O endividamento do setor rural cresce a cada ano. No Nordeste, o número de agricultores que não conseguem pagar os empréstimos já chegou a 1 milhão. Para piorar, a safra 2016/2017 veio cheia e derrubou os preços, apertando ainda mais a margem de lucro do produtor. Com isso, muitos estão empurrando dívidas de financiamentos e até contratando novos empréstimos para pagar os anteriores.
Há dois anos, o produtor André Calazans vendeu uma propriedade para quitar parte das dívidas, contando que o este ano seria bom, mas, segundo ele, deu outra patinada. “Você vai acumulando débito, tirando empréstimo para pagar ou comprando um fiado com juro mais caro; sempre aumentando seu endividamento”, conta.
Segundo levantamento da Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja), os custos de produção baixaram, mas o poder aquisitivo do agricultor também caiu. A entidade trabalhava com expectativa de venda entre R$ 65 e R$ 75, mas o preço está entre R$ 50 e R$ 60 a saca, o que não ajuda na recuperação.
“A expectativa é que o produtor mais consciente espere um pouco para não perder o plantio [devido à seca] em um momento onde os custos de produção, em relação aos nossos preços, estão abaixo. Nós vemos a própria projeção da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) mostrando uma safra com área maior de soja, mas com produção abaixo”, diz o vice-presidente da Aprosoja Brasil, Bartolomeu Braz.
Com dívidas, fica difícil conseguir créditos nos bancos. O assessor técnico da Comissão Nacional de Cereais, Fibras e Oleaginosas (CNCFO) da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Alan Malinski, explica que “hoje o produtor tem acesso a bancos com recursos controlados. A gente vê que as buscas têm diminuído. Até nos que têm recursos livres, a taxa de juro é um pouco maior. Isso mostra que o produtor não tem as garantias que o banco necessita para liberar acesso a essas linhas de crédito. Então, ele precisa ir em uma trading, uma revenda, onde as taxas são um pouco maiores”.
Para Calazans, a única forma de sair dessa situação é investir mesmo com as dívidas. “Acreditar sempre no trabalho que a gente está fazendo. Estamos no caminho certo e é contar agora com a chuva, com a nossa política econômica, que melhore para que tudo seja favorável, tudo conspire para que a gente consiga uma boa safra. Bons preços, boa política, aí a gente consegue sair dessa”, fala.