós não é política de governo a questão de aumentar desmatamento. Desmatamento na Amazônia pode acontecer de duas maneiras: ilegal ou legal. O legal é protegido por lei, ele tem direito a usar 20% da sua propriedade e sobre esse ninguém pode falar nada. Agora contra o ilegal, os de fora falam e nós falamos e temos que reagir. Não é correto fazer isso. Então a política do Brasil é muito clara, nós podemos ampliar, fazer mais volume de produção, mas em cima das terras que já estão abertas.
Eu acho um demérito quando, mesmo nessa viagem que fui, participei do evento, tinha gente do Brasil, contrário a nós, falando outra coisa. Quer dizer, eu acho muito ruim isso pra um país que tem na agricultura e pecuária a sua principal fonte da economia. É lamentável o que acontece, mas, mais uma vez, a gente vive numa democracia e a gente tem que ouvir as coisas, filtrar, algumas doem, e você tem que esquecê-las e vamos em frente. A vida é assim mesmo.
