As chuvas retornaram ao Brasil central e às regiões Norte e Nordeste, depois de um segundo semestre de 2023 com o tempo muito seco. Isso provocou os mais diversos efeitos colaterais na agricultura.
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Vale a pena lembrar do episódio do Rio Negro, que registrou a maior seca em 121 anos na região de Manaus (AM) em outubro do ano passdo. Na ocasião, áreas rurais ficaram isoladas e sofreram diversos prejuízos na navegação de embarcações e com dificuldades para o escoamento de produção.
Em 2024, o processo de cheia já alcança os principais rios da Amazônia, que apresentam níveis dentro da normalidade para o período, de acordo com o Serviço Geológico do Brasil.
Chuvas no Centro-Oeste
A chuva também voltou ao Centro-Oeste, colaborando com as lavouras que foram plantadas mais tarde justamente por causa da falta de umidade, que trouxe impactos na produtividade de Mato Grosso, maior estado produtor de grãos do Brasil. Segundo a Aprosoja-MT, nesta temporada, a produção de soja pode ter 7 milhões de toneladas a menos em comparação com a safra passada, devido às adversidades climáticas.
Em Goiás, o governo chegou a decretar situação de emergência em 25 cidades. O documento vale por 180 dias, sob a justificativa de que a estiagem afetou a agricultura e pecuária dos municípios. No entanto, atualmente a seca é pontual, visto que mais de 80% do estado registrou 300 milímetros de chuva nos últimos 30 dias.
“É o caso de Jataí, no sudoeste de Goiás, onde choveu 304 milímetros. Já um pouco mais ao norte dessa cidade, em Paraúna, a chuva ficou em torno de 20 milímetros apenas no último mês”, diz o meteorologista do Canal Rural, Arthur Müller.
Segundo ele, a irregularidade na distribuição das pancadas trouxe um cenário bastante heterogêneo na produtividade local.
A tendência para fevereiro é de chuvas mais volumosas para todo o centro-norte do Brasil. Os volumes devem ser bastante expressivos principalmente no Matopiba, região que engloba áreas do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia.
“O tempo na segunda quinzena de fevereiro vai ser bem generoso para os agricultores do centro-oeste da Bahia, que vão receber mais de 100 milímetros de chuva”, afirma Müller.
Uma das característica do fenômeno El Nino em curso é justamente deixar mais escassas as pancadas de chuva em todo o Centro-Oeste e na metade norte do Brasil. Nesta semana, dados da Administração Oceânica e Atmosférica Nacional (NOAA) do último trimestre atualizados esta semana, confirmaram o fenômeno como “Super El Niño”.
A média da temperatura da superfície do mar, chamada de TSM pelos meteorologistas, chegou a 2 °C de anomalia nos meses de novembro, dezembro e janeiro. “O último super El Niño aconteceu em 2016, mas naquele ano a anomalia foi ainda maior no mesmo período: 2,6°C”, diz o meteorologista.
Segundo ele, é importante deixar claro que o cálculo é feito pelo trimestre móvel e que não necessariamente representa uma crescente que possa preocupar ainda mais o produtor rural, afinal o fenômeno está em enfraquecimento.
“Além disso, existem outros fenômenos como a Oscilação Madden-Julian que interferem no El Niño em curso provocando um efeito diferenciado na distribuição das chuvas mesmo com a influência do El Niño. É justamente por isso que vimos as pancadas retornarem para a metade norte do Brasil, com a atuação de Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS) durante o mês de janeiro”, informa Arthur Müller.
Todos os fenômenos acabam sofrendo interferência de outros e o clima não é linear. A maior prova disso é a estiagem que agora afeta o Rio Grande do Sul juntamente com as altas temperaturas, mesmo depois de meses chuvosos e cheios de transtornos provocados pelo El Niño no ano passado.
Para o Sul do Brasil, existe a expectativa da chegada de uma frente fria no fim desta semana, que vai trazer chuva forte principalmente para a metade sul do Rio Grande do Sul, amenizando o calorão que está sendo registrado nesta semana.