Manifestantes pró e contra impeachment acompanham sessão em frente ao Congresso

Separados por muro na Esplanada dos Ministérios, movimentos reúnem menor número de pessoas do que durante sessão de votação na Câmara dos Deputados

Fonte: Canal Rural

Enquanto os senadores discursam na sessão que vai decidir sobre a admissibilidade do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, manifestantes contrários e a favor do impedimento se reúnem em lados opostos da Esplanada dos Ministérios em defesa dos seus posicionamentos políticos. O público nesta quarta, dia 11, é menor do que o visto na votação da Câmara dos Deputados, no dia 17 de abril e, desta vez, não há telões para que os manifestantes acompanhem o debate.

Do lado esquerdo do muro que divide a Esplanada para evitar confrontos entre os grupos, o servidor público Edmilson Gaspar de Melo disse que, apesar da expectativa de derrota do governo na votação do Senado, é essencial mostrar que esse processo não é apoiado por toda a sociedade. Para ele, o impeachment não é somente contra o Partido dos Trabalhos e a presidente Dilma Rousseff, mas contra a democracia e o Estado de Direito.

“Eu defendo que quem não concorda com o golpe vá para a rua e mostre a cara, mostrando que efetivamente o golpe não é algo que vai ficar por isso mesmo. É fundamental que o povo, que os 32 milhões de pessoas que estavam na extrema pobreza e saíram e todos que foram beneficiados pelo governo petista mostrem que não dá para concordar com o que está sendo proposto pelos golpistas.”

Melo avalia que a divisão da sociedade brasileira tornou-se perceptível desde as últimas eleições presidenciais, que tiveram um resultado apertado, mas acredita que a maioria dos brasileiros não concorda com o processo de impeachment. “A grande parte da população beneficiada pelos programas sociais dos últimos 13 anos é uma parcela silenciosa da sociedade, que não tem canais para se expressar. Quem está aqui é a classe média e quem é ligado a sindicatos e movimentos sociais”.

Ceiça Pitaguary, da Articulação dos Povos e Organizações Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo, disse que fez questão de marcar presença na Esplanada para se manifestar contra o impeachment.
“É importante estar aqui para mostrar que os povos indígenas não aceitam esse golpe institucionalizado nem um suposto presidente que não teve votos nas urnas e que está dando um golpe no país. Viemos aqui dizer que mesmo que o golpe passe, nós não aceitamos”, disse.

Natural do Ceará, ela está acampada no Memorial dos Povos Indígenas ao lado de cerca de 900 lideranças, desde o dia 10 de abril, para o debate das principais pautas indígenas. Segundo Ceiça, os indígenas temem que o novo governo dê andamento a projetos desfavoráveis, como a PEC 215 – que transfere do Executivo para o Legislativo a prerrogativa de demarcar terras indígenas. “Sabemos que esse governo é alinhado com a bancada ruralista, com a bancada da bala e com a bancada evangélica. Representa um retrocesso de nossas conquistas.”

Verde e amarelo

Enquanto isso, do lado direito da Esplanada, as cores verde e amarelo predominam entre os manifestantes. Do lado dos apoiadores do processo, cartazes e placas comemoram a possível saída de Dilma.

Mesmo sem estar convicta de que Michel Temer seja uma solução para a situação política brasileira, a aposentada Margareth Rocha diz que quer contribuir para um movimento forte das pessoas que comungam da opinião de que o melhor para o país é que a presidenta saia do cargo. “Me juntei com parentes e amigos para ver de perto esse momento, com pessoas que pensam como eu. Eu não estou confiante no Temer, mas só em tirar o PT do governo, eu já acho que adianta muito”, disse a aposentada, de 62 anos, vestida com camiseta amarela.

O casal Paula Muniz e Fábio Franze também fez questão de acompanhar a votação em frente ao local mais simbólico para a política brasileira, o Congresso Nacional. “Queria ver de perto esse momento inacreditável, que é a saída de um presidente com a ajuda da voz da sociedade, com a pressão da sociedade. A presidente não tem capacidade de governar, não tem capacidade técnica, articulação, não mostra força”, opinou o autônomo, com a bandeira do Brasil pintada no rosto. O casal diz que não espera muito do vice-presidente, que assumirá o cargo de presidente, caso Dilma seja afastada, porém, diz que as sinalizações iniciais de mudanças do novo governo são positivas.

Rito

Após a manifestação dos senadores – cada um pode falar por 15 minutos – , o relator do parecer sobre o processo de impeachment, Antonio Anastasia (PSDB-MG), favorável à admissibilidade, também vai falar por 15 minutos. Em seguida, o advogado-geral da União, José Eduardo Cardozo vai falar em defesa a Dilma.

Orientação de bancada

Os líderes partidários não farão o tradicional encaminhamento de votações por se tratar de um julgamento, e não da aprovação de propostas.

Votação

Os senadores votarão no painel eletrônico do Senado e não vão justificar o voto nem falarão antes de votar. Cada senador pode votar sim, não ou se abster. Após a conclusão da votação, o painel será aberto e o resultado anunciado.

Afastamento

Se os senadores decidirem pela admissibilidade do processo de impeachment, a presidente Dilma Rousseff deverá ser afastada por 180 dias. O quórum mínimo para votação é de 41 dos 81 senadores (maioria absoluta). Para que o parecer seja aprovado, é necessário o voto da maioria simples dos senadores presentes – metade mais um. O presidente do Senado só vota em caso de empate.